02 • Flower Boy tipo Tyler, gracinha

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Minha cabeça doía feito o inferno.

Às pessoas podiam achar que eu estava exagerando, mas não, a ressaca era real. Me escondi debaixo dos lençóis na medida que aquele calor infernal permitia.

Três de janeiro, estou há quatro dias sem internet boa e água escassa, esqueci minha chapinha em casa. A selva tá cada dia mais difícil.

Dramas a parte, não queria voltar pra casa tão cedo. Eu gostava da paz que às pessoas transmitiam umas com às outras quando elas não queriam fazer nada além de comer, foder e cagar.

Se bem que, quando se está de férias no calor do Nordeste, você incluiria tomar banho várias vezes ao dia nessa lista. Mas isso não era uma opção de minha lista atual. Bem, isso e foder à vontade. Porque em primeiro lugar, eu não tinha um namorado, pau amigo e muito menos alguém interessado em me comer. Meu vibrador tinha ficado na minha casa, porque eu tinha certeza que meus pais iam mexer na minha bolsa e iriam achar. Foi dito e certo, assim que eu dei às costas, minha mãe arrumou tudo que estava na minha mala. Já pensou, a véia tá lá mexendo nas roupinhas da filha que ela chora só de pensar que mora sozinha e acha um vibrador em formato de pinto?

Falando em pinto...

O vizinho ainda atormentava meus sonhos. Claro que, eu acordava suada únicamente por causa do clima. O ventilador não pegava muito e por eu ser um pouco mais gorda que minhas irmãs, eu tinha que dormir sozinha na cama.

Olhei uma única vez na tarde do dia primeiro para tentar ver se ele estava lá mais uma vez, mas acho que minha invasão de privacidade o afetou. Também não vi mais movimento algum em sua casa, não tinha carro nem moto na frente. Às cortinas blackouts tiravam totalmente a oportunidade de espiar.

Isso mesmo. Além de pervertida, eu tinha virado stalker.

— Alê, vamo almoçar! — Minha avó gritou e se eu respirasse com mais força, conseguia sentir o cheiro da carne assada. Ah, eu queria muito ser vegana. Juro de verdade. Mas caramba, porque não tem um brócolis com gosto de calabresa? Uma cenoura com gosto daquele franguinho assado? Peço desculpa para os bichinhos toda vez que coloco um animal na minha boca.

Gargalhei com meu próprio pensamento e Nic me olhou como se eu fosse uma doida rindo sozinha, soltei um beijo e fingi que não estava sendo julgada.

Eu morava em Salvador tinha três anos, me mudei com 17 e alguns pontinhos faltando para completar 18 anos. Meus pais moravam no interior e eu fazia faculdade na UFBA, então eu tive que me mudar para longe deles. O primeiro ano foi terrível, ser dona de casa era uma merda. Morar sozinha não era aquilo que você vê nos filmes e sonha.

Você bagunça tudo e quando chega, ainda tá lá. Se você fica doente, foda-se, você vai continuar doente. A louça não se lava sozinha e a comida não vai ficar pronta se você encará-la durante duas horas. Mas tem seu lado bom. Você dorme até a hora que quiser no sábado. Também pode andar de calcinha pela casa e tomar café deitada no chão como veio ao mundo: pelada, chorando e sem saber o que tava acontecendo com sua vida.

Era meu hobby favorito.

Claro que, também tem a melhor parte: levar quem você quiser e não ter que dar satisfação.

No primeiro ano, eu tinha acabado de sair de um relacionamento de dois anos. Não me julgue ao começar a namorar com 15 anos e perder a melhor parte de minha adolescência, eu queria transar dentro de casa sem ter que explicar para meus pais que eu não sentia absolutamente nada além de tesão pelo meu namorado. Foi um período difícil, o fim não foi exatamente agradável.

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