Capítulo 63½

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Ele arrastou o óculos para cima, fazendo com que ficasse rente ao nariz. O cabelo que batia na altura do pescoço, loiro escuro, estava puxado para trás, enquanto, atraído pela sinopse que lia no verso do livro, não percebia que eu o observava atônita.

Meus olhos não conseguiam desviar, enquanto dali, de longe, camuflada pela enorme estante empanturrada de livros, tudo o que eu conseguia fazer era encará-lo com bastante certezas, quase sentindo a vibração que percorria o meu corpo inteiro, em expectativa, causar um grande terremoto.

Eu podia quase ouvir o som do repórter sobressaindo-se a qualquer outro ruído ou conversa que estivesse presente no ambiente.

O corpo da adolescente Maribel Pires Boyle, de dezoito anos, foi encontrado na noite passada cheio de marcas roxas, deixado dentro de uma lata de lixo no centro da cidade. Ainda não se tem muita informação sobre o caso. A família não sabe o que a garota poderia ter ido fazer por lá aquela hora da noite. A suspeita é  de que ela teria ido se encontrar com alguém, provavelmente com algum namorado escondido. O corpo foi levado para ser analisado pela perícia. Quando tivermos mais informação, voltamos a falar sobre.” 

Então tudo voltou, como uma música irritante que gruda em nossa mente e se repete.

De repente, eu estava parada diante à cena do crime, enquanto afagava o cabelo de Marjorie Pires Campos, sua mãe, que chorava torridamente, inconformada. Abigail Campos, sua filha mais nova, fruto de seu casamento mais recente, permanecia grudada em suas pernas, assustada e sem entender o que acontecia.

Eu sentia o mundo caindo sobre as minhas costas, desmoronando feito uma sequência de dominós perfeitamente alinhados.

Havia o som de sirenes ressoando, os carros dos repórteres sedentos pela matéria que reverberaria durante muito tempo nos jornais e os curiosos, atentos e vorazes, esperando por alguma resposta, afoitos e sedentos.

Eu via claramente o rosto de Denis, um de meus melhores amigos, fitando a cena em horror, acompanhado de seus pais, que abraçavam-se em expectativas.

 Voltei  a realidade novamente. Ele largara o livro e estava com outro em mãos.

Vou matá-lo, pensei. Vou matá-lo, vou matá-lo, vou matá-lo! 

Vamos matá-lo!

Eu olhei para o lado e Maribel estava segurando a minha mão.

Não Confie - Os Monstros São Reais [versão Antiga!]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora