O ÚLTIMO LOBO

3. Salt Lake City

O avião levantara voo sem problemas, apenas quinze minutos de atraso, o que era um milagre para Austin.

Elliot olhava pela janela da primeira classe, se perguntando se tinha esquecido de algo no longo planejamento que fizera naquela manhã. Sentia que tinha tudo em seu lugar, que nada de ruim aconteceria à empresa enquanto ele estivesse fora, mas uma parte dele ainda esperava  o pior. Não conseguia tirar aquilo da mente, mesmo que a perspectiva de passar um fim de semana com suas filhas enchesse seu duro coração com felicidade.

Pegando o celular, ele olhou para as muitas mensagens que tinham chegado desde que entrara na zona de embarque no aeroporto. A maior parte das coisas eram chatas e insignificantes. Alguns de seus colegas comentavam sobre as possibilidades da corrida presidencial do ano seguinte, outros estavam preocupados que o presidente anunciasse outro pacote para salvar os bancos. Mais inflação significaria maiores custos de importação, algo com o qual ninguém na empresa estava com vontade de ter que lidar.

Abrindo o aplicativo de mensagens, ele digitou para Lizzie, perguntando se estava tudo bem. Com nove anos, a menina já usava com maestria as redes sociais e aplicativos diversos. Sarah, a mais nova com seis anos, ainda não tinha essa versatilidade. Quase cinco minutos se passaram, o avião cruzando os céus escuros, e nenhuma resposta. Elliot então abriu a conversa com Cat.

"Copycat, está tudo bem aí?"

"Já estou no avião."

Ele digitou para a garota, que era contratada como sua assistente pessoal, mas que servia mais como babá das garotas.

Com quinze anos, Catherine começou a trabalhar não para Elliot, mas sim para o Luz Noturna, após ser pega por ele tentando impedir um assalto a banco com nada mais que uma fantasia de halloween que imitava uma gata preta.

A tentativa barata de imitar os lobos da Alcateia renderam a ela o apelido de Copycat, a copiadora, um trocadilho com o nome Catherine e a palavra que era normalmente usada para descrever pessoas que tentavam copiar assassinos em série e seus métodos nefastos.

Ao invés de dar-lhe a bronca que ela merecia, Elliot viu potencial na criança e resolveu oferecer-lhe um emprego. Após conversar com seus pais sobre o assunto, a garota foi trabalhar, oficialmente, como estagiária na Brent Foundation. Na realidade, no entanto, ela servia como apoio para a Alcateia. Uma hacker habilidosa e inteligente como poucos, Cat foi extremamente útil nos últimos anos antes do incidente que dizimou os lobos.

Desde então, ela continuara trabalhando para Elliot, a amizade dos dois superando o luto e perdurando por oito anos após o fim trágico do grupo.

"Tudo bem por aqui, chefinho"

"Tenha um bom voo!"

Ela respondeu, passado menos de um minuto. Elliot sorriu discretamente e agradeceu, apagando a tela do celular e guardando-o no bolso do paletó italiano que sempre usava. A ausência  do peso familiar da arma na cintura fez com que ele demorasse um bom tanto para pegar no sono, mas após uma longa tentativa, sua mente apagou e despertou novamente somente quando o sinal de "apertem os cintos" se ascendeu, indicando que o piloto iniciaria a descida no aeroporto de SLC.

Era quase meia noite quando Elliot finalmente pegou sua mala na esteira e seguiu para o lado de fora do aeroporto, procurando pelo motorista que Copycat devia ter enviado. Encontrou, no entanto, a própria garota com uma plaquinha escrito "Sr. Brent" entre a multidão que esperava por seus amigos e familiares no desembarque.

Com seriedade, Elliot se aproximou e olhou para trás dela, com medo que as filhas estivessem ali também, mas graças a Deus não estavam. Com olhos castanhos radiantes cobertos por um óculos quadrado, cabelos negros cacheados e corpo magro e atlético, ali estava a garota que ele poderia muito bem chamar de filha àquela altura.