Morro de medo de mim quando estou menstruada
Medo do que vou dizer e a quem vou dizer
Medo de dizer que amo o cara com quem só saí duas vezes
Medo de mandar o chefe comer merda
Medo de desligar o telefone na cara da minha mãe
Medo de envenenar o cachorro do vizinho rouco
Medo de comer até estufar e de fumar até asfixiar
Medo de sair sem o absorvente e o ibuprofeno
Medo de esquecer o tampão lá dentro por oito dias
E de tudo isso
Medo de chorar demais e rir de parecer sem classe
Medo de querer morrer e de continuar a viver
Medo por mim e medo por nós
Medo pela humanidade
Porque posso
Estuprar um homem mal-intencionado
Atear fogo e soltar balão
Vomitar pragas e maldição
Defender o demônio no Templo do Nosso Senhor Seu Deus
Matar o trabalho e sufocar o chefe com o travesseiro
Então eu escrevo
Até meus dedos ficarem dormentes
Até meus olhos se derramarem e borrarem a vista
Até a madrugada silenciar os cães
Até minha bunda ficar quadrada e gelada
Até a tevê sair do ar
Até minhas ideias escaparem de mim
Porque não aguentam ficar do meu lado, menstruada.
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Desconectados
RandomEstamos longe, distantes dos outros e de nós. A vida líquida em forma de minicontos e poemas sujos.