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"Heartbreak is the national anthem

We sing it proudly"

Eve e Caleb não brigavam há duas semanas. Não, não estavam mil amores um com o outro, mas estavam bem. De um jeito que dava para conviver e, acima de tudo, que fez Eve ficar milagrosamente menos rabugenta. A conversa que haviam tido tinha feito muito bem para ela, afinal, guardar rancor de alguém por sete anos pode fazer muito mal ao coração. Algo me dizia que era questão de tempo até que ela cedesse ao que sentia por ele e daí para frente seria só alegria.

O que estava de certa forma me incomodando era que faltava um dia para Henry voltar para Nova York para fazer o fechamento do documentário. Eu sabia que seria difícil ficar longe dele, por mais que não estivéssemos namorando ou nada do tipo, Henry era a melhor pessoa do mundo. A minha pessoa. E embora eu não fosse chegada em despedidas, sabia que tinha que fazer algo especial para que tudo terminasse com chave de ouro. Peguei meu celular e enviei uma mensagem para ele:

"Esteja aqui às nove. Use chinelos."

Ele demorou três minutos para responder.

"Devo ter medo?"

Sorri para a tela e, sem responder nada, comecei a me arrumar.

***

— Posso saber para onde vamos? — Ele disse enquanto eu balançava as chaves do carro velho e empoeirado, mas muito amado, de Eve.

— Quando chegar lá, você vai ver. — Pisquei e comecei o trajeto que nos levaria até o...

— La Bamba? — Henry perguntou incrédulo ao me ver estacionar em frente ao restaurante mexicano. O mesmo em que havíamos tido nosso primeiro encontro anos atrás.

— Vamos fazer dar certo dessa vez. Prometo não ficar pensando no seu pé achatado pelo chinelo. — Sorri e ele me beijou terno e calmo, como quem agradece por um carinho.

Dessa vez, nada foi esquisito. A comida, claro, me incomodou. Mas acabei me esforçando para encontrar algo sem pimenta e tudo deu certo. Eu estava feliz, ele estava feliz e naquela noite o mundo inteiro parecia estar feliz.

— Vou sentir saudades — eu disse, buscando sua mão livre e entrelaçando nossos dedos. — Não queria que você fosse.

— Annie, eu quero que você saiba que os últimos dois meses foram os meses mais felizes da minha vida. Eu encontrei em você uma amiga, parceira, excelente profissional e, acima de tudo, uma mulher incrível. Deus sabe o quanto me arrependo de não ter visto tudo isso cinco anos atrás. — Ele fez uma pausa e olhou a nossa volta, enquanto brincava com os meus dedos em cima da mesa. — Tudo acontece por uma razão e eu sei que você não entrou na minha vida por acaso. Amanhã eu vou embora e eu sei que vai doer em nós dois, mas eu acho que essa é a nossa vida. E penso que de certa forma sempre vou encontrar o caminho de volta para você.

Por dentro, pude sentir cada órgão meu se retorcer e o coração quase explodir ao ouvir aquelas palavras. O elo entre a gente tinha se tornado forte o bastante para que as despedidas não trouxessem apenas tristeza, mas sim a certeza de algo muito maior que tudo isso.

Algumas horas depois, estávamos no apartamento dele. Dessa vez, sem vontades estranhas, sem interrupções, sem ar condicionado. Foi natural, intenso e aconteceu da forma mais apaixonada possível. O gosto da despedida em nossos lábios e o cheiro de saudade em nosso suor só me fazia ter certeza de que não haveria no mundo alguém capaz de me fazer esquecer Henry Hopkins.

Ele acabou pegando no sono antes de mim e, com a cabeça recostada em seu peito, me concentrei pela última vez em sua respiração calma. Repassei na memória cada momento que vivi com ele desde que nos conhecemos. As idas, as vindas, os encontros e os desencontros. Suas palavras voltaram a ecoar pela minha cabeça antes que eu fechasse os olhos.

"De certa forma sempre vou encontrar o caminho de volta para você."

— De certa forma meu caminho sempre me leva de volta a você também, Henry.

"The best people in life are free"

FIM.

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