SEGUNDO CAPÍTULO

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— Eu não saio desse quarto nem por um Stacker Triplo com Coca-Cola e batata frita — eu respondi passado o susto, pausando "Someone Like You" no player do iTunes.

— Não é exatamente uma questão de escolha — ela, com os seus braços fortes de jogadora de handball, delicadamente colocou o meu laptop na cama e me empurrou até que eu caísse do outro lado. — Ou você sai comigo e com o Rodrigo hoje à noite, ou eu juro por Deus que eu quebro esse laptop em um milhão de pedacinhos.

— Acho que o meu pai não vai ficar muito feliz com isso, ele me comprou o laptop de presente de aniversário e nem acabou de pagar ainda — eu me levantei, massageando o cotovelo que havia atingido o chão. — Você sabe como são essas promoções relâmpago, a pessoa fica até a terceira idade pagando um aparelho que vai ser ultrapassado no mês seguinte da compra por outro melhor, maior, mais bonito e mais caro. Não acho que você vai querer magoar o tio Jonas, você sabe como ele gosta de você e...

— Isadora Mônaco! — ela me cortou, parecendo irritada com o meu monólogo. — Eu não aguento mais te ver dentro desse quarto fuçando o Facebook do seu ex-namorado, e nem tente me dizer que não é isso o que você faz todos os dias aqui dentro! — ela completou às pressas, quando eu abri a boca para me defender. — Não sei se você reparou, mas quatro meses já se passaram, ele já está em outra, aliás, ele já está transando com outra há muito tempo, e você continua aqui, se afogando nas próprias lágrimas amargas e solitárias. Acha mesmo que ele merece tudo isso? Querida, você merece alguém que tenha, no mínimo, um emprego fixo e uma renda mensal!

— Ele tem uma banda! — eu bradei.

— Uma banda e uma nova namorada — ela jogou uma toalha que até então eu não reparei que estava segurando em cima de mim. — Vá tomar um banho, você está fedendo a fritura e a desespero.

Eu obedeci a minha prima, não porque pretendia sair aquela noite, mas porque eu estava mesmo fedendo a fritura e a desespero. E a um pouquinho de Cheetos também. Porém, quando eu saí do banheiro minutos depois e enchi o quarto de vapor quente e cheiroso, todas as minhas roupas estavam em cima da cama e Marina segurava um secador de cabelos com cara de poucos amigos.

Eu até entendia a revolta dela; Marina nunca havia gostado de Lucas. Desde o início, ela sempre dizia que ele não era bom o suficiente para mim. Eu nunca dei ouvidos, porque a minha prima, apesar de compartilhar a mesma idade, sempre foi muito mais responsável e madura do que eu, então eu acreditava que era só a sua chatice de "você precisa se focar mais nas suas notas e esquecer um pouco dos garotos" falando mais alto. No final das contas, ela estava certa desde o começo. Ainda assim, para o meu alívio, ela não havia dito nenhum "eu te avisei", em nenhum momento após a nossa separação. E aquele era um dos muitos motivos pelos quais eu a amava como uma irmã.

— Eu não quero sair, Ma — eu resmunguei, sentando-me ao seu lado.

— E eu não quero a minha linda prima desperdiçando a sua juventude e beleza dentro do quarto só porque foi traída por um babaca que não sabia escrever uma frase completa sem assassinar a língua portuguesa — ela estendeu um vestido preto e justo na minha direção. — Agora, coloque esse que diz "estou disponível, mas não desesperada" e vamos secar essa sua linda cabeleira castanha.

Apesar de dividirmos os mesmos genes, éramos completamente diferentes na aparência, eu e Marina. Ela havia puxado o seu pai, cunhado da minha mãe e meu tio, com lindos fios acobreados e lisos e imensos olhos cor de mel, os lábios cheios e o nariz arrebitado na ponta. Uns 10cm mais baixa do que eu e com a pele dourada naturalmente, a minha prima era o sonho de consumo de todos os garotos do colégio que frequentamos quando mais jovens. Porém, para o azar de todos eles, ela colocou na cabeça teimosa que só namoraria quando entrasse na faculdade. E foi o que ela fez, escolhendo Rodrigo a dedo na primeira semana de aula, dentre todos os outros engenheiros químicos da sua sala – ela me confidenciou mais tarde que 1) escolheu tão rápido assim porque ela o achava estupidamente bonito e divertido e porque todos aqueles hormônios reprimidos estavam deixando-a com medo de se transformar em um cachorro não castrado que transa com qualquer coisa que vê pela frente e 2) ela reconhecia a estupidez que havia sido a sua regra de "absolutamente nenhum garoto" durante os anos do colégio, já que ela se viu no primeiro ano da faculdade sem saber nada sobre relacionamentos, ou sobre como se comportar com os garotos, ou ainda o que ela deveria fazer quando Rodrigo começava a roçar a sua braguilha contra a dela; felizmente, o namorado da minha prima também era um iniciante na arte do amor (para não dizer completamente lesado), e os dois conseguiram lidar muito bem com as dificuldades e eram o casal mais adoravelmente esquisito que eu conhecia.

Os 12 Signos de ValentinaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora