Parte 1 - Alevantú

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— Gilso, eu vô te matar, peste! Cadê tu?

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— Gilso, eu vô te matar, peste! Cadê tu?

Oxe. Tô em casa.

— Pois aprume que eu tô aqui, já.

Não vai dar, Malu, mainha pediu pr'eu ficar com Jurema.

— Tu tais frescando com a minha cara, é?

Tô não, ome. Tu malda tudo.

— E Miguelzin, cadê?

Sei não.

— Pois saiba.

Ah, pronto.

— Gilso, eu tô falano sério, quando eu te vir tu tais lascado, num tem Ave Maria que tu reze. — Gilson, do outro lado da linha, provavelmente podia escutar a zoada de gente e a música tocando nas caixas de som um pouco distantes, antes que a banda começasse. — A gente combinou faz dois meses isso, ome.

Eu sei, Malu, eu juro que queria ir, ma- — Neste lado da linha, Malu sentia o cheiro do Churrasco do Gordo pingar gordura no carvão crepitando.

— Isso foi ideia tua, Gilso, tu que é assim ó, com Dominguinho de seu Manel. — Do outro lado da linha, Gilson sabia que Malu estava esfregando os dedos indicadores lado a lado.

Tu acha que eu não preferia tá aí? Se eu soubesse de Miguelzin, eu falava com ele pra ficar com Jurema, mas mainha não pode e painho ainda não voltou de São José, tem só eu aqui. — Neste lado da linha, Malu se perguntava se havia levado dinheiro suficiente pra comprar todos os corações de galinha que estavam na grelha da barraca do Gordo naquela hora.

— As presepada que tu me faz fazer, Gilso. — Do outro lado da linha, Gilson ligava a televisão. — Quem vai ser meu par agora? Só o que me faltava eu ter que dançar com a peneira. Deixe, viu. Pois deixe.

Malu havia ido à capital retrançar o cabelo três dias antes.

Deixe de invenção, Malu, que tu sabe que se tu estalar os dedo aparece metade de Extremoz pra dançar com tu. — Neste lado da linha, Malu batia incessantemente o pé no chão de barro vermelho entre as estradinhas de paralelepípedos da Praça da Matriz, que, há alguns dias, estava parcialmente coberta de lama por causa das chuvas dessa época do ano.

— Rai te lascar. — Do outro lado da linha, Gilson, sentado no sofá de tecido marrom, esticava os pés sujos sobre a almofada florida da cadeira de metal branco que havia puxado da mesa de jantar do lado, sabendo que Malu devia ter passado toda a ligação de braços cruzados e batendo o pé no chão. — Tu num tá mentino pra sair com macho não, né?

Tu acha? Queria, visse.

— Olha, Gilso, se tu tiver mentino...

Mas eu num tô, praga do cão. Tu quer que eu passe pra Jurema? — Neste lado da linha, Malu escutou Gilson chamar Jurema, a irmã mais nova, de 6 anos, que era a mãe, dona Cida, cagada e cuspida. — Cidinha, vem cá!

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