O céu chora

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A primeira coisa que pensei quando o vi foi: Que cabelo legal.

Era aquele tipo de cabelo que parece que foi desarrumado na frente do espelho, aquele tipo que diz "é, eu acordo sexy assim, lide com isso sua pobre mortal que acorda toda babada e cheia de remela". Ele tinha esse tipo de cabelo, que era tão legal quanto os seus óculos escuros e sua camiseta com estampa do Tarantino, quando ele entrou no meu estúdio acompanhado de uma senhora de expressão apreensiva. Eu só notei que ele era diferente quando ele se aproximou do meu balcão e tirou os óculos.

O olho esquerdo dele ficava levemente mais fechado do que o direito, mas ele tinha sobrancelhas grossas que davam uma boa moldura para aqueles olhos, sua pele era branca e seus lábios se repuxavam um pouco para baixo, como se ele estivesse fazendo uma careta para o melhor amigo de forma sutil para que ninguém mais percebesse.

- Bom dia. Você é a Katherine? – Sua voz era arrastada e extremamente pausada, mas ele sorria quando falava. Um sorriso alegre que pendia mais para o lado direito do seu rosto.

- Em carne, osso, pele e tinta. – Sorri também. – Planeja fazer uma tatuagem?

- Sim. Quero escrever Be Kind e Be brave. Pensei em fazer uma palavra de cada lado. Na parte de trás dos ombros.

- Filho, peça pra ver portfólio dela primeiro. Tudo bem que o Ben te recomendou essa moça, mas isso vai ficar na sua pele pra sempre! – A senhora ao lado interrompeu, ela estava tentando parecer segura de si, mas eu podia apostar a maior grana de que ela estava pensando "Tatuagem é aquele negocio que se aprende fazer dentro da cadeia"

- Mãe! Nosso acordo foi você vir conhecer o estúdio sem julgamentos. Estou decidido. – Ele disse firme.

Eu já estou acostumada com esse tipo de discussão, sou tatuadora profissional há 6 anos, mas treinei a vida inteira com meu pai. Amo minha profissão, amo o estúdio que papai deixou para mim quando ele se foi, não me importa que ainda existam pessoas que não reconhecem que ser um tatuador é ser um artista. Às vezes, eu acho até engraçado ver mães e pais que não gostam de tatuagens, sabe, os pais nunca estão satisfeito! Meu irmão mais velho, o Lucas, sempre morreu de medo de agulhas e tem a pele mais lisinha do que bunda de bebê, pormais que minha mãe ainda tente, sem sucesso, convencê-lo de que uma tatuagem bem pequenininha não vai doer nada!

Peguei meu portfólio e deixei que eles folheassem. A senhora parecia bem mais envolvida no julgamento do meu traço fino do que o seu filho. Ele estava olhando para mim.

- Eu gostei. Das suas rosas. – Eu sorri, as rosas vermelhas tatuadas no meu ombro tinham sido uma das últimas obras do meu pai antes do acidente de carro.

- Obrigada, vai ser a sua primeira tattoo?

- Sim. Estou muito empolgado. Minha mãe nem tanto. Acho que ela não percebeu que o menininho indefeso dela já cresceu. – Ele sorriu.

- Não fale de mim como se eu não estivesse aqui, Roy! – A senhora deu risada. –Marque isso de uma vez então, já que o Benjamin te indicou essa moça ela deve ser boa mesmo, ele tem aquela coisa enorme rabiscada, deve entender disso. – A senhora deu de ombros emsinal de derrota.

- O meu amigo tem um lobo. Mãe. Não uma coisa rabiscada. – Ele riu em resposta.

Fiquei ansiosa para tatuar o filho daquela senhora e mostrar o motivo desse tal Benjamin ter me indicado. Não conseguia me lembrar dele, são muitos clientes, poucas histórias acabam me marcando de verdade, mas tinha certeza que a coisa era um lobo perfeito que nã merecia ser desprezada assim.

- Que eu sou boa eu posso garantir. – Sorri. – Quando quer fazer?

- Amanhã mesmo. – Ele sorriu.

Arranha-céuحيث تعيش القصص. اكتشف الآن