Prelúdio

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Esse texto é um perigo, esse texto é uma bomba
Que vai explodir na terra cheia de sombra

Esse texto vem da morte, vem de dentro de um caixão
De um falso poeta, de um maldito beberrão

O fantasma dessa lírica, voltou para assombrar
As terras sem poesia, onde a cultura não pode habitar.

Há muito, mataram os poetas e queimaram seus livros.
Há muito as pessoas não sabem o que significa serem livres.

O poema voa como o corvo, com seus gracejos líricos.
Mirado por armas e pessoas com olhos de vidros.

Em seus cérebros roda apenas um programa.
Um discurso que assim declama:

Morte aos poetas e livres pensadores!
Que torturam nossa vida, que trazem todas as dores!

Morte aos antigos e inúteis autores.
Que criaram, como esperado, inúteis leitores.

Basta desse gasto, dessa função sem razão.
Morte a cultura, para o futuro de nossa nação!

E assim a caçada começou à todos os escribas.
Colheram de cada um o ar de vossas vidas.

Primeiro foram os poetas, os mais apaixonados.
Seu talento e criatividade transformaram-nos em amaldiçoados.

Nada puderam fazer aos olhos de vidro.
Foram mortos, e tiveram seus corações partidos.

Pois você não precisa matar o poeta, não é preciso gastar munição.
Basta que dele tire tudo que ele guarda em seu coração.

Não existem poetas em mundo onde não existe o belo.
E assim, lentamente, os poetas sofreram seu flagelo.

Suas mentes atrofiaram, seus corações se congelaram.
Suas mãos esqueceram como se escreve e seus olhos embranqueceram.

Mortos os poetas, os seguintes foram os críticos.
Que viviam no mundo abstrato e eram fúteis no físico.

Os velhos fantasmas foram queimados em grande fogueiras.
Os novos autores foram presos e tirados de suas cadeiras.

O monstro da censura raptou a todos.
Muitos foram mortos, outros, desaparecidos.

Mas sem os críticos, os olhos de vidro podiam pensar.
Em muitas outras coisas que não iriam lhe incomodar.

Pois já que a crítica não existia, o poder era bom.
E era tudo que eles queriam e tudo que sempre terão.

Os únicos que sobraram foram os manuais.
Indolores e sem reflexão para os homens mortais.

Um velho grego um dia disse em sua vida:
A vida sem reflexão não merece ser vivida

Muitos escribas decidiram se matar.
Uma vida sem filosofia não podiam aguentar.

E dessas valas comuns foi de onde eu vim
Um poema incorpóreo, sem começo e sem fim.

Eu vago pela noite, em mentes de homens que dormem,
Que por trás dos olhos de vidro, sonham com textos que morrem.

E nisso, busco alguma casa para mim.
Uma mente onde possa encontrar meu fim.

Mas a poesia e a crítica morreram.
Os homens com olhos de vidro venceram.

E pra mim, resta apenas o mundo onírico
Pois todos os poetas morreram no Apocalipse Lírico.

26/10
Murillo Pocci

Apocalipse LíricoWhere stories live. Discover now