Cap 4- Me Perdoa?

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                     ***

     Ao abrir a porta, sua visão apertou meu coração. Ele estava com um rosto horrível, abatido.  Sam nunca soube disfarçar bem quando o assunto era sua vida pessoal. Ele sempre foi muito transparente. Eu o admirava por isso, mas, por outro lado, isso piorava nossa situação porque sempre sinalizava que não estávamos bem.

Ele vestia um jeans claro com  uma blusa branca básica e  sua jaqueta  preta de couro preferida por cima. Seu cabelo estava despenteado, a barba estava um pouco crescida, e em torno de seu olhos cansados haviam olheiras escuras... de noites mal dormidas?
Afastei para o lado e gesticulei com a mão para dentro do apartamento, indicando que ele entrasse. Ao passar por mim, seu cheiro me invadiu de uma forma deliciosamente torturante. Observei que não havia odor de bebida. Que bom! Pensei. Melhor que estivéssemos sóbrios! Evitaríamos dizer coisas que nos machucassem e pudéssemos nos arrepender depois...

Fechei a porta, caminhei até o final da pequena sala e parei próximo à janela, de costas pra ele, olhando para baixo, acompanhando o movimento do tráfego, tão caótico quanto a minha mente nesse momento. Não conseguia encará-lo. Não, antes de dizer tudo o que precisava. Seria doloroso demais.

— Há quanto tempo você estava lá embaixo? — Perguntei, tentando quebrar o silêncio, observando uma placa de neon que acabara de acender no cruzamento.

— Há três horas. Desde a primeira vez que liguei, mas você não me atendeu. Eu...estava decidido a conversar com você. Não estava aguentando mais essa situação.

Pela voz, percebi que ele ainda estava próximo à porta. Ouvi uns passos indecisos. Silêncio. E mais alguns passos.
Ele se aproximou cautelosamente às minhas costas, mantedo uma certa distância, e começou baixinho:

—Caitriona... já passamos por tantas coisas juntos nesses 3 anos...

—Passamos. —Concordei friamente.

—E conseguimos enfrentar todas elas! Nós sempre estivemos juntos nessa! Você pode me explicar o que mudou? — Sua voz transbordava angústia.

Ele tinha razão... desde que decidimos ficar juntos havíamos enfrentado tantas coisas...e sempre juntos! E, rapidamente, um filme passou em minha cabeça:
O início conturbado, onde tínhamos dúvidas sobre nós...Os casos que tivemos à parte; nossas crises de ciúmes, até realmente decidirmos ficar juntos no final de 2014; A pressão que recebemos pra começarmos a mentir sobre nós em 2016, com a insinuaçao de uma namorada; a perda do nosso bebê no final do mesmo ano; a situação difícil em que ele se encontrou no seu aniversário em 2017 e, em apoio, eu mesmo postei uma foto da suposta namorada; bem como em diversas outras vezes em que saímos em defesa um do outro quando queriam nos prejudicar nas redes denegrindo nossa imagem... E, no meio de tudo isso, sempre nos ajudamos no trabalho; vibramos com a felicidade um do outro...com novos projetos; Ele tinha razão... conseguimos passar por tudo... juntos! O que mudou agora, então?

O resto de luminosidade da tarde diminuía rápido. Estávamos quase na penumbra. Mas não tinha ânimo de acender as luzes... Ficamos em silêncio por alguns dolorosos segundos, quebrado apenas por um longo suspiro meu.

— Estou cansada, Sam. De tudo! — Cruzei os braços em torno do meu corpo e abracei-me forte. Tremia, mas não era de frio. — Confesso que jamais imaginei que chegaríamos a esse ponto. Que a fama, algo que tanto almejamos, nos traria tanta dor. Que ela seria nossa liberdade e, ao mesmo tempo, nossa prisão. Você tem razão... éramos tão ingênuos! - E soltei a respiração num jato só, com força, de forma irônica.

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