Desembarace

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- Essa é a segunda parte. – Roy sorriu quando chegamos a um sobrado. – A parte de cima é meu estúdio. A de baixo é a casa que eu divido com meu irmão. Bom. Na verdade meu primo. Mas eu considero como irmão.

Desci do carro e o ajudei com os equipamentos dele, um enorme cachorro preto veio nos saudar quando entramos no quintal da casa.

- Hitchcock gostou de você.- Roy disse.

- Hitchcock? – Eu ri. – Ele é uma graça. Qual a raça?

- É um vira lata adotado. Que nem o pai dele. – Ele riu ao responder. Colocou m tripé no chão e abriu a porta da casa, Hitchcock entrou primeiro que nós.

- Calma Hitch! - Ele deixou os equipamentos no sofá e fez carinho no cachorro. – Essa é a sala, Kat. Os quartos e o banheiro são pra lá. E do outro lado é a cozinha. Ta com fome? Quero te mostrar meu estúdio. Podemos pedir uma pizza? O Gabriel meu irmão, é melhor na cozinha do que eu. Mas ele ainda ta trabalhando.

- Tudo bem.

A casa de Roy era bonita, não apreciei muito. Depois que decidimos a pizza, subimos para o seu estúdio, vi algumas das fotos que já estavam prontas, e elas eram lindas. Roy valorizava os tons neutros e diminuía as cores vibrantes, a medida que ele ia me mostrado as fotos e cotando a história de cada um dos modelos eu ficava mais encantada.

Um bombeiro com o peitoral cheio de cicatrizes de queimaduras.

Uma mãe com cicatrizes de cesárea.

Um ex viciado em drogas com marcas de facadas.

Uma mulher com o seio único a mostra. O outro ela havia perdido para o câncer de mama. Eu senti meus olhos encherem de lágrimas quando vi as flores que escondiam as suas cicatrizes da remoção de mama.

- Essa mulher, fui eu quem fez essa tatuagem. Eu me lembro dela. Carla? Clara?

- Carmem. – Roy disse sorrindo. – Ela adorava as flores.

- Sim, ela escolheu margaridas porque lembravam o jardim da casa onde ela cresceu.

- Que mundo pequeno! – Roy riu. Eu continuei olhando as fotos até notar um par de pernas pálidas e esbeltas, cheias de cicatrizes nos joelhos.

- Essas de quem são? – perguntei.

- Minhas. – Ele responde. – São cicatrizes de cirurgias.

- Suas fotos são lindas, a exposição vai ser um sucesso. – Sorri.

- Kat. Eu te mostrei as fotos porque queria pedir algo pra você. Olha. Vou entender perfeitamente se você não quiser. – Ele disse, mais devagar e pausado que o costume, em hesitação.

- Peça.

- Uma vez você me disse que tinha o nome do seu pai tatuado. Eu pensei. Sabe. Essa poderia ser uma ótima foto para a exposição. Uma manifestação artística que mostra um sentimento interno. Mas se você não quiser eu entendo, todos os modelos dessa exposição são voluntários. Eu estou montando as fotos porque me identifico com elas. E não para vender.

- Roy. – Por essa e não esperava, fazer parte daquela exposição? – Seria uma honra. – Sorri.

- Obrigado. Kat! Podemos marcar o dia que você quiser. Por ser na costela, acho que você vai ter de usar um biquíni. Espero que não tenha problema.

- Na verdade, eu tenho uma ideia melhor. – Disse hesitante - Podemos fotografar agora?

Roy estava arrumando a iluminação e o painel de fundo enquanto eu me preparava no banheiro do estúdio. Penteava os cabelos enquanto pensava nas fotos, especialmente a da Carmem. Já que eu faria isso, faria por completo.

Arranha-céuWhere stories live. Discover now