01 • Camisa suada estampada de flamingos

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A brisa marinha estava começando a adentrar minhas narinas, aquele cheiro de maresia que só uma cidade puramente praiana carregava nas costas. O vento bagunçava meus cabelos, eu provavelmente chegaria ao meu destino com um ninho de sabiá na cabeça. Graças ao óculos de sol, meus olhos não estavam secos nem nada. O clima muito quente pedia um ar-condicionado, mas o velho Golzinho que eu dirigia não tinha toda essa coisa de burguês safado, tinha que me virar com todo o ar natural.

Bem, isso e a trupe que estava comigo dentro do carro. Minhas duas irmãs mais novas e minha prima no banco de trás, no carona estava minha avó. No carro da frente, meus pais, meu avô, minha tia e outra prima estavam com o resto das coisas. Eu iria passar o mês de janeiro inteiro na praia de Arembepe. Calor, sol, bagunça, água do mar, piscina, uma casa para relaxar...

E eu odiava tudo isso.

Não que eu fosse como um Grinch sobre o verão, eu era, mas não demonizava toda a coisa de praia/férias/churrascão/piscina, eu só achava a bagunça muito irritante.

"Como se tu fosse organizada, Alexandria!" Eu podia ouvir minha mãe gritando comigo.

Verdade seja dita, eu não era, mas eu gostava da minha bagunça. A dos outros era algo totalmente diferente.

Estávamos quase chegando no condomínio em que minha família havia alugado uma casa, passaríamos o ano novo lá e meus pais ficariam até o carnaval, indo e vindo, já que o interior que eles moravam não era tão longe.

Assim que nossa entrada foi autorizada pelo porteiro, pude visualizar todo o espaço do condomínio. Era uma área um tanto pequena, às casas minúsculas eram composta pelo primeiro andar e térreo, com uma pequena área de grama na frente e uma garagem externa com vaga para um único carro — dois, se você fosse como minha família e só andasse em comboio —. Portas de vidro que com certeza teriam a impressão de minha testa algumas vezes e, quando entrei, uma área de serviço minúscula com um chuveirão e espaço para a máquina de lavar. Talvez um varal.

Tudo bem, eu posso sobreviver a isso.

— Alê! — Mãe me chamou do outro lado da casa.

— Senhora?

— Vem ajudar tua avó!

Suspirei e fui ajudar minha avó a tirar as malas dela do carro. A casa ao lado não tinha nenhum carro, mas pelas cortinas blackouts, provavelmente alguém tinha alugado e não gostava do sol batendo na cara. Bem, somos dois. Peguei as malas e fui levando para dentro, passamos boa parte da tarde arrumando as coisas em baús e guarda-roupas, limpando e tirando poeira de tudo. Quando terminamos, já era mais de cinco horas e eu só queria uma cama, o ventilador na minha cara e um livro pra passar o tempo.

Tomei um banho rápido e coloquei uma roupa bem leve, estávamos na praia e a casa não tinha esse vento todo para que eu me aventurasse numa roupa mais quente. Quando cheguei na cozinha, ouvi um cochicho de minha irmã mais nova, Malu, e minha prima, Nicole.

— ...mas ele é tão lindo! Queria pra mim, ia encher de beijo.

Rolei os olhos, Maria Luiza tinha 14 anos e Nicole tinha 16, às duas estavam naquela fase viciada em macho, que tudo se resumia a atenção excessiva a qualquer coisa do sexo masculino.

— Ala às viciadas em testosterona — Brinquei — Já arranjaram um crush no condomínio?

— Não! — Malu respondeu rápido, me mostrando a tela do telefone — Atrás da gente tem uma casa com um quintal enorme e tem vários cachorros lá, mas olha esse! — Era um filhotinho, tão fofo que realmente dava vontade de encher de beijos. Eu amava filhotes, podia ficar brincando com eles um dia inteiro e nunca me cansaria — Lá do quarto dá pra ver.

O sol já tinha começado a se pôr quando eu parei na janela do quarto pra tentar ver os cachorros. Eles estavam escondidos do outro lado do quintal, era uma grande área com muitas árvores e um galinheiro que devia ser maior que a casa que eu estava. Fiquei com medo de tentar chamar e acabar atraindo os donos dos cachorros.

Virei para chamar Malu do lado de dentro quando vi o que não estava esperando.

A varanda da casa ao lado tinha um conjunto de mesas de plástico e uma daquelas cadeiras brancas que você vê geralmente em bar. Não era nada demais, se um homem não estivesse com o pinto de fora em uma delas.

Não só com a banana descascada, como se tocando também.

Isso aí, batendo uma. Na porra da casa ao lado.

Engoli em seco no exato momento que me deixei observar sua ereção. Ele era grande, grosso. Os dedos eram longos e pareciam tão... Bonitos? O braço que estava se movimentando era fechado de tatuagens. Não era magro e nem forte demais, aquele meio termo delicioso que tira qualquer um do sério. Sua bermuda estava aberta, assim como sua blusa branca com flamingos estampados. Me dava uma visão maravilhosa da barriga levemente definida.

Seus olhos apertavam de acordo com a velocidade dos movimentos. Sua mão estava ficando mais rápida e eu estava tão vidrada na cena que nem percebi que o orgasmo dele estava chegando. Um jato branco voou de seu pau e foi parar não sei onde, mas isso não me fez sair.

Não.

A cena do meu mais novo vizinho batendo uma punheta foi tão interessante que eu esqueci do mais importante: eu podia vê-lo do mesmo jeito que ele podia me ver.

Então ele abriu os olhos e, como se soubesse que tinha uma pervertida na janela ao lado olhando para seu pinto, o vizinho virou o rosto lentamente em minha direção e não esboçou reação nenhuma.

E então, sem nem saber o que eu estava fazendo, acenei.

Isso mesmo, dei a porra de um tchauzinho pra ele!

Fechei a janela com tanta vontade que quase prendi meu cabelo e bati a testa nela. Isso não era real. Não podia ser. Eu não podia ser tão idiota a esse ponto.

Podia?

(07.01.2019)
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