3- Lúcia

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O primeiro dia na escola nova foi normal, as pessoas foram super gentis e agradáveis. Dei sorte de pegar quase todas as aulas com Olívia, e duas com o Oliver porém ele me ignorou por total nas aulas. Não entendi o motivo então apenas o ignorei, fiz novos amigos e foi muito assustador.
Não sei o porquê, mais confiar nas pessoas me assustava. Porque elas podem ser carinhosas e falar palavras lindas em uma parte do tempo, porém na outra apunhala uma faca nas suas costas e te destruir. Porém pela primeira vez na vida, confiar na Olívia não me assustava.
Ela me mostrava que podia confiar nela de olhos fechados, porque ela sabia exatamente oque eu sentia. Porque ela confiou em uma pessoa que devia ser o seu refúgio, mas na verdade essa pessoa machuca pessoas que ela ama. E quando eu precisava ela sempre estava ali, e pela primeira vez o universo me retribuiu com uma amizade verdadeira. Sem que eu pedisse ela retribuíam tudo que eu dava, e sempre estava do meu lado me apoiando.
E eu percebi que almas gêmeas não necessariamente são só sobre casais, existe alma gêmea em amizade. E a Olívia era a minha alma gêmea.
- Oque você quer de aniversário? - perguntou Olívia olhando nos meus olhos.
Passei a mão pelo meu cabelo e enrolei no meu dedo e respondi.
- Acho que nada, meu aniversário é uma data no qual eu odeio.
Imediatamente Olívia entendeu e desligou o celular:
- Aquilo aconteceu no seu aniversário, não foi? - ela me perguntou, segurando na minha mão.
- Sim, é por isso não gosto de comemorar. Porém se quiser me dar um presente ou lembrancinha, pode.
- Lúcia, sei que você não quer surpresa e muito menos festa de aniversário. Mais você devia comemorar, porque você está viva, não deixe o trauma te atrapalhar a viver, você é nova e tem muito para viver. - disse Olívia com os olhos cheios de água.
E ela tinha a total razão, não devia deixar o trauma me impedir de viver minha vida. Por muito tempo eu deixei o trauma fazer com que eu não vivesse a minha vida, e já estava na hora de tomar uma decisão.
Sei que seria difícil e a sensação de me sentir suja, não ia sumir do nada. Porém estava disposta a ser forte e seguir em frente, deixa o passado para trás.
- Olívia pode fazer oque quiser, porém nada chamativo. - disse olhando para ela, enquanto um sorriso saía do meu rosto.
- Não vai ser nada chamativo, só algo para família e alguns amigos. - ela respondeu, retribuindo o sorriso.
O próximo horário de aula, Olívia e eu não tínhamos igual. Mas eu tinha com o Oliver, porém nunca entendi o porque dele está nas aulas de espanhol. Quando entrei na escola, as duas semanas ele não fazia espanhol e do nada ele apareceu na aula de espanhol.
Ele sentou atrás de mim, com a irmã do menino que eu sentava. Eles eram mexicanos e vieram pros Estados Unidos quando tinham 5 anos, e faziam espanhol pra ficarem ainda mais fluentes. Esteban era muito gentil, e acabamos virando muitos amigos por causa das aulas de espanhol.
A professora de espanhol chegou na sala, e começou a passar da matéria. E Oliver estava saindo super bem na aula, o espanhol dele era muito bom pra um iniciante. Porém ele recebeu uma mensagem no seu celular, e percebi ele ficar ansioso.
- Profesora puedo ir al baño? - disse Oliver, tentando não tremer as mãos.
-Si, por favor no te demores. - respondeu a professora, que nem percebeu ele ansioso.
Oliver saiu e ninguém percebeu que ele estava ansioso, fui a única a perceber. Todo mundo estava concentrado nas questões que iam cair na prova. Fui até a mesa da professora e disse que precisava sair, porque estava menstruada e ela deixou.
Andei pelo corredor e não achei o Oliver, apenas continue andando até o encontrar. Até que caminhando por um dos corredores, escutei alguém nas escadas e fui pra lá imediatamente. E era de fato Oliver, ele estava abaixado com os braços no joelho e a cabeça encostada, cheguei de fininho e sentei perto dele.
Coloquei a mão no seu ombro e ele levantou a cabeça assustado.
- Oque você está fazendo, Lúcia?
- perguntou ele, com lágrimas escorrendo sobre seu rosto.
- Vi você saindo ansioso, e eu vim te ajudar. - respondi, abrindo um sorriso.
Ele se levantou e desceu dois degraus da escadas, e mesmo assim