Capítulo Um: Não Somos Duas Pessoas Que Se Amam

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27 de Fevereiro de 2018

O RELÓGIO MARCAVA 00h de uma terça-feira que prometia ser agitada e calorenta na pequena cidade universitária de São Valentino, no interior de São Paulo.
Elisa rolou na cama deitando de barriga para cima e fixou o olhar no teto embolorado de seu quarto, no silêncio da noite somente a respiração baixa de Harry podia ser ouvida. Talvez uns grilos irritantes ao longe também, mas só de vez em quando.
- Harry – Elisa chamou sem tirar os olhos do teto. – Harry!
- Hã – ele grunhiu meio dormindo meio acordado.
Estava vestindo apenas uma calça preta de moletom. Sua camisa estava no corpo de Elisa – lhe servindo de pijama – como sempre acontecia quando ele ia dormir no quarto dela.
- Acorda. Precisamos conversar – sua voz era séria e sua expressão não demonstrava nada. O tique-taque do relógio ao lado de sua cama estava lhe tirando do sério, mas no fundo, bem lá no fundo, aquele barulho a acalmava.
- Quê? Uma hora dessas? – ele levantou a cabeça e olhou para o relógio com apenas um olho aberto. – Meu Deus Els, são meia noite, essa conversa não pode esperar até as oito, não?
- Não. Tem que ser agora – Ela sentou olhando para as costas largas do garoto, contou os inúmeros sinais que existiam ali e se controlou para não beijar cada um deles. – Isso precisa acabar. Você e eu.
Dessa vez ele despertou por completo. Sentou-se a frente dela e coçou os olhos vermelhos pelo sono interrompido, em seguida os pousou sobre os castanhos claro de Elisa. A única luz do quarto vinha da lâmpada da rua em frente ao quarto dela. Sua janela estava aberta deixando entrar uma brisa agradável em uma noite tão quente. O verão era uma estação filha da puta até mesmo a noite.
- Como assim? Não tô entendendo, aconteceu alguma coisa? – se estava preocupado não demonstrou. Era disso que Elisa tinha medo, dessa casca que envolvia Harry, a impedindo de ver o que ele realmente sentia.
- Já estamos nisso há cinco meses, tá ficando difícil esconder dos outros, do Liam. Tô cansada – falou a verdade sentindo o peso desses meses todos sair de suas costas. Não aguentava mais aquela situação, por mais que estar com ele fosse uma parte prazerosa no seu dia tão caótico e corrido.
Ele parou para pensar antes de responder, seus cabelos compridos estavam bagunçados e o deixavam com uma aparência desleixada e bonita. Elisa tinha que admitir, ele era lindo de qualquer forma, a qualquer hora do dia.
Seus olhos verdes passaram da cama para os castanhos da garota em segundos quando enfim havia achado uma resposta boa para ambos.
- Podemos namorar como um casal normal. Parar de nos esconder e só ficar juntos como duas pessoas que se amam – ele se aproximou dela e segurou seu rosto com as mãos impedindo que falasse qualquer coisa quando sua boca tocou a sua de forma calma e sensual.
Era difícil resistir a Harry Styles lhe segurando tão possessivamente, lhe beijando de forma tão faminta que tudo você podia fazer era gemer querendo esquecer seu nome e tudo a sua volta.
Mas Elisa sabia ser forte e encerrou o beijo segurando as mãos dele e o afastando devagar.
- Eu não quero namorar, você sabe disso e não somos duas pessoas que se amam. Somos duas pessoas que transam eventualmente há cinco meses.
Se ela esperava ver alguma mágoa no olhar dele ou choque, se decepcionou, pois não houve nem uma, nem outro. Ele apenas sorriu de um jeito ladino e suspirou voltando a deitar.
- Se você tá dizendo. Mas não vejo graça em acabar com isso. Não mesmo – ele a puxou pela mão de forma que seu corpo caiu sobre o seu e um suspiro assustado escapou de seus lábios vermelhos por causa do beijo de instantes.
Ela não se moveu apenas o observou. Os olhos verdes tão enigmáticos e cheios de vida, os lábios também vermelhos e tão cheios de promessas que só de lembrar do que eram capazes fazia um frio subir pela espinha. Os cabelos castanhos e longos, com um cheiro tão único dele. Ele era moldado para ser uma perdição e Elisa estava esgotada de perdições, já bastava ter caído na teia de Louis e sido dilacerada como uma presa fraca e patética. Não deixaria isso ocorrer de novo. Nunca mais.
Correu a unha pela boca dele e sentiu sua respiração quente contra seus dedos. Aproximou os lábios aos dele e o beijou esquecendo completamente o que estavam falando. Ficaria para manhã, ou semana que vem, quem sabe.

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