Capítulo 13

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CAROLINA

Fico por alguns segundos encarando a porta de madeira bruta por onde o homem saiu deixando apenas um cheiro de folhagem molhada para trás. Mordo meus lábios em nervoso por está dormindo em um lugar diferente do qual já estou acostumada. Olho para os meninos que continuam em pé, de cabeça baixa enquanto o menor está agarrado ao mais velho.

-Vamos deitar?. Questiono de maneira calma e eles afirmam. -Então deitem-se primeiro! Digo apontando para a cama e eles obedecem rapidamente se aconchegando na cama grande, retiro o casaco, o colando na cadeira de madeira perto da janela e me acomodo junto a eles, nos cubro com o cobertor grosso e pesado que tem um cheiro amadeirado, o mesmo que sinto quando o líder está perto de mim.

Fecho meus olhos suspirando em cansaço e sinto um toque leve em meu braço, abro os olhos quando o garoto mais novo se aconchega em mim e ouço um fungado baixinho, fico de lado e o abraço e em questão de segundos suas lágrimas quentes molham minha blusa, ele chora silenciosamente a sua dor e meu coração aperta em pena, acaricio seus cabelos ondulados na tentativa de o confortar, então o soluço do mais velho quebra o silêncio do quarto, meus olhos lacrimejam também pois sei bem o sentimento doloroso desses dois pequenos que infelizmente conheceram a pior dor que podemos sentir, cedo demais. O puxo para se juntar a mim e ao seu irmão e embalo os dois em meus braços.

Eu não sei o que falar para tentar conforta-los nesse momento, sei o quão difícil é enfrentar a partida daqueles que amamos, nos deixando apenas a saudade e as lembranças dos momentos partilhados juntos. Então a única coisa que posso fazer por agora e lhes dar um pouco de aconchego. Eles choram por muito tempo a carga emocional dos acontecimentos do dia os derrubam e eles acabam dormindo mesmo entre choramingos.

A madrugada foi bastante conturbada, não consegui dormir um minuto, mesmo cansada dei prioridade aos dois, velando o sono perturbado deles que chamavam por seus pais enquanto choravam em meio ao sono, é doloroso assistir pessoas sofrendo por aqueles que já se foram, ainda mais sendo tão novas. Olho para a janela vendo que já está claro lá fora, o vidro da janela está suado pela baixa temperatura, sinto-me extremamente exausta e minha cabeça lateja um pouco, me desvencilho com cuidado dos braços do menor que resmunga um pouco e se aquieta novamente, ajeito o cobertor os empacotando para deixá-los bem aquecidos, saio do quarto do líder e vou até o banheiro do quarto a qual foi me oferecido e escovo meus dentes, passo um pouco de água em meu rosto, e um pouco em meu cabelo para abaixar o frizz, deixo minhas coisas arrumadas encima da cama e vou ao quarto do líder novamente dou mais uma olhada nos pequenos vendo que eles ainda dorme e fecho a porta com cuidado para não acorda-los.

Caminho pela cabana tão silenciosa que incômoda e como se eu estivesse sozinha ali dentro, apenas me contento em ouvir os barulhos vindo do meus próprios passos arrastados. Desço as escadas segurando o corrimão de madeira bem trabalhada, e ao chegar no último degrau vejo o dono da cabana jogado sobre uma cadeira de balanço que parece pequena demais para seu físico grande, sua cabeça pende para trás de forma desajeitada. Caminho devagar até ele e pego o grande casaco que ele usa o dobrando e com cuidado levanto sua cabeça, coloco o casaco ali para servir de apoio ou ele acordará com torcicolo. Ele murmura algo em meio ao sono e prendo a respiração, mas ele não acorda e suspiro aliviada por isso, pois seria estranho ele acordar comigo praticamente curvada sobre seu corpo.

Fico ali admirada com o quão bonito ele é, mesmo com suas feições duras, como se estivesse com raiva, a sua testa marca um vinco em forma de "V" entre suas sobrancelhas grossas a qual uma delas, tem uma pequena falha por conta da cicatriz, passo a ponta do dedo levemente sobre a marca e sua garganta faz um ruído baixo e me afasto rapidamente quando ele se mexe, saio dali as pressas e procuro pela cozinha, ao acha-la percebo a presença da mesma senhora de ontem, ela se move de maneira silenciosa sem parecer ao menos pisar no chão, enquanto mexe algo em uma panela. O cheiro está delicioso.

