1. Apenas Negócios

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— Você está velho, Elliot Brent. — A audácia daquele imbecil fazia o sangue do bilionário americano fervilhar. — Se não sabe o que fazer para ajudar a sua própria empresa, deveria ficar de fora dela.

— Eu posso já não ser tão jovem, mas eu ainda enfio a porrada em você e em seus moleques, Robert. — Elliot ameaçou, analisando o rosto do rapaz que o desafiava. Seus cabelos acinzentados e as rugas que preenchiam cada vez mais o seu rosto contrastavam com a pele magra e lisa do rapaz negro à sua frente. Não devia ter mais que vinte e cinco, o maldito. — Esta empresa ainda é minha, e seus sanguessugas não conseguirão mudar isso tão cedo.

Ele se sentou, colocando um dos braços sobre a mesa e sentindo a arma com a mão livre. Instintivamente, pensava em sacar o objeto do coldre. Mesmo que não houvesse ameaça contra a sua vida ali, tantos anos trabalhando frente a frente com o pior que a humanidade — e outros — tinham a oferecer, o tinham deixado arisco demais. Ele ainda se lembrava daqueles anos de luta. Não fazia tanto tempo assim. De alienígenas a demônios, de traficantes a serial killers. Algumas daquelas memórias não iriam embora tão cedo.

Elliot olhou para o retrato de Mary sobre sua mesa, um eterno lembrete da escolha que fizera após a destruição da Alcateia. Deixar aquela vida para trás, focar em sua empresa e em sua família. E enfrentar aquele tipo de pessoa sofrível e arrogante que agora estava à sua frente.

Respirando profundamente, ele olhou novamente para Robert, que tinha um sorriso petulante no rosto.

— Sabe, uma das vantagens de não abrir o capital na bolsa é que eu ainda detenho a palavra final sobre o que acontece nesse prédio. — Comentou ele, colocando as mãos juntas sobre a mesa, apoiando os cotovelos e olhando fixamente nos olhos do garoto. A Brent Foundation não precisa ser maior do que é. Eu não quero concorrer com Apple ou Microsoft, eu não quero entrar no mercado de Streaming, eu não vou patrocinar a campanha do Partido Republicano. Não preciso de nada disso quando metade dos aparelhos eletrônicos do mundo depende de algo que eu e mais dois ou três produzem.

Robert Finch revirou os olhos, o desdém pelas palavras do magnata era visível, fazendo o sangue deste ferver. O rapaz estava visivelmente irritado e cansado da insistência de Brent em se ater ao que tornara aquela empresa grande num primeiro momento: a estabilidade e o cuidado, a proteção que Elliot sempre tivera contra influências externas na Fundação.

Para o rapaz, era hora da "nova geração" assumir o controle e conduzir as coisas da forma como julgava apropriada. Para Robert, tudo que fora criado pelas gerações anteriores era ruim e podre, devia ser extinguido e modificado para melhor atender aos "anseios dos tempos modernos". Como se alguém da idade dele soubesse do que estava falando, pensava Brent.

— Você ainda vai levar esta empresa à falência, velho burro. — De todas as discussões acaloradas que os dois tiveram ao longo dos anos em que Robert trabalhara ali, aquela era definitivamente a pior. Robert era forte e determinado, mas não entendia como o mundo funcionava e queria impor suas ideias sobre todos que ousassem discordar. Se dependesse dele, a Brent Foundation já teria sido vendida a Bill Gates há uns trinta anos, antes mesmo que o maldito tivesse nascido.

— Até onde eu sei, esta empresa existe desde muito antes de seu nascimento, Robert, e provavelmente continuará a existir muito depois que eu morrer. — Elliot explicou, pacientemente. — Eu não vou abrir o capital, e você não vai mais ter espaço para respirar aqui dentro. Pegue suas coisas e vá embora, venda seus serviços para o velho Bill, se quiser. Eu não me importo. Só cuidado que ele não costuma levar insultos tão facilmente quanto eu.

— Acha que pode jogar talento fora assim, Elliot? A sua concorrência vai amar. — Como chefe do Departamento de Nanotecnologia, Robert era importante para o futuro da empresa, sim, mas não essencial, pensava Elliot.

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