Capítulo 6

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Conforme prometido, Annabelle acordou cedo no dia seguinte e foi até o hotel fazenda. Ao chegar lá, notou uma movimentação no galpão onde o material de construção é armazenado, mas não viu ninguém com as características descritas por Helena. Como não tinha nada pra fazer, decidiu andar a cavalo para distrair a cabeça. Pegou o Mangalarga Marchador de pelagem negra chamado Zimbabu — presente do pai em seu aniversário de dezoito anos, logo depois de ter perdido a pampa Crioula do Recanto — , selou o animal e montou, seguindo em direção à saída do Recanto das Orquídeas. Notou que o cavalo estava meio agitado quando montou, mas mesmo assim seguiu seu rumo.


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Daniel chegava para mais um dia de trabalho no hotel fazenda Recanto das Orquídeas. A manhã de segunda-feira estava fria por volta das 08h; os termômetros marcavam 04°C e o dia seria longo. A reforma do hotel avançava, mas ainda havia muito trabalho a ser feito. Por ser uma construção muito antiga, surgiram vários problemas com os quais não contavam e tudo indicava que demoraria bem mais que o previsto pra entregar a obra concluída. Vinha tão distraído ouvindo John Mayer que não viu quando uma garota surgiu na sua frente, montada num cavalo negro. O cavalo se espantou com o veículo e empinou, fazendo com que Daniel tomasse um susto e tirasse as mãos do volante por alguns instantes.


Crash - Foi o barulho que se ouviu a seguir.


A Ford Ranger preta, que terminava de fazer a curva, oscilou e bateu em uma árvore à beira do barranco. O estrago teria sido maior que apenas alguns amassados na parte da frente se Daniel não estivesse em uma velocidade baixa e se não tivesse conseguido frear a tempo. Tomado pelo susto e sentindo o coração bater acelerado, o rapaz ficou um tempo dentro do carro, tentando controlar a respiração. Enquanto isso, Annabelle dominou o animal e o amarrou à cerca que ficava na beira da estrada. Ao se aproximar do veículo, pôde ver que o motorista estava consciente.


— Você tá bem? — perguntou, se debruçando na janela do lado do carona, que se encontrava aberta.

— O que você acha? — respondeu, ríspido.

— Ei, calma aí. Pode parar com a grosseria. Só queria ajudar.

— O que você tem na cabeça, garota? Aparecer do nada, no meio da estrada e sem controle do cavalo?

— Se você não percebeu, tá na estrada que dá pra uma fazenda. É a coisa mais natural do mundo encontrar pessoas andando a cavalo por aqui.

— Não a essa hora do dia.

— Pois saiba que não tem hora pra isso. Além do mais, eu não fazia ideia de que ia encontrar você aqui, muito menos que o Zimbabu ia se assustar.

— E agora, como é que a gente faz? — Daniel perguntou, saindo do carro e olhando a parte da frente amassada.

— Não sei, ué. A culpa não foi minha se você se assustou e bateu na árvore.

— Como não? Eu só bati porque o seu cavalo empinou. Se você não tivesse andando com ele em plenas 08h da manhã, o que me parece uma hora bem estranha pra uma patricinha estar acordada, nada disso teria acontecido.

— Escuta aqui, cara, você não me conhece pra dizer se eu sou ou não uma patricinha. — disse, apontando o dedo na cara dele. — Se você fez merda e tá estressadinho, o problema é seu. Eu só parei pra saber se você tá legal, mas pelo visto, tá ótimo, né?

Entre Cavalos e Números (Em Pausa)Where stories live. Discover now