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Bruna Martins

          Chego em casa e só escuto um bando de gritos me chamando, ainda achei que era o cansaço me fazendo escutar coisa, mas mesmo assim eu ainda olho para trás e vejo só um bando de retardados no bar da dona Rosana, ala, em plena quarta-feira esse povo bebendo, e pelo o que tô vendo aqui, eles estão aí não é de agora, a mesa cheia de garrafa de cerveja, algumas porções espalhadas pela mesa e mais algumas coisas atoa pela mesa.

Eu: rapaz, tá certo isso?- pergunto me aproximando deles.

LK: bora tomar uma, amanhã tu tá de folga que eu já tô ligado na sua escala- fala e eu dou risada negando com a cabeça.

Eu: mas eu estou cansada e preciso de um banho- falo e olho bem a mesa- e esse cigarro aqui? Rapaz, eu não criei vocês mau assim não, tudo uns marmanjos de quase quarenta anos na cara, fumando cigarro- falo segurando o maço de cigarros em mãos.

G3: isso ae é do Lobão- fala e eu dou de ombros jogando o cigarro na mesa.

Eu: eu vou tomar o meu banho e vou dormir, boa noite meus amores- falo já indo pronta para ir para casa.

G3: toma e banho e vem beber com a gente Brunão- fala e eu nego com a cabeça.

Eu: nada vida, vou dormir, sexta a gente bebe, eu vou pegar o plantão do dia e sábado e domingo eu não trabalho- falo e eles confirmam com a cabeça.

G3: você que sabe Brunão- fala e eu confirmo com a cabeça.

         Me despeço deles e sigo para casa já indo entrando de uma vez, eu estou morta, agora que o Lobão aumentou o postinho e transformou ele em um pronto socorro, o movimento não para de jeito nenhum, aí quem se lasca? Os médicos e enfermeiros do hospital, quer dizer, todos que trabalham no hospital, recepção, limpeza, todos.

         Não que eu esteja reclamando, longe de mim, eu amo o que eu faço, estou recebendo muito mais do que recebia quando trabalhava no hospital no centro, o mesmo que meu pai morreu e o mesmo que eu dei a luz a minha filha sem vida, trabalho na mesma escala doze por trinta e seis, folgo os finais de semana, o que não é algo comum em escalas 12x36, mas diz o diretor que foi uma exigência feita, e além de tudo, o mais importante de tudo isso, eu trabalho no hospital que leva o nome da minha filha, da minha anjinha.

          Enfim, subo direto para o banheiro e largo a minha bolsa no chão, no canto do banheiro mesmo, deixo as minhas roupas no cesto de roupas sujas e já entro embaixo do chuveiro, a única coisa que eu preciso agora é um banho, um longo e gostoso banho quente.

        Saio do banheiro com a toalha enrolada no meu corpo, pego a minha bolsa no chão e sigo para o meu quarto, jogo a bolsa na poltrona do quarto e já pego o celular mandando mensagem para o contato da pizzaria, uma pizza não vai cair nada mal no dia de hoje.

           Quando eles confirmam o pedido eu deixo o celular em cima da cama, vou até o meu guarda-roupa e já trato de passar os meus produtos corporais, visto um conjunto vermelho da Calvin Klein, uma calça de moletom preta da Nike e nos meus pés apenas o meu chinelo de sempre.

           Quando eles confirmam o pedido eu deixo o celular em cima da cama, vou até o meu guarda-roupa e já trato de passar os meus produtos corporais, visto um conjunto vermelho da Calvin Klein, uma calça de moletom preta da Nike e nos meus pés...

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        Passo perfume, desodorante e arrumo o meu cabelo num coque meio desengonçado, devolvo a minha toalha para o banheiro

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        Passo perfume, desodorante e arrumo o meu cabelo num coque meio desengonçado, devolvo a minha toalha para o banheiro.

         Hoje o dia foi longo, muito longo, mas nada que eu não dê conta, nada que eu já não esteja acostumada, no centro era a mesma coisa, a diferença é que eu me sinto bem trabalhando aqui, me sinto em casa, e acima de tudo, sinto que estou fazendo a diferença em algo.

          Me jogo no sofá da minha casa e já trato de ligar a TV e caçar algo interessante para assistir, logo dou play em Bel-Air e fico prestando atenção já série enquanto espero a minha pizza chegar, eu estou numa fome tão fodida.

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Irmãozinho

Irmãozinho: vem pegar alguma coisa aqui para você jantar
Irmãozinho: eu pago vida

- Já pedi pizza meu amor.
- Mas obrigada.

Irmãozinho: você que sabe vida.
Irmãozinho: se quiser pegar depois.
Irmãozinho: é só dar as caras por aqui

- Tá bom meu amor.
- Obrigada.
- Te amo.
- Boa noite.

I

rmãozinho: boa noite nenê.

Whatsapp

        Deixo o celular de lado ouvindo a buzina da moto e já saio de casa belíssima, pego as duas pizzas grandes, a pizza broto e o refrigerante que pedi e já entro em casa para deixar tudo no sofá e pegar o cartão que eu esqueci.

          Pago a pizza e o motoqueiro vai embora rapidinho, olho para o bar na esperança de ver os rapazes, mas o que vejo é só o Lobão sentado em uma mesa, bebendo e com um cigarro entre os dedos, ele está sério como sempre, mas a May e a Lis já me disseram que de vez em quando ele abre um sorrisinho, da uma risadinha, mas bem de vez em quando mesmo.

         Ele está um pouco diferente da última vez que vi ele, o cabelo mais curto que o normal, um pouco mais gordo, não muito, mas engordou um pouco, o bigode e a barba um pouco maiores, mas com a mesma cara da última vez, nem parece que tem trinta e sete anos já, continua com a mesma casa de vinte e seis aninhos.

          Nego com a cabeça e entro em casa trancando a porta, me sento no sofá já abrindo as três pizzas e as coloco uma do lado da outra na mesinha de centro, me levanto indo na cozinha para pegar uma faca e um copo, volto para a sala e me sento no sofá largando tudo na mesa de centro.

          Observo bem a minha volta, a casa vazia, só a luz da sala e da cozinha acesas, a TV ligada passando a minha série, bem mais vazia do que o normal, geralmente eu o meu pai estaríamos agora no sofá, dividindo essas duas pizzas, ele reclamando que eu pedi um pizza broto doce, porquê na cabeça dele pizza doce não era nem pizza... Ah, como ele faz falta aqui.

            Também começo a imaginar como seria se a minha menina estivesse aqui também, ela estaria com cinco aninhos, na verdade quatro, prestes a fazer cinco anos, eu estaria dando pizza para a minha menina, na real eu estaria fazendo janta, meu combinado com o Lobão era não dar besteira para ela em dia de semana, mesmo com ela somente na minha barriga.

         Eu nem sei se ainda estaria casada com o Lobão, e nem perco muito o meu tempo imaginando isso, mas eu sei que a minha filha estaria aqui comigo, na TV passando "Um Maluco No Pedaço", série que derivou Bel-Air, mas na versão mais leve e para crianças, a casa cheia de brinquedos, o quartinho dela em cor de rosa.

          Se ela estivesse aqui, eu não estaria tão sozinha como estou agora.

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⏰ Last updated: Oct 03, 2023 ⏰

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Mulher de Vagabundo (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now