UM

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um ano atrás

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um ano atrás

Eu respirava fundo enquanto limpava o chão do bar onde trabalhava, esfregando o piso fortemente enquanto tentava dispersar a dor que estava sentindo em seus braços, tornando-os moles e fazendo-os queimar. ́Já passavam das seis horas da manhã e isso significava que dali a quinze minutos meu turno acabaria, finalmente, porque eu já não aguentava mais. Minha mente, vagando e indo direto para a rotina normal que voltava depois de férias bem-vindas na faculdade, me lembrava que aquele era o último ano na universidade. O que era bom. Em breve, eu estaria formada. Isso me enchia de um sentimento de tranquilidade.

Bom dia!

Eu ouviu a voz de Darla Matos, minha melhor amiga de faculdade, ecoando pelo estabelecimento vazio. Estamos quase fechando e apenas à tarde abririamos novamente, indo até de manhã. Às vezes, quando saía cedo da faculdade ou quando não ficava fazendo trabalhos e estudando na biblioteca, eu fazia horas extras, como uma forma de ajudar a minha mãe com o aluguel ou a pagar a moça que cuidava do seu irmão mais novo, já que ambas passavamos o dia fora de casa.

— Bom dia só se for para você. — encarei a minha amiga com os cabelos impecáveis e a roupa bem passada, um grande contraste com o meu cabelo que estava bagunçado no topo da cabeça por que sequer tive tempo de arrumá-lo de manhã, já que eu estava no bar desde a noite e ainda não tinha dormido. Eu só dormiria depois das aulas, acordando às dez para começar meu turno no bar. — Ainda não dormi, você sabe... E hoje começam as aulas, finalmente!

Darla bateu os cílios com extensão teatralmente, meneando a cabeça.

— Você devia beber isso. — Ela pôs um copo enorme de café preto e forte perto de mim, que não me demorei em apanhar o mesmo e dar um longo gole, queimando a ponta da minha língua. Murmurei um "obrigada" e Darla ofereceu a mim um sorriso em resposta. — Não acredito que estamos mesmo próximas a nós formarmos!

— Também não acredito! — exclamei, me lembrando que todos os apertos que havia passado durante aqueles anos finalmente valeriam a pena.

Eu mantinha meia bolsa de estudos em uma universidade renomada. Sem ela, não conseguiria me manter com o salário trabalhando no bar. O dinheiro que recebia mal dava para pagar o restante do valor da faculdade e os trabalhos que tinha que fazer. Por isso, sempre que podia, fazia horas extras nos fins de semana. Era o que me salvava e permitia que permanecesse estudando.

Ah, Ayla, tenho certeza que esse ano vai ser bom para nós duas! Vamos conseguir bons estágios e tirar notas excelentes, além de ir a muitas festas, claro. — Darla recitou, convicta. Seus olhos se iluminando com a última afirmação.

Eu sorri para ela.

Nós tinhamos nos conhecido no início da faculdade. Eu, desengonçada e assustada naquele momento, com tanta coisa acontecendo de uma vez só em minha vida, não parecia ter nenhum interesse em se aproximar das garotas de narizes empinados que estavam na mesma sala que eu. Todavia, quando Darla se aproximou de mim durante o intervalo de alguns aulas, as coisas ficaram melhores.

De início eu não deixei muito que a garota estilosa se aproximasse o suficiente. Contudo, com o passar do tempo, fomos se conhecendo cada vez mais e tornamo-nos grandes amigas.

Eu cursava literatura. Darla, moda, o que causava uma grande guerra fria na casa dos Matos. Diferentemente de mim, ela tinha uma boa condição financeira. Seus pais eram donos de um grande rede de hoteis.

O Sr. e a Sra. Matos queriam que Darla assumisse seus negócios. Ela, por outro lado, estava mais empenhada em desenhar lindos vestidos, sonhando com o dia em que veria-os em vitrines badaladas. Isso os irritava consideravelmente.

Darla possuía um plano para depois que se formasse: criar sua própria marca. Eu, diferentemente, ainda não tinha grandes planos além me focava desde que adentrou a faculdade: conseguir se formar. Aquilo parecia para ela o suficiente. Pelo menos por enquanto.

— Aqui, eu trouxe para você. — a loira estendeu na direção da amiga uma sacola.

— Darla, não precisa, sabe disso. — Eu falei, sabendo do que se tratava.

Fazia algum tempo desde que ela vinha trazendo meu café da manhã, principalmente porque o meu turno, depois que mudou para a madrugada, sendo antes apenas das seis da tarde às onze da noite, não me permitia ter as refeições reguladas. Eu acabava comendo qualquer coisa dentro do carro com a amiga.

Até que Darla passou a trazer meu café da manhã, porque, segundo ela, sempre sobrava muita comida todo dia no café da manhã e não lhe era incômodo algum trazer para a melhor amiga. Eu já achava que minha amiga vim buscar-me todos os dias era abuso o suficiente e aquilo ultrapassava a gentileza. Mas se eu não aceitasse, a loira ficaria tão insistente que, de qualquer forma, teria que aceitar.

— Mas obrigada! — completei, rindo em direção a loira. 

Olhou para o relógio. Tic-tac. Seis horas e quinze minutos. Era o fim do meu turno. Pelo menos aquele dia minhas horas extras seriam pagas em dobro.

Darla olhou para o relógio e, sem querer dar tempo para que eu pensasse demais, arrastou-a para longe.

— Vamos! A gente vai se atrasar para a aula. Você come no carro.

Eu fui arrastada sem que pudesse protestar, conseguindo capturar o embrulho com minha comida e as chaves para fechar o estabelecimento antes que minha amiga me puxasse para longe do balcão e para fora do bar.

Eu fui arrastada sem que pudesse protestar, conseguindo capturar o embrulho com minha comida e as chaves para fechar o estabelecimento antes que minha amiga me puxasse para longe do balcão e para fora do bar

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