S E I S

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     A voz de Angelina fez Harry acordar.    

     — Mas e aí, qual é a sua teoria? — ela perguntou.

     Estavam parados próximos ao Porshe de Jared Norton, tirando as luvas de látex barulhentas que tinham aquele cheiro peculiar parecido com o que Harry suspeitava ser o cheiro da morte. Haviam acabado de tentar achar evidências e provas no carro, mas estavam particularmente insatisfeitos. Por mais que soubessem que Jared tinha relação clara com Sofia Spilman, a morte dele em especial não mostrava nenhuma ligação direta com a morte dela

     — O quê?

     — A sua teoria — ela repetiu. — Sobre o caso.

     — Nenhuma — Harry deu de ombros.

     — Vamos, Harry. Enzo não está aqui, pode falar comigo — instigou a parceira, cúmplice até o último segundo.

     Angelina sabia muito bem como ser convincente, mas o fato era que não havia nada para se convencer ali.

     — Estou falando sério, Angie, não tenho teorias. Parei com isso e agora trabalho do jeito tradicional.

     — Eu te beijaria se não soubesse que está mentindo.

     — Não estou.

     —Se não está mentindo para mim, então está mentindo para si mesmo — suspirou, de repente adotando uma expressão séria e um tom de voz preocupado. — É o melhor detetive da cidade por um motivo, Harry, e não é por trabalhar do jeito tradicional. Não importa o que aconteceu no Caso Ryan, não é culpa sua. Nessa profissão muitas coisas dão erradas, você sabe disso. Não se torture.

     Harry estreitou os olhos. Era ironicamente maravilhoso o modo como tanto Angelina quanto qualquer outra pessoa daquele escritório gostava de lembrá-lo do que tinha ocorrido no Caso Ryan. Não importava quanto tempo já havia se passado ou quantas coisas já haviam acontecido... Sempre acabavam voltando para aquele assunto. Um assunto que Harry não gostava de falar a respeito, por sinal. Quanto mais longe ele ficasse das lembranças sobre o que acontecera naquela noite, quando finalmente solucionaram o Caso Ryan, mais chances ele teria de conseguir proteger a própria sanidade.

     — Andou lendo livros de autoajuda, Angel? — Zombou, notando que o tom sério daquela conversa estava tomando um rumo indesejado. — Precisa melhor os seus discursos.

     Ela entendeu o recado. Conhecia o parceiro bem o suficiente para detectar assuntos delicados, e por mais que soubesse que conversas sobre o Caso Ryan eram necessárias, decidiu seguir em frente com uma risada singela.

     — Eu deveria.

     Harry ficou internamente agradecido por ela ter trocado de assunto.

     — O que acha de darmos uma olhada no apartamento de Sofia? - sugeriu - Como nos velhos tempos.

     Desde o Caso Ryan, os dois pouco trabalharam juntos em outros mistérios. Era sempre como se Enzo buscasse manter aqueles dois parceiros de anos afastados, sempre por segurança, porque ele sabia que a cumplicidade deles era perigosa.

     Angelina sempre apoiava Harry em todas as suas loucuras, e quanto mais apoio ele tinha, mas fundo ele cavava.

     — Ok - Angie concordou— Mas temos que sair sem que Enzo veja.

     Harry White sorriu. Sentiu falta daquilo. Então, sorrateiramente, foi até o carro de Jared Norton e ligou o rádio de novo, vendo o barulho alto distrair todos enquanto ele e Angelina se esquivavam para fora do estacionamento.

Quem Matou Sofia? (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now