-Bom dia! A comprimento de maneira suave para não assusta-la com minha presença, seus olhos castanhos me encaram por alguns segundos, até um sorriso sutil moldar seus lábios franzidos pela idade avançada.

-Bom dia, senhorita, estou preparando panquecas para o café da manhã! Diz enquanto tira a panqueca já pronta a colocando na forma e pega a concha colocando mais um pouco de massa até a panela no fogão a lenha.

-Está com um cheiro ótimo! Digo ouvindo meu estômago roncar pelo cheiro maravilhoso. -Viu até meu estômago concorda! Brinco para afastar o constrangimento e ela rir baixo.

-Bom dia! A voz grossa chama nossa atenção e olho para o líder que está em pé na entrada da cozinha.

-Bom dia! Respondemos juntas e ele se aproxima parando próximo de mim. Continuo o encarando e ele em momento algum desvia sua atenção, parece que estamos em uma guerra de quem encara mais, minhas bochechas esquentam em vergonha, pois sou péssima em questão de contato visual e acabo por desviar meu olhar do seu e olho para baixo, ouço uma risada baixa vinda da senhora que coloca uma cesta com pães quentes na mesa.

-Sente-se! comanda após puxar a cadeira de madeira e assim o faço. -Como estão as crianças?. Questiona ao sentar-se ao meu lado, enquanto nós serve com chá.

- Exaustas, a madrugada foi difícil, eles passaram muito tempo chorando até que foram derrubados pelo cansaço físico e mental! Digo a ele que apenas afirma passando as mãos em seus cabelos.

- Desculpe por não ficar, eu não sei como lidar com essa situação, já passamos por muitas perdas em nosso vilarejo, mas nunca consigo lidar com a dor daqueles que são deixados para trás! Diz e sei bem como é. - De alguma forma eu agradeço por cuidar deles, eu realmente não saberia como agir se eles fosse para mim! Ele me olha receoso e até culpado.

- Tudo bem, é algo que nunca saberemos lidar! Digo encostando na cadeira e suspiro fechando os olhos com força para dissipar o encômodo em minha vistas. Ouço uma voz infantil e chorosa chamando por mim, me levanto indo de encontro às crianças que estão na sala, o menor tem a bochecha vermelhas pelo choro, enquanto o maior tenta acalenta-lo, vou até ele o pego em meu colo, e ele abraça meu pescoço com força enquanto funga baixinho. -Estou aqui meu amor! Murmuro baixo enquanto massageio suas costas. Ouço  o barulho de passos pesados se aproximando e o líder vem em nossa direção com preocupação, o maior fica receoso e gruda em mim, o líder se aproxima dele e afaga seus cabelos o fazendo relaxar seu aperto em mim. -Vamos comer?. Pergunto a eles depois que o menor se acalma mais um pouco e eles concordam, colo o pequeno no chão e seguro sua mão, enquanto o maior segura a mão do homem, vamos para a cozinha e ele se acomodam nas cadeiras vazias em nossa frente, a senhora os serve um pouco de leite e coloca os pratos em suas frente enchendo com pedaços de frutas, pães e panquecas. Eles olham para o homem sentado ao meu lado meio acanhados.

-Comam! Sua voz soa calma e baixa e rapidamente as crianças se alimentam, pego a xícara com o chá esquecido e sorvo um gole deixando um barulho de apreciação soar baixo de minha boca, o homem ao meu lado suspira alto e vejo suas mãos se fecharem com tanta pressão que os nós de seus dedos ficam esbranquiçados.

-Você está bem?. Indago tocando em seu antebraço exposto e sua pele se arrepia sob minha palma, noto que ele ainda continua tenso, então afasto minha mão de seu braço. -Desculpe! Ouço ele resmungar algo que não entendo.

-Tudo bem! Diz e sua voz agora está  em uma tonicidade mais rouca e profunda, me causando arrepios no corpo, assim como uma quentura em minha intimidade, aperto as coxas para amenizar o incômodo ali e me assusto quando o líder levanta de supetão e saí da cozinha as pressas deixando eu e as crianças sem entender a sua reação.

-O que foi isso?. Questiono ainda confusa olhando para a direção que o homem foi.

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⏰ Last updated: Apr 11 ⏰

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