5° DIA - 2 Histórias e Escritores

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Titulo: Cativeiro

Autora: Rozemar Messias

 - @RozzMessias

Léo ouvia os uivos de Bernardo ao longe, apenas gemidos, lamentos de dor e agonia. Ele aumentou a velocidade com que corriam, as patas da frente batiam com força no chão, mas as patas traseiras, mal tocavam a terra, as árvores passando como pequenos borrões, ficando para trás.

A clareira estava escura, apenas um quarto minguante da lua, brilhando fraco no imenso céu, mas ele enxergava tudo ao redor e sentia Ângela próxima a ele, os pensamentos dela se misturando com os dele.

Finalmente chegaram ao velho casebre que parecia pender para o lado direito, como se pudesse cair a qualquer momento. Ele não pensou, derrubou a velha porta com o próprio corpo, e depois foi uma confusão tremenda. Uma flecha passou por ele, acertando a barriga da loba de pelos ruivos, Ângela. Léo pulou na mão do atirador, mordendo o pescoço dele, que caiu ao chão, morto. Mais alguns lobos entraram em seguida, Léo não saberia dizer quem era quem.

Lobos e caçadores se embrenharam em uma batalha, rolando juntos pelo chão de madeira, que não aguentou e afundou, levando alguns lutadores para baixo do casebre. O porão era ainda pior do que a parte de cima da casa, teias de aranha, panos velhos fedendo bolor, caixas de papelão e madeira amontoadas.

Léo seguiu se desviando daquela baderna, pois a única coisa que importava naquele momento era seu amigo Bernardo. Encontrou-o em sua forma humana, fechado em uma grande caixa de madeira e vidro, o corpo magro despido, a respiração difícil, as feridas abertas sangrando, gotas que se espalhavam no chão daquele caixote horrendo.

Abaixo da gaiola de vidro, havia inúmeras embalagens de remédios e seringas, deixando claro que Bernardo era alvo de experimentos científicos. Em uma mesa próxima dali havia tubos de ensaio com sangue, urina, fezes e algumas placas de vidro com diversas substâncias diferentes. Por toda a volta tinha panos e toalhas pendurados em varais ou jogados no chão.

Ângela entrou, perdendo sua forma lupina e surgindo humana, sendo possível ver a ferida em seu abdômen. Ela não parecia se importar logo se colocou ao lado de Léo que também deixou sua forma de lobo e juntos conseguiram abrir a jaula, retirando Bernardo de sua prisão. Léo seguiu para fora com ele nos braços, Ângela se amparando neles conforme se distanciavam da casa e ela ia perdendo sangue.

A batalha seguiu até o pôr do sol,

quando o último caçador respirou pela

derradeira vez. Lá na casa branca, Bernardo finalmente dormia sob efeito de medicação e soro. Ângela tinha a ferida quase cicatrizada e os demais cuidavam uns dos outros, não apenas das feridas do corpo, mas das feridas abertas na alma.

 Ângela tinha a ferida quase cicatrizada e os demais cuidavam uns dos outros, não apenas das feridas do corpo, mas das feridas abertas na alma

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Titulo: Ponte para o Paraíso

Autor: Felipe Teixeira - @DonPadrinho97


_Minha nossa, conta logo e para de fazer drama!

_ Que eu me sinto triste.

_ HÃ? Como assim? Você é bem popular. Os garotos te adoram por tua personalidade e tal..

_ É falso! eu me sinto um objeto e minha tristeza vai aumentando cada dia mais. Sinto-me que estou numa caixa de vidro pequena, não conseguindo respirar e têm um pote de vidro, que aos poucos vai tendo seu líquido derramado e esse líquido é minha vida passando. Tudo está parando ao meu redor e as pessoas não olham mais pra mim.

_ E aquele sorriso aberto que você esbanja todo o dia?

_ Mais falso que nota de um real vendido no Paraguai.

_ Mas... Por quê você tá falando tudo isso pra mim?

_ Eu sinto que você me entende, Johnny.

_ Aquela contração perto dos beiços, os olhos focados para o nada e as mãos trêmulas. Ela com certeza não tá mentindo.

_ Sei lá se consigo. Se quiser pode me falar o que tá te causando tanta tristeza.

_ Sério? Não vai contar pra ninguém da sala?

_ Aqueles filhos da puta não querem saber de mim, então fica tranquila.

_ Até tentei fazer ela dar uma risadinha, só que não adiantou porra nenhuma. Estava pegando no couro dela a situação. Não sei se vale a pena colocar no papel o que ela me disse, porque foi umas coisas meio pesadas, do tipo pesadas mesmo! As coisas envolvendo escolas são fichinhas perto do que ela me disse, mas também longe de ser um filme do Hitchcock. É melhor aos poucos, mostrar para vocês, até porque, como já diziam "mostre, mas não conte", né?

_ Eu já sabia que a vida não era uma coisa fácil para todos, só que sentir outro contando sobre seus problemas é muito diferente cara. Até tentei me passar de engraçado ou de tentar amenizar o que estava acontecendo, mas ainda continua sendo do difícil.

_Essa de se sentir numa caixa de vidro é o mesmo que sinto. E tudo que ela falou fez sentido. Quando ela falou do mundo parado... Nossa! Tão eu! Na real, acredito que á grande parte das pessoas ao meu redor estão nessa situação. É uma doença.

_ Porém, existe uma parte interessante que quero mostrar pra vocês da conversa e talvez isso, mais do que nunca, reforça meu argumento.

_ Ok, depois de tudo que você me falou, porque, por exemplo, você continua a falar com esses filhotes de playboy da escola? Afinal, como você perguntou bem no início se contaria essa história para eles?

_ Porque o que aconteceu com você vai acontecer comigo! Numa boa, eu te acho bem corajoso por tudo o que passa. Isso aqui é uma selva!

_ Dá bem uma olhada nessa última frase dela. Mais do que nunca, a raça humana é uma bosta. A menina tem medo do grupo dominante e de que aconteça com ela o que aconteceu comigo. Só que ainda consigo ter um suporte psicológico com tudo isso. Já ela não. Por isso, que aqui é uma selva, cada um sobrevive do jeito que dá.

Antologia 3Where stories live. Discover now