Parte 2

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Não ouvi nada, mas antes que perdêssemos mais alguém resolvemos a seguir, todos correram com esperança de que fosse mesmo água. Pelo menos uma notícia boa viria bem a calhar nesse momento.

Para nossa alegria total era uma enorme cachoeira, entre os paredões de pedra uma nascente. Todos começaram a rir e pular, era tão bom ver água, mais bom que vê-la era poder bebe-la com a certeza de que não iria acabar.

― Olha pessoal! Frutas. – Alertou Natália.

Fomos até lá, nunca havia visto aquele tipo de fruta, mas estávamos tão famintos que parecíamos ignorar muitos dos perigos evidentes de não conhecer bem aquele lugar e aquelas plantas.

― Será que dá para comer? – Questionou Luiza.

― Não parece ter nada errado com elas. – Complementou Carlos.

― É tão estranho não ter nenhum tipo de animal por aqui, essas frutas estão tão intactas. Talvez não seja uma boa ideia. – Acrescentou Bernardo.

― Eu concordo com o Bernardo, vocês não acham isso estranho? – Iam estava sério, mas os outros não pareciam levar em consideração o alerta dos dois.

― Besteira!

Bruno se aproximou dos arbustos repletos de uma fruta roxa redonda, apanhou uma e mordeu. Todos olharam apreensivos. Natália começou a rir sem parar da ação do rapaz.

― Viram? Não há nada de errado com essa fruta – Ele fez uma pausa para outra mordida – Nossa! Isso realmente é divino.

Marcelo e Carlos também pegaram uma fruta e começaram a comer, à medida que os comentários a favor da fruta aumentaram outros do grupo também começaram a comer. Iam, Bernardo, Lauren e Bruna pareciam ainda desconfiados. Mas quando a fome parecia insuportável se renderam e atacaram os arbustos também. Eu demorei mais, estava observando o comportamento da garota loira que tanto insistiu que entrássemos na mata. Algo parecia tão estanho naquela história toda, entretanto eu não conseguia juntar as peças.

Comi uma fruta, era realmente muito boa. A noite estava caindo e resolvemos acampar ali e continuar assim que amanhecesse. Bernardo fez uma fogueira, acho que ele estava realmente pegando o jeito daquilo. Minha visão começou a ficar turva e vários pensamentos diferentes rondavam minha cabeça. Eu deitei e olhei para o céu, pouco se podia ver entre os galhos das arvores altas, tudo parecia rodar. "Ela não comeu" pensei "Por que não comeu? ". Ao mesmo tempo que todas minhas perguntas lutavam para serem respondidas, algo também me puxava para uma imensidão negra em que nada daquilo importava.

Fechei os olhos e fui transportado para a noite do acidente. Lembro-me que estávamos felizes, meu pai cantarolava em quando guiava o barco. Eu aos meus dez anos de idade pulava de um lado para o outro brincando de pirata. Minha mãe nos olhava com um grande sorriso no rosto, ela parecia tão tranquila, tranquilidade essa que durou pouco.

O mar começou a se agitar e a expressão de meus pais mudou completamente, minha mãe correu e me segurou firme num longo abraço. Vi meu pai descer da cabine e caminhar até a borda, ele parecia hipnotizado. Eu gritei "Papai não! ", mas era tarde, ele havia se jogado no mar. O céu estava escuro, o mar parecia dançar. Minha mãe se virou e gritou o nome do meu pai "Heitor! ", correu até a borda tentando o encontrar, lágrimas escorriam por seu rosto, sua expressão era de confusão.

Minha voz não saía, eu queria ajudar, eu queria salvar meu pai. Minha mãe começou a gritar com o mar, ela se virou para mim e essa foi a última vez que a vi com vida. Em um solavanco brusco ela caiu ao mar. Eu não conseguia me mover, fiz algum esforço e rastejei até a borda do barco, mas eles não estavam mais lá, o mar havia tirado eles de mim. A última coisa que me lembro foi dos pontos brilhantes no mar, pareciam olhos dourados, todavia como poderiam ser?

O Chamado de SirenaWhere stories live. Discover now