Prólogo - Just another step until I reach the door

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Stanley Collins caminhava com lentidão na direção da porta do quarto isolado e estéril de Ramona Tyler no andar da UTI. As coisas não andavam nada boas para a garota, sua melhor amiga, mesmo com tão pouco tempo de convívio.

Ele se lembrava de quando havia se mudado para aquela cidade minúscula havia pouco mais de seis meses e para aquele maldito colégio cheio de gente da elite. Para Stan já era difícil o bastante lidar com pessoas de seu próprio status, lidar com aquele povo era simplesmente aterrorizante. Todos zombavam dele por ter uma aparência nada convencional ou que a elite achava aceitável. Ele sempre gostou de se vestir com roupas escuras para passar despercebido pelos grupos com quem ele não queria se misturar, seu estilo era esfarrapado perto do dos outros alunos do colégio.

Stanley havia implorado para os pais para que ele pudesse estudar em uma escola pública como sempre, mas sua mãe se recusou dizendo que uma chance daquelas — ele havia tirado uma bela nota para concorrer à uma bolsa de estudos integral do colégio particular local — não deveria ser desperdiçada, e lá estava ele.

As primeiras semanas foram um inferno para ele. Zombavam da sua forma de falar — ele havia nascido no Texas, e consequentemente guardava o sotaque texano consigo —, de seu jeito de se vestir, riam por no intervalo ele ficar sozinho... Mas então Ramona havia surgido. Ele havia pensado que ela era uma garota transferida como ele, já que não o tratou como os outros na sala de aula.

— Sou Ramona Tyler, mas pode me chamar de Mona! — A garota sorridente, porém pálida, exclamou ao se aproximar na hora do intervalo.

Stan ficou tão surpreso e desconfiado que mal pronunciou uma única palavra até que a garota cruzou os braços e o encarou um tanto enfezada.

— Sabe, geralmente quando alguém se apresenta, a outra pessoa também deve se apresentar...

Stanley olhou ao seu redor, sentia que aquela garota fazia parte de alguma brincadeira sem graça maior e que ele acabaria levando um "cuecão" ou mesmo uma surra se falasse com ela, mas todos os outros apenas encaravam a cena sem realmente dar a mínima, alguns apenas davam risinhos, mas não aparentavam querer implicar ou coisa parecida.

— Não ligue pros babacas — Ramona murmurou ao perceber para onde Stan olhava. — São todos idiotas porque os pais bancam qualquer coisa para eles, mas geralmente são inofensivos. — Ela concluiu com um sorriso. — E então, vai me dizer o seu nome ou vou ter que te chamar de "Hei, garoto" o resto da vida?

Pela primeira vez em semanas Stan gargalhou e então sorriu.

— Stanley Collins. — Murmurou um pouco sem graça.

— Oh, muito prazer. — Ramona sentou-se ao seu lado sem cerimônias. — Sabe, nós, os deslocados temos que juntar forças — ela murmurou como que numa confidência. — Pra nenhum tipo de babaca se meter com a gente. — Falou confiante.

Deslocados? — Stan perguntou observando a garota. Ela definitivamente não se parecia em nada com o que se poderia chamar de "deslocada".

— Ah, bem, não queria te ofender nem nada e...

— Não, não me ofendeu de forma alguma... — Ele se viu apressado em dizer. — É só que... Bem, você não parece se enquadrar na classe de deslocados...

Ela gargalhou parecendo se divertir.

— É difícil ser julgada pelas pessoas se você não dá as caras por tempo suficiente para isso... — Ela disse. E então, aquela memória o trouxe de volta para o presente.

Stanley estava parado fazia alguns segundos em frente à porta da ala de UTI em que Mona estava. Ele não havia percebido antes, mas sua mais nova melhor amiga estava passando por um momento difícil. Ela tinha leucemia. 

Cante Até Eu Dormir ✔️Where stories live. Discover now