DOIS

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um ano antes

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um ano antes

Eu podia ouvir os sussuros. As risadinhas das rodinhas entre conversas e o burburinho que se formava entre os grupos dos alunos. Todavia, não sabia do que se tratava, embora, enquanto entrava no prédio, eu tenha tentado captar alguma informação.

Segui para a primeira aula. O mesmo professor do ano passado. Um senhor de idade que falava demais e que sempre passava provas sobre temas que não haviam dado ainda.

No intervalo, me encontrei com Darla na lanchonete da universidade. Ambas nós sentamos para tomar café e comer alguns doces. Darla reclamou que seu professor era um narcisista de merda e eu ria quando minha amiga o imitava. Então, contei sobre as duas primeiras aulas que tive.

Darla fez careta. A simples menção sobre o professor Wells a deixando em um estado de espírito nenhum pouco bom.

— Não sei como você aguenta! — Darla articulou, pegando seu celular e digitando algumas coisas nele.

— Nem eu mesma sei! — afirmei, mordendo meu doce.

— Cris me enviou uma foto dos meninos se preparando para a festa de hoje. — Darla articulou, deixando que eu visualizasse a imagem do cara loiro e de sorriso largo junto aos seus amigos.

Cris e os amigos não tinham comparecido as aulas, o que deixou Darla meio tristonha, notei. No entanto, a loira ainda se mantinha alegre. Ela relatou que estava muito ansiosa com o início do ano letivo e que precisava se esforçar muito se desejasse mesmo ter sua marca.

Eu a apoiava em tudo, ouvindo-a por horas à fio quando necessário. Às vezes minha amiga me encontrava no bar. Enquanto eu servia algumas pessoas, Darla fazia-me companhia, com uma bebida doce entre os dedos e assuntos diversos que ela sempre parecia ter.

Quando a loira seguia junto comigo depois das aulas para o bar, eu me sentia melhor. Darla fazia o meu dia ser sempre mais divertido e eu até esquecia dos problemas que pareciam rondar minha vida insistentemente, tornando-se cada vez mais intensos e ainda maiores.

— Ah, minha nossa, quase esqueci! — Darla exclamou, largando o celular em cima da mesa, próximo ao seu prato vazio e sujo de bolo de chocolate. — Você está com ainda mais sorte esse ano! Já ficou sabendo?

Eu franzi o cenho. Sorte? Tal palavra quase tirava um sorriso zombeteiro de meus lábios, porque eu acreditava que podia ter qualquer outra coisa na vida, mas sorte não era uma delas.

— Do que está falando? — questionei realmente sem entendê-la.

— Você não ouviu os burburinhos? — Darla apontou. — O professor novo.

A loira estreitou os olhos, como se para ter certeza de que eu não sabia realmente sobre nenhum boato sobre o professor gostoso que tinha entrado para a universidade.

— Ouvi cochichos, mas não tinha a menor ideia sobre o que falavam! — fui sincera. — Que professor? E o que ele tem de tão especial?

Eu enfiei um pedaço do seu bolo minha boca e quando Darla soltou um gritinbo dizendo "O quê? Você não sabe mesmo?" Eu quase me engasguei, e necessitei tomar alguns goles de meu cappuccino para fazer com que os farelos de bolo descessem pela minha garganta.

— Eu não o vi. — ela começou. Sua empolgação ganhando cada vez mais notoriedade. 

Eu sabia, apenas encarando-a e observando o quão ela se mantinha agitada, que aquele seria um dos momentos em que Darla Matos fala sem parar, sem dar chance para alguém interrompê-la. Geralmente ela só para quando está quase sem ar.

— Livia disse que ele é uma delícia! — deu um olhar significativo e cheio de malícia a mim, o que provocou em mim um riso contido. — Você tem sorte! Ele vai ser seu professor. Ensina literatura.

Eu fico surpresa. Um professor gato dando-lhe aula? Novidade!

— Então ele terá que concorrer com Tavares pela atenção das alunas. — eu afirmei, o que provou uma careta em minha amiga. — O quê? Apesar de, muitas vezes, ser chato, Tavares tem seu charme! — dou de ombros.

— Você não é tão boa assim contando piadas. — Darla tenta me irritar. 

Mas eu apenas abro um sorriso largo em direção a minha amiga, levando outro pedaço generoso de bolo à boca.

***

Nas aulas seguintes, o tempo passou bem rápido. Diferentemente das aulas com Tavares, aquelas foram bem melhores e a nova professora, ministrando-as, era bem mais didática e extrovertida do que o homem ranzinza.

Eu sentia-me bem mais à vontade na aula da professora Samantha. A jovem mulher — aparentando não ser tão mais velha que ela —, falava com paixão. Aquilo trazia uma sensação boa até mim.

Quando tinha a oportunidade de me deparar com professores que aparentavam de fato amar seu trabalho, eu me perguntava se seguir tal destino seria, quem sabe, uma boa ideia.

Eu não sabia bem o que desejava fazer, mas ansiava por algo a mais: aquilo que me fizesse me sentir plena, convicta e apaixonada. Talvez aquele fosse um desejo bobo. Um daqueles sonhos juvenis que crescem no fundo da alma e que, com o passar do tempo, se desvanece. Quem sabe?

Eu poderia trabalhar em uma editora, o que me era bem mais atraente. Ah, tantas opções! Por qual motivo alguém tão jovem devia ter que formular algo tão importante?

Eu nem percebi quando o homem elegante cruzou a sala. Olhos de garotas fixados sobre ele. Navegava no mundo de meus próprios sonhos, perdida entre bisbilhotar em outra porta da sua mente — onde havia outra oportunidade que poderia seguir —, ou simplesmente esquecer as opções e seguir em linha reta, dando-me o direito a se permitir.

Olá a todos.

Foi quando o homem derrubou o apagador e as moças soltaram risinhos ao seu lado que eu despertei, desprendendo-me de minha mente afoita e voltando para a realidade, onde, notei, havia um homem desconhecido.

Lindo. Foi o primeiro pensamento que cruzou a minha mente ao visualizá-lo. Um sorriso tímido repuxando o canto da sua boca quando ele, envergonhado, abaixou-se para apanhá-lo, murmurando um pedido de "desculpas" quase inaudível.

Ele era alto. Olhos verdes e cabelo castanho bem penteado para trás. Havia um óculos arredondado preso em sua blusa. Ele o colocou no rosto. Rubye pode ouvir suspiros.

— Eu sou o senhor Dante Cantenilha. — se apresentou, o que fez as garotas cochicharem ainda mais. — É um prazer conhecê-los! Eu espero que possamos nos entender bem e trabalharmos em conjunto.

— Senhor Cantenilha. — Adeline, uma garota charmosa, murmurou o nome dele com certa intensidade exagerada, oferecendo-lhe um sorriso divertido. — O senhor poderia me informar uma coisa?

— Claro. — O senhor Dante Cantwnilha disse animado.

Adeline alargou ainda mais o seu sorriso:

— O senhor é casado ou tem namorada?

Primeiramente, Dante Cantenilha mostrou-se surpreso. Ele pôs as mãos nos bolsos da calça. Provavelmente um ato que mostrava ansiedade. Eu senti por ele. Aquilo que a garota fazia era uma espécie de assédio. No entanto, ele recuperou-se rapidamente.

— Não que isso seja importante, senhorita. — sibilou: — Mas não, não estou comprometido.

As meninas soltaram risinhos e burburinhos aprovando. Ele deu início a aula, seus olhos perpassando por todos os alunos. Talvez fosse a minha mente pregando-me peças, mas eu achei que pôde ver algo.

Os olhos dele, ao enfitá-me, se demoraram um pouco mais do que no restante dos alunos ou alunas. Isso me intrigou. 

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beijos,

Trixxie

TIC-TACWhere stories live. Discover now