Vida e morte suburbana

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Beirando a linha quente do trem

Não corta o mar

Subúrbio é um só

Um nó

Nosso lar


A tia limpa o suor do corpo

Trabalhador

Pega a Kombi

Tá calor

Falta cobrador

E assoalho

Sobra canção

Ruim

No velho rádio


As crianças se empinam

Pipas

Pobres

Poças

Lama fervente do verão

Correm atrás da meia

Sobem no pé

Mancham a mão de jamelão


Não tem mar no subúrbio

Às vezes tem canhão

Tem poste sem luz

E tem valão

Mas tem cadeira na calçada

Vó varrendo a sacada

Tem cachorro-quente

Podrão


O shopping é a praça

Quente

O balanço quebrado

Pipoca e queijo coalho

Ônibus sem ar-condicionado


A gente ama esse lugar

Do churrasquinho e da van

Particular

Não a escola

Nem a vida alheia

Muito menos a cerveja

Barata

Voadora

Gelada


A gente fria que pensa

Que quer vida melhor

Paga o frete

Paga o preço

Parcelado

Vai prum lugar

Longe do trem

Longe do mar

Da tia

Do jamelão

Do lar

Dentro do condomínio

Não há subúrbio em Jacarepaguá

DesconectadosWhere stories live. Discover now