Cap 3 - Reflexões

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Londres
7 dias depois...

                     ***
Cait

     O celular não parava de tocar. Será que ele não ia cansar de insistir? "Não adianta, Sam. O que precisamos é de um tempo. "

      Saí do quarto, liguei o som em um playlist aleatória qualquer onde tocava uma música relaxante, me joguei no sofá e tentei me distrair lendo um livro. Mas meu pensamento me traía e  sempre voltava para ele, para nós, para última noite em que nos vimos. Aquela noite tão dolorosa pra mim...

   "Vocês precisam conversar, Caitriona." Uma voz me dizia. Assim como Donal, Tony, Maril, Terry... todos que torciam por nós dois também me diziam..."Eu sei! Mas eu ainda estou tão magoada com ele, droga!" E as lágrimas começaram a rolar sem controle...

     Olhei para o teto. A tarde estava se esvaindo, enchendo com um jogo de cores e sombras as paredes do apart- hotel. Minha cabeça, um turbilhão de emoções confusas...

     Apesar de tantas mentiras, tantos disfarces, tanta pressão, havíamos sido tão felizes até agora. Esses meses de gravações na África do Sul haviam sido tão perfeitos. Ficamos isolados do mundo novamente...no nosso mundo! A equipe sempre nos respeitou. Nunca nos sentimos ameaçados por eles. Podíamos nos abraçar nos intervalos, andar de mãos dadas, dormir no mesmo trailer, sem que precisássemos tomar nenhum cuidado adicional o tempo todo... éramos livres!

Flash Back
16 junho - Último dia de gravação na África do Sul

— Hahahahaha... Pára, Sam! Já estou sem ar... pára! - respirei fundo tentando recuperar o fôlego, quando ele saiu de cima de mim e parou de me fazer cócegas.— O trailer está balançando tanto que vão pensar que estamos fazendo outra coisa...

— Adoro te ver rir assim! Não que se precise fazer muito esforço pra você cair na gargalhada, né? Você é mestra em estragar as cenas . E a propósito, dane-se todo mundo! Esse trailer daqui a pouco vai balançar bem mais... — e, com um sorriso malicioso, subiu novamente em cima de mim, começando a beijar meu pescoço e meu colo, fazendo-me rir de novo. A cama ficando cada vez mais ensopada por estarmos com as roupas encharcadas.

     Mas apesar das risadas, uma coisa me preocupava.
— Olha... Sam, escuta! É sério... Estive pensando... Acho que não devíamos ter postado nosso vídeo na piscina!

— Por que não? —  Deu uma pausa nos beijos e levantou a cabeça  pra perguntar— Eu me divirto horrores com as conclusões e os comentários das fãs... Elas ficam enlouquecidas! Você viu o que um simples patinho de borracha causou?— enterrou a cabeça entre meus seios e começou a rir.

— Você é um meninão mesmo, Sam Heughan!— Disse, afagando seus cabelos, enquanto ele tentava levantar minha blusa molhada  e alcançar meus seios com a boca — Eu também adoro ver o quanto elas torcem pela gente e falam coisas adoráveis... mas você sabe que é arriscado! Sempre que perdemos o controle e nos empolgamos demais nas redes seus RP's aparecem para nos "punir"... — Dessa vez, fiquei séria, empurrei levemente a cabeça dele, sentando e me encostando na cabeceira da cama.

     Ele viu que eu realmente estava preocupada. Encostou-se também na cabeceira ao meu lado e tentou me tranquilizar:

— Não fizemos nada demais, amor! Apenas postamos um vídeo brincando na água... e tinha várias pessoas em volta!  Não podem nos "punir" por isso. — Tocou carinhosamente o rosto dela, tirando uma mecha de cabelo da bochecha — Relaxa, vai... hoje é nosso último dia. Mais tarde tem a festinha de despedida. Vamos tirar essa roupa molhada e aproveitar pra terminar o que eu não pude concluir na piscina... Vem cá...
     E avançou sobre mim com beijos ardentes, enquanto tirava as minhas roupas.

— Concluir? — Disse rindo, quando ele soltou minha boca pra se posicionar melhor entre minhas pernas — Nós não fizemos nada!!

—Bem... Por falta de vontade minha é que não foi! Agora... Chega de conversa. Vem cá, vem...
     Sorri , recebendo-o com prazer.

****

       Talvez o problema tenha sido esse... nos sentirmos à vontade demais. A ponto de perdermos totalmente o medo e avançarmos nas brincadeiras nas redes sociais no mês seguinte mais do que deveríamos, com o Q&A e com nossa viagem de carro ... Até ele ser chamado em Londres pela direção da Starz e pelos PR's dele para uma reunião  uma semana antes da Comic Con...

      Droga! Será que não era o momento de dar um basta nessa situação? Já tenho 37 anos!... Quero sucesso profissisonal como atriz, é claro... mas isso não é tudo! Tenho consciência que já não sou mais tão jovem. Também quero casar, ter uma vida sossegada, ter filhos, quero poder decidir os passos da minha própria vida... quero ser livre novamente!! - Levou as duas mãos cobrindo o rosto, num gesto bem claro de angústia e indecisão.

       Experimentei a liberdade e autonomia cedo, quando saí de casa para ser modelo. Óbvio que tive que seguir regras também, seguir uma rotina, horários rigorosos de trabalho... mas eu ainda era dona da minha vida. E o anos morando sozinha só fortaleceram minha independência, e pioraram meu gênio também.

Deixei a carreira de modelo no tempo certo. Não aguentava mais uma vida vazia, onde só a beleza importava. Resolvi investir em um grande sonho e acreditei que, como atriz, teria a tão almejada liberdade completa: a liberdade para interpretar os mais diversos personagens, com o roteiro que me agradasse...flexibilidade para viajar pelo mundo e começar algum projeto social. Também fazia parte dos meus planos encontrar um cara legal... e curtir um pouco a vida!

       Só que o teatro da vida me pregou uma grande peça... Sempre ouvi dizer que devemos tomar cuidado com o que pedimos, porque pode se tornar realidade. Como há verdade nessas palavras!

        Consegui um bom trabalho, em um país lindo, com um diretor conhecido que poderia me dar visibilidade, com duração inicial de 2 anos, com muitos horários livres que me possibilitaria viajar o mundo... e conheci um cara legal! E com ele veio a paixão.

Ah, Sam! Nossa paixão foi algo tão forte, avassalador... que inicialmente tivemos medo. Só que quando estávamos juntos,  havia sempre aquela harmonia, aquele entendimento...parecia estar tudo tão certo, que decidimos parar de lutar contra o óbvio. E , aos poucos, com a desculpa de protegermos nosso amor, fomos nos envolvendo numa teia de jogos e interesses de tantas pessoas que, quando percebi, me vi aceitando e submetendo-me a  situações  que jamais imaginaria. Sim, por amor. Mas por mim mesma também.

      Às vezes, nem me reconheço. Não sei... Juro que não sei. Acho que cheguei no meu limite... Não consigo me manter mais tão submissa!

     "E se quebrássemos o contrato? Pagássemos a multa milionária e assumíssemos nosso relacionamento?" Não... ele não faria isso. Sam sempre foi muito correto nas suas atitudes, principalmente no âmbito profissional. Eu que sempre fui a geniosa, que não abaixava  a cabeça para qualquer ordem... "E se eu, simplesmente, abandonasse tudo e sumisse por um tempo? Ou para sempre? Poderia voltar para Irlanda, montar algum negócio por lá com a grana que juntei... e dedicar-me aos meus projetos sociais..." Tudo seria tão mais fácil! Mas será que o meu coração permitiria?

      Meu Deus... quantas dúvidas!
Eu precisava de mais um tempo para decidir meu próximo passo. E tudo indicava que meu próximo passo seria sem ele.

      Foi o toque persistente do celular que me despertou de tantas reflexões. Era ele novamente. Decidi, enfim, atender:

— Sam - disse secamente.

— Cait. Por favor, deixa eu subir? Eu não vou sair daqui até conversarmos. Já faz uma semana!

—E?

—Eu também estou chateado com você pela forma como você me tratou aquela noite. E você sabe que não podemos ficar assim. Estamos quase chegando no mês de promoção da série. Teremos que nos encontrar quase todos os dias! Você não pode fugir de mim pra sempre!

   Permaneci em silêncio.

- Cait? Você  está aí?

                               ***

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