Prólogo: Pessoas Perfeitas

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21 de Setembro de 2017


Era o último jogo do campeonato.
Os Dragões Vermelhos estavam empatados em 54 pontos com os Touros.
As líderes de torcida agitavam frenéticas seus pompons vermelho e branco, nossas cores oficiais.
Brianna e eu estávamos em um bom lugar na arquibancada, visão privilegiada do jogo. Vestíamos as cores do time, eu usando um casaco vermelho e blusa branca, já Brianna com um tênis vermelho, para ela isso era o máximo que poderia fazer pelos Dragões Vermelhos, e já era muito.
— Quanto tá? — perguntou sem tirar os olhos do celular.
Não precisei olhar o placar acima da quadra para responder.
— Estão empatados em 54 pontos. — No instante que fechei a boca os Touros marcaram mais dois pontos.
— Corrigindo: 56 a 54 para os Touros.
— Putz — ela aproximou o celular da boca enquanto falava. — Estamos perdendo, amor. Que decepção.
Bri namorava a distância há uns três meses com o Peter, ele no norte do país e ela e no interior de SP. Eu queria muito que eles dessem certo, mas algo me dizia que o romance deles estava com os dias contados.
Voltei minha atenção a quadra a tempo de ver Liam, meu irmão e um dos pivôs do time marcar mais dois pontos. Levantei gritando:
— Isso aí, Payne!
Brianna apenas me olhou revirando os olhos enquanto digitava freneticamente ao celular.
Voltei a sentar enquanto meu coração batia a mil por hora, o cronômetro acima do placar anunciava que faltavam menos de cinquenta segundos para o fim do jogo e o medo dos Touros ganharem vantagem era grande.
Mal acabei meu raciocínio e o armador do time adversário fez uma cesta de dois pontos, indo a 58 pontos.
— Não acredito — grunhi me pondo de pé novamente nervosa.
— Relaxa, Els, é só um jogo, Liam vai se recuperar. — Nem dei ouvidos a Brianna, ela odiava vir aos jogos e só topou estar aqui hoje porque o Peter tinha uma jantar de família e não ia rolar Skype até depois das 23h. Mas não fez diferença alguma, pois ela não parava de falar com ele de todo jeito.
Cruzei os braços sentido um mal pressentimento. Meus olhos corriam ávidos pelo cronômetro, que marcava trinta segundos, indo rapidamente a quadra.
— Vamooooooos gente! — gritei o mais alto que podia tentando dar força aos meninos.
Tanto as líderes dos Touros quanto as nossas começaram suas danças de torcida levantando ainda mais o ânimo da arquibancada.
Os garotos não mereciam perder mais um campeonato seguido, não quando tinham feito uma ótima campanha nesse ano. O troféu merecia ser deles, seria injusto demais o segundo lugar.
Faltando vinte segundos para o fim, Harry conseguiu um rebote e saiu a toda para o lado da cesta dos Touros e lançou a bola para Zayn, armador e capitão do time, que a enterrou na cesta se segurando por segundos no aro.
Eu e a plateia gritamos a pleno pulmões, mas ainda não era a vitória, estávamos perdendo por um ponto e os segundos corriam no cronômetro.
Liam conseguiu um outro rebote faltando apenas dez segundos e a plateia foi ao delírio observando suas mãos hábeis lançarem a bola para Zayn que analisava a quadra com olhos de um armador, localizou Harry próximo a cesta adversária e passou a bola para ele.
Harry a pegou no ar e faltando menos de cinco segundos lançou-a em direção a cesta. A bola lindamente bateu no aro e ficou quicando, no momento que o cronômetro marcou dois segundos ela entrou arrancado o uivo de comemoração da torcida.
Dragões Vermelhos venciam dos Touros por 61 a 58.
Comecei a gritar e assobiar, finalmente Brianna largou o celular e comemorou junto comigo aos pulos.
— Pelo menos não foi uma perda de tempo esse jogo. — Pensei que ela estivesse falando da vitória, mas reparei seus olhos gulosos em cima de Zayn de uma forma predatória. Sorri balançando a cabeça e voltando a olhar para quadra.
Os meninos se abraçavam e logo começaram a jogar Harry para o alto, o dono dos pontos da vitória, comecei a descer os degraus para ir comemorar junto com eles. Meu irmão, meus amigos, meu namorado.
Quando pousei o pé no último degrau o sorriso de alegria estampado no meu rosto foi se apagando lentamente enquanto meus olhos registravam Jenny, a capitã das líderes de torcida dos Dragões se jogar nos braços de Louis, enrolar suas pernas em sua cintura e lhe beijar de uma forma intensa e ser retribuída.
Louis Tomlinson.
Um dos armadores do time.
Um dos melhores amigos do meu irmão.
Meu namorado.
Enquanto a plateia ovacionava essa demonstração de promiscuidade eu só conseguia sentir meu mundo se abrir diante dos meus pés.
— Meu Deus, Els. — Senti a mão gelada de Brianna segurar a minha, tentando me puxar para longe dali, para longe daquela cena asquerosa — vamos embora daqui amiga, vem.
Sua voz era urgente e preocupada, mas eu não conseguia sair do lugar, não conseguia tirar os olhos dos dois. Tudo ao meu redor se apagou, só conseguia enxergar Jenny e Louis. Finalmente eles se soltaram e foi só então que ele me viu e sua expressão foi de choque para uma de desculpas.
E então eu senti minhas pernas novamente e minha visão entrou em foco notando a maioria dos jogadores olhando surpresos para Louis e Jenny, e em seguida me vendo. Liam começou a ir em direção a Louis enquanto eu me deixava ser levada por Brianna para fora.
O ar frio de 18° graus bateu forte contra meu rosto no instante que passei pela porta do ginásio da universidade estadual que estudávamos e que sediava os jogos de basquete.
— Espera Brianna, espera — consegui dizer me soltando dela que me puxava em direção ao seu carro.
Ela parou soltando minha mão e me abraçou forte logo em seguida.
— Vai ficar tudo bem, calma. — Não notei que estava chorando até sentir suas mãos limpando meu rosto.
— O que foi aquilo Bri? — Foi tudo que consegui falar.
Antes mesmo dela responder a porta atrás de nós foi aberta e um Louis com os lábios machucados vinha em minha direção.
Quis correr, mas esperei. Eu precisava ouvir o que ele tinha a dizer. Brianna segurou forte minha mão ficando do meu lado e sussurrou antes dele se aproximar:
— Me dê um sinal e eu chuto ele forte no meio das pernas, só preciso de um sinal.
Os olhos azuis de Louis estavam distantes, culpados e eu soube naquele instante que aquilo não foi um mal entendido.
— Eu sei que nada que eu diga vai mudar o que aconteceu, mas só quero que saiba que simplesmente aconteceu, não foi premeditado. Nos apaixonamos.
— Mas é muita cara de pau mesmo...
Brianna começou a falar, mas a interrompi sem tirar os olhos de Louis:
— Há quanto tempo?
— Tem uns dois meses, eu ia terminar com você, contar tudo, mas nunca era o momento certo. Desculpa. — Sua culpa era risível. Seus argumentos eram dignos de pena.
— Jenny foi mais corajosa que você. As mulheres sempre são na verdade. Adeus, Louis.
E sem dizer mais nada dei meia volta e segui em direção ao carro de Brianna. Ela vinha logo atrás de mim, notei que mantinha os dedos do meio, de ambas as mãos, levantados em direção a Louis o xingando de todos os nomes possíveis.
— Eu sou uma idiota — disse abrindo a porta do carro e entrando.
— Nunca. O idiota é ele por te trocar por aquela ruiva sem sal com peito falso e lábio preenchido com cola. 
Para sair do estacionamento tínhamos que passar em frente ao ginásio e Louis continuava lá parado sem tirar os olhos do carro. De mim.
Não entendia o que ele ainda queria, me humilhar mais? Me fazer trouxa ao nível máximo? Não consegui parar de olhá-lo mesmo com Brianna arrancando o carro para nos tirar de lá o mais rápido possível.
A última imagem que me lembro daquele dia foi de Jenny chegando por trás de Louis e o abraçando. Os olhos dele nunca saíram dos meus até o carro virar na esquina.
Acho que talvez o meu erro fosse ter acredito em algo que nunca existiu. Uma utopia de amor, utopia de garoto perfeito.
Não existe pessoas perfeitas. E seus sonhos viram pó em segundos soprado por pessoas imperfeitas. Foi essa a lição que aprendi naquela noite.

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