Além da compreensão

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Quando boa parte de sua energia eterna era transportada de uma localidade para outra sua consciência também era. A Morte estava no 1º céu assistindo uma reunião com anjos menores, onde eles haviam decidido se manter neutros, assim como os maiores anjos, com relação ao que estava acontecendo na terra, geralmente era apavorador imaginar o poder de Deus, mas imaginar-se lutando com outros dois seres tão poderosos quanto ele era ainda mais aterrorizante. A bela visão daquela dimensão inacessível até para os mais bondosos humanos não durou muito para a Morte, seu chamado na terra havia sido de grande importância naquele instante e ela teve que despertar no corpo jovem que havia criado. Pedro finalmente acordara.

— O que?! Vocês foram atacados por um demônio e o diretor era um anjo?! — Meta explicava as coisas meio que apressado para Pedro, a Morte sem saber como reagir tentava parecer surpresa com algo que era bem previsível para ela. — Calma ai, isso é sério? Não estamos sonhando? — Aquele tipo de pergunta dava um ar de "não estou acreditando" bem maior.

— Sim, sim! Agora deixa de ficar surpreso e tenta nos ajudar a sair dessa situação antes que Iris acorde! — Kael falou apressado olhando pelas janelas da van em que estavam.

Já fazia algum tempo que o ser lá fora havia arrancado a cabeça do motorista, agora Kael e Meta tentavam ver o lado bom e o ruim da situação, se bem que Meta só conseguia ver o lado bom. O medo era bem maior do que na situação do orfanato, enfrentar um demônio em casa ao lado do diretor e rodeado de outras crianças era mais fácil? Não, não era isso, sem dúvidas conseguir ver e entender o que você enfrenta ajuda a superar o medo, mas quando você não vê, não entende e ainda está preso e sem ninguém para lhe proteger, sim, ai tudo mudava. E o frio na barriga era só uma fração do que sentiam, uma fração bem pequena.

— Kael, eu vou lá fora! Tenho que ver o que é isso, não aguento mais, nós não podemos ficar aqui parados! — Meta parecia agir por impulso, provavelmente desistiria da ideia antes de descer da van. Kael o olhou e depois olhou para Pedro que parecia ainda tentar acreditar em tudo que escutara. Ele tinha que traçar algum plano, o medo não podia lhe dominar logo agora.

— Tenho certeza que sem cabeça você não verá nada! Fique ai! A gente tem que pensar melhor em um plano! — Kael falou alto, deixando demonstrar um pouco do seu pavor.

Meta baixou a cabeça, mas não em um sinal de desistência, ele estava pensando, e foi até uma janela, olhou e olhou mas não achou o que procurava.

— Não há casas por perto, nem poderemos correr se sairmos, teremos de enfrentar, só tem um matagal aqui do lado e um gramado do outro, provavelmente deve ser terreno de algum velho bobo, a casa deve ficar um pouco distante, não consigo vê-la daqui.

— Ei, pessoal, calma ai... tipo, vocês estão mesmo falando sério sobre este papo de anjo, demônios e tudo mais? — Pedro falou, saindo do seu transe de ceticismo.

Kael agarrou Pedro pela gola da camisa e o puxou com força.

— Ei cara, calma ai! — Pedro gritou.

— Calma você! Veja isso! Parece algum tipo de piada ou brincadeira para você! — Kael jogou Pedro em cima do corpo do motorista para fazê-lo acreditar, mas ao contrário do que ele imaginou, Pedro não gritou, nem ficou mais assustado, ele apenas se levantou e tentou se limpar.

— Certo, já entendi! Idiota. — Ele assumiu um tom de voz sério e diferente. — conversaremos mais sobre isso depois, agora saiam da van vocês dois, se o demônio quer vocês eu conseguirei proteger a garota adormecida ali.

— Belo plano seu dorminhoco, mas você esqueceu da parte em que eu e Meta temos que nos salvar também! — Kael respondeu.

— Kael tem razão, e alias, o que garante que você vai mesmo conseguir proteger ela? Se separar nunca é uma boa ideia, nem em filmes, nem em desenhos. — Meta falou se aproximando.

A lenda dos trêsWhere stories live. Discover now