Capítulo 7

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Quase três anos se passaram sem que Christopher e Ramona chegassem ao assassino, agora chamado pelo apelido de Ceifador de Anjos, não somente dentro do departamento, mas repetido por vezes pela mídia. A pressão que sofreram pelos casos não solucionados foi demasiado, onde os detetives se empenharam por vários meses a fio na investigação dos
assassinatos de Barbara Tompson e Christine Vonda Carter.
Buscaram insistentemente por pistas que levassem ao Ceifador de Anjos, para tanto, vasculharam detalhadamente a vida de ambas as vítimas, trazendo para novos depoimentos os seus familiares, amigos e conhecidos.
Adentraram também em suas vidas virtuais, onde através das redes sociais em que elas possuíam perfis, procuraram por mais pistas e por suspeitos.
O casal Tompson era bastante reservado, participava apenas de uma rede social, na qual inclusive utilizavam o mesmo perfil, reunindo apenas familiares e amigos próximos.

Em contrapartida, Christine tinha realmente uma vida online, em suas seis redes sociais, nas quais tinha uma média de dois mil contatos adicionados em cada uma delas, além das centenas de fotos de passeios na cabana e diversos comentários sobre a felicidade advinda de sua gestação. Todas as suas postagens podiam ser vistas por qualquer pessoa, mesmo que não

fizesse parte de seu círculo de amizades, ou seja, sem estar adicionado ao seu perfil. Esse fato dificultava ainda mais a investigação. Ainda assim, os detetives viram também os perfis dos pais e do namorado da garota, já com a certeza de que tudo que acontecia em sua vida, não era segredo para ninguém.
De suas redes sociais, chamaram para testemunhar muitas pessoas que julgaram suspeitas ou que pudesse deter qualquer pista sobre o assassino. Não obtiveram sucesso.
Sabiam que os médicos que acompanhavam a saúde e gestação dessas mulheres eram diferentes e que frequentavam clínicas distantes uma da outra, mas a certeza que tinham sobre o Ceifador de Anjos ser um especialista naquilo que fazia, podendo ser qualquer profissional que tenha o conhecimento de certas práticas, aprendidas em várias e diferentes áreas da
medicina, fez com que solicitassem a Jaime Carter o nome de todos do ramo que sabiam sobre a gestação da filha e a localização de sua cabana.
Novamente, os resultados não foram os esperados. Jaime explicou que a gestação da filha e sua aparente tentativa de suicídio o tornou motivo de piada em seu trabalho, todos falavam dele. Consequentemente, centenas de profissionais que passavam diariamente pelo instituto, sendo eles não somente de Los Angeles, mas de todo Estado da Califórnia, ouviram falar dos problemas criados por Christine, mas ainda assim, deu aos detetives algumas dezenas de nomes, assim como os daqueles que atenderam sua filha, quando ela foi hospitalizada após se medicar tentando abortar.
Ramona e Christopher torceram muito para que, se o assassino tivesse qualquer ligação com aquele homem ou com o seu trabalho, seu nome estivesse entre os que lhe foram dados, mas não estava e todos os que foram chamados não tiveram nenhuma dificuldade em apresentar um álibi.
O sentimento de impotência não era apenas sentido pelos dois detetives, mas pelos demais colegas e por seu chefe. Sabiam que em algum momento o assassino deixaria outras pistas, o que só aconteceria com o surgimento de nova vítima.
Em meio a correria do trabalho, os detetives não tinham muito tempo para lamentar ou pensar mais a respeito dos casos que não solucionaram, restando-lhes apenas darem o melhor de si, para solucionarem os constantes casos de homicídios em Los Angeles, que podiam não ser tão estranhos quanto os do Ceifador de Anjos, mas eram tão importantes quanto.
Também não ficaram aguardando o aparecimento de outra vítima, até chegaram a duvidar que aconteceria. Tendo se passado tanto tempo, o assassino poderia estar morto, ter mudado de Los Angeles ou até mesmo estar preso acusado de algum outro crime.
****
Assim como Christopher, Ramona mostrava-se cada vez mais empenhada em seu trabalho, enquanto sua vida conjugal parecia ainda melhor. Embora ela e o marido não chegassem a planejar ou decidir nada ainda, já falavam de um futuro em que teriam crianças correndo pela casa.
A detetive era sempre cuidadosa ao comentar esses seus novos planos com o parceiro e amigo, que fazia de tudo para confortar a sua esposa ao máximo que podia, que mesmo insistindo com o tratamento, não conseguia engravidar. Christopher omitia sua frustração, não por ele mesmo, mas por sua esposa, pois não podia fazer nada para ajudar Olivia e receava aumentar ainda mais o seu sofrimento em não poder ter um bebê.
****
— Bom dia, amor! — disse Vincent no ouvido da esposa, abraçando-a por trás, ambos ainda na cama.
— Hummmm... Bom dia, meu amor! Temos mesmo que levantar? — perguntou virando de frente para ele, fazenda careta, sabendo da resposta.
— Não temos outra saída! — Ele riu, dando um selinho na esposa.
— Humm, então vai lá você tomar seu banho primeiro, depois eu vou — falou pondo a mão na boca, bocejando.
— Está bem, minha bela preguiçosa.
— Não, Vince, não é preguiça não, é só...
— É só que você precisa se preparar mentalmente, eu já sei — interrompeu ele.
— É isso mesmo, amor. Vou ver mais de cem carinhas aflitas hoje, além de ter que ouvir mais de cem vozes e ao mesmo tempo. Preciso de mais alguns minutos para me sentir pronta para isso.
— Lá vou eu então, amor — disse Vincent levantando-se da cama e indo tomar seu banho, que foi bem rápido.
Donna foi para o banho logo que ele saiu e demorou bem mais que ele.
Ela já estava acostumada com a rotina da universidade, onde amava trabalhar. Suas aulas eram sempre no período matutino, embora, por vezes, acabasse lecionando para alguns cursos durante a noite, conforme a carência de professores da instituição de ensino. Estavam em semana de exames, o que fazia com que os universitários que aparentavam não ter interesse pelo curso quererem absorver todo o conteúdo aplicado em meses em questão de dias
ou até mesmo de horas antes das avaliações, bombardeando seus educadores e seus colegas mais participativos sobre as possíveis questões das provas.
Para Donna, os dias de aplicação dos exames, seguidos da apresentação das notas, eram os mais estressantes. O desinteresse por parte de alguns alunos era incômodo a qualquer professor, e as inúmeras súplicas pelo aumento de suas notas sem fazer qualquer esforço para obtê-las, chegava a ser revoltante. Era exatamente para esses dias que ela sentia que
precisava se preparar!
Vincent, por sua vez, como lhe dizia a esposa, lidava diariamente com apenas cinco pessoas, que integravam a sua equipe no hospital. Apenas algumas vezes precisava resolver algo diretamente com seu chefe, Randall Berger, o diretor geral, mas esse nutria por ele afeto em demasia, visto que era um grande amigo da sua mãe, além de não disfarçar sua admiração pelo
biomédico, que continuava se destacando cada vez mais em seu trabalho.
A sua competência se tornou ainda mais notável, quando superando os seus próprios resultados, aperfeiçoou em mais de 60% a fórmula do composto X-16, que para muitos, inclusive para sua equipe, já estava perfeitamente finalizada. Seus feitos e suas orientações eram sempre respeitáveis, de tal forma, que acabou sendo convidado a representar o hospital no exterior, liderando uma pesquisa, o que aconteceria dentro dos próximos anos, mas ainda sem data definida.
O convite foi aceito por ele e bem recebido por Donna, que entendia o quão importante essa viagem seria para a carreira do marido. Sabiam que a duração provável da pesquisa em campo, era de seis meses.
— Vince, estou pronta — disse enquanto descia as escadas.
Ele se levantou do sofá e foi ao seu encontro, estendendo-lhe uma mão.
O casal, cuja rotina começava logo cedo durante a semana, optou por ficarem alguns minutos a mais na cama, juntos, sem que ninguém precisasse se levantar para preparar o café. Como concordaram em não contratar uma empregada, decidiram que comeriam pela manhã em uma cafeteria, que não se limitava à venda de líquidos e que ficava próximo da universidade em que
Donna lecionava. Assim, depois de comerem, Vincent a deixava no trabalho e seguia para o hospital. Para retornar à sua casa, quando não ia de carona com alguma amiga da faculdade, ela pedia um táxi.
A Coffee Drinks era uma das maiores cafeterias de Los Angeles e embora conhecida como cafeteria, mais parecia uma grande padaria, já que servia também diversos salgados e doces. Adentraram o enorme estacionamento daquele estabelecimento e foram fazer seus pedidos.
O grande número de funcionários não permitia que o cliente precisasse aguardar mais que cinco minutos para ser servido, depois de pedir e pagar antecipadamente.
Escolheram uma mesa vazia em um canto do salão. Logo lhes trouxeram o pedido. Donna falava ao marido o que ela esperava de seus alunos naquela semana, enquanto Vincent concordava e sorria. Ela não percebeu os seus olhares, embora tenham sido rápidos, bastante significativos, que ele direcionava a um casal acomodado a umas quatro mesas de distância.
O casal havia chamado a sua atenção, sentiu como se os conhecesse de algum lugar, mas não conseguia se lembrar de onde.
Percebeu que havia certa distância entre aquele homem e aquela mulher, até havia um certo respeito, embora se percebesse alguma familiaridade entre eles, não nos seus traços, que eram muito diferentes, mas pela forma como conversavam. Vincent entendeu que não eram namorados, tampouco casados. Pareciam discutir um assunto importante, talvez falassem
de trabalho. Não demorou para que eles se levantassem e saíssem sem dirigir um olhar para a direção de Donna e do marido.
Ao terminarem de comer, Vincent e Donna seguiram para a entrada do estacionamento, quando foram abordados por uma mulher de aparência desleixada, roupas rasgadas e sujas, com um odor forte, pedindo a eles algum dinheiro.
Donna sorriu para a mulher, que retribuiu com um sorriso muito maior, escancarando seus dentes amarelados, enquanto Vincent tirou da carteira uma nota e lhe entregou, também sorrindo. Ela apanhou rápido e agradeceu, correndo em direção à rua.
Um segurança da cafeteria se aproximou do casal pedindo desculpas pelo incômodo daquela andarilha, ao que responderam não ter nenhum problema. No último ano, essa mulher que perambulava bastante por ali, já havia abordado Vincent e Donna em várias outras ocasiões, nas quais sempre lhe davam algum trocado.
****
Vincent deixou a esposa na universidade e dirigiu até o hospital, onde sua equipe já o esperava no laboratório.
— Bom dia, meninos! — cumprimentou interrompendo o falatório que tomava conta do local, fazendo parecer que haviam mais pessoas do que somente os cinco biomédicos presentes.
— Bom dia, Vince! — responderam quase que em coro, uns sorriram e outros gesticularam com as mãos, mas continuaram falando como antes.
— Qual a razão de todo esse caos? — perguntou tirando o casaco e pondo o seu jaleco branco.
— Sua expedição fora do país! — respondeu Jhoe, sério.
— Ei, chefe, é verdade que a equipe vai aumentar? — perguntou Bernard, curioso.
— Ouvimos falar que serão contratados mais gente para as pesquisas aqui — disse Dominique.
— Vai ter demissão, Vince? — perguntou preocupada Katherine, receando ser dispensada por ser a mais recente contratada.
— Claro que não, Kathe, se nossa equipe vai estar fora, é preciso que fique outra aqui, não é óbvio? — respondeu Nathan.
— Como assim se nossa equipe vai estar fora? Até onde sei, o único convidado foi o chefe, não sonha, Nathan! — Gargalhou Jhoe, mais com a intenção de sacaneá-lo do que informá-lo.
— Vamos viajar com você, não é? — perguntou Nathan, olhando para o chefe, ignorando o comentário do colega.
Os questionamentos continuaram, assim como as conclusões precipitadas sobre a viagem. Estavam todos afoitos com a possibilidade de integrarem uma equipe que trabalharia fora, por se tratar de uma oportunidade única em suas carreiras.
Vincent apenas cruzou os braços e ficou olhando-os com atenção, ouvindo com interesse aquela discussão.
Dentre os cinco integrantes de sua equipe, Jhoe Barlow e Dominique Hunter eram os mais antigos, contratados antes mesmo de Vincent.
Jhoe, aos seus trinta e cinco anos, era um homem moreno, corpo bem definido, estatura mediana e fisionomia simpática. Era mais experiente e mais brincalhão que os colegas, além de ser o braço direito de Vincent. Dominique, por sua vez, tem trinta e dois anos, estatura baixa e um corpo bonito, embora os traços do seu rosto não sejam delicados, e sua expressão seja bastante séria, usa sempre um tom maternal em sua voz, sendo sempre a conselheira da equipe, mesmo para conselhos em suas vidas pessoais, o que a tornou muito querida dentro da equipe.
Bernard Foster, um ruivo de olhos verdes, vinte e cinco anos, era pouco mais baixo que Vincent, dono de um corpo malhado, denunciando o quão dedicado era aos seus treinos na academia; e Nathan Huber, vinte e oito anos, corpo robusto e um rosto que aparentava mais idade do que realmente tinha, foram contratados por Vincent logo que ele assumiu a liderança da equipe. Enquanto Katherine Palmer, vinte e seis anos, uma negra de estatura média, silhueta invejável, rosto bonito e cabelos sempre em cachos, foi contratada há pouco mais de um ano, e assim como os colegas, estava desempenhando muito bem em suas funções.
Vincent olhava divertido aquela cena, lembrando de Donna, pensou em filmar aquelas cinco carinhas, que falavam ao mesmo tempo e não entravam em acordo, para mostrar para sua esposa, mas resistiu a esse impulso.
— Já posso falar? Ou vão continuar tentando adivinhar todas essas respostas às suas dúvidas?
Todos calaram e olharam-no, aguardando o que ele iria falar.
— Foi mal, chefe, é que estamos curiosos — disse Bernard.
— E com medo — completou Katherine.
— Tudo bem, pessoal, eu entendo. Vou falar o que sei, mas não quero tumulto. — Todos assentiram. — Randall me disse que daqui um ou dois anos, ainda não se sabe exatamente quando, nosso hospital ficará responsável por uma pesquisa, que também não me foi divulgado o conteúdo, nem mesmo em que país acontecerá. Ele me fez o convite, como já sabem, para orientar a equipe durante a expedição e me deu carta branca para selecionar outros cinco biomédicos para compor o grupo, terei que escolher entre vocês e os novos contratados. Sim, serão contratados novos profissionais, para que o hospital tenha uma equipe aqui enquanto a outra estiver fora — disse olhando Nathan e Jhoe. — E a resposta é "Não, não posso garantir agora que irão todos vocês". — Viu-os atentos e com suas expressões desanimadas. — Pessoal, em um ano ou dois muita coisa pode acontecer, acho que deu para perceberem que nada está decidido ainda, então é cedo para essas discussões.
Por mim, se fosse para agora, iríamos todos com certeza, mas teremos que aguardar, então peço que continuem dando o melhor de vocês, como já estão fazendo, ok? Agora vamos trabalhar? — falou percebendo os sorrisos direcionados a ele, entendeu que se fez compreender. 

Bernard e Dominique, que ainda estavam sem jalecos, os vestiram rapidamente, enquanto Katherine prendeu os cabelos cacheados em um rabo de cavalo.

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