Leena em versões e mentiras

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De fato e direito, "Lie to me Leena" foi sucesso avassalador e contabilizou uma dúzia de gravações só no período de 1954 a 58. Parecia mesmo que Mo' já tocara a campanhia da porta da felicidade. Mo' achava que a ambígua "Leena" seria seu pedestal, elevando-o o à condição de grande autor. No entanto, a canção acabou no sobe-e-desce banal dos elevadores. 

Para seu desgosto profundo, nenhum dos 32 compassos de "Leena" jamais seria executado por qualquer um dos 28 instrumentos da banda de Duke Ellington, nem sequer seria cogitada pelo conjunto de Stan Kenton e a Leena da canção não se deitaria com qualquer um dos músicos "sérios" do panteão desmondeano.

Para seu desgosto profundo, nenhum dos 32 compassos de "Leena" jamais seria executado por qualquer um dos 28 instrumentos da banda de Duke Ellington, nem sequer seria cogitada pelo conjunto de Stan Kenton e a Leena da canção não se deitaria com qu...

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Muito ao contrário: as mentiras de Leena sacudiriam o país de costa a costa por meio dos trinados educados e banais das Chordettes. O quarteto de cantoras-donas-de-casa, desencavadas em Sheboygan, Wisconsin, cantava, ainda por cima, à capella! Isso quer dizer que as delicadas progressões, os contrapontos, a harmonia penosamente compostos por Mo' foram substituídas por vistosos do-waps, chalalás e uu-uus das meninas Chordettes que falavam das obrigações sexuais de Leena com a mesma candura empregada no maior sucesso do grupo, "Lollipop" (cuja letra restringe-se à palavra "pirulito").

No mesmo ano, Patti Page, uma loura fornida de Muskogee, Oklahoma, famosa por cantar "Quanto é aquele cachorrinho na vitrine?" encharcaria a canção de violinos plangentes e desaceleraria o andamento de Leena de "Vivace" para "Morende".

Estranhamente, só um homem gravaria a canção cuja letra obviamente fora escrita na voz masculina. Essa façanha coube a Frankie Lane, que colecionava os apodos de "velho pulmão de couro" e "senhor amígdalas de aço". Próteses metafóricas à parte, Frankie foi o que menos partiu o coração de Desmond, já que tentou ao menos usar um trecho do solo de trompete original — ainda que sob a forma de um odioso scat singing. 

A quinta gravação de "Lie to me Leena" foi a mais exótica (e irritante) de todas: entrou às pressas no LP que Pérez Prado gravava às carreiras para capitalizar o sucesso de seu "Mambo number 5". Nesse caso uma Leena brejeira e caliente teve que rebolar entre congas e maracas enquanto o coro ia de "¡que no me mientas, mi amor!". Ay, ay, ay...

A gravação de Pérez Prado passou batida; a de Frankie Lane tornou-se o bis obrigatório de suas temporadas em Las Vegas; a de Patti Page foi mais longe: embalou os casais adolescentes dos bailes de formatura de 1956 (e "Leena" seria o nome mais popular entre as meninas nascidas no Tenessee em 1957); porém foram as saltitantes Chordettes que desfilaram pela parada de sucessos tempo bastante para garantir a Mo' mais dinheiro do que ele poderia gastar. Desmond não ligava tanto para os dólares, valeu mais para ele mastigar uma migalha de vingança quando viu que, na lista de fim de ano da Billboard, sua canção estava acima de Nat King Cole com sua "Answer me, my love" (porém abaixo da boboca "Papa loves mambo" de Perry Como).

Em 1956 Mo' Desmond era um compositor de sucesso e um músico desconhecido. Um homem rico e um sujeito frustrado. E rancoroso. Dalilah Petite suportou sua companhia (na esperança de propulsar sua carreira) até o quanto pôde e o data e local exatos de ruptura estão bem documentados:

Na noite de 23 de agosto de 1956, em Los Angeles, o casal Desmond-Dalilah foi conhecer aquele crioulo de quem tanta gente falava, um tal de John Coltrane.

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⏰ Last updated: Feb 17, 2016 ⏰

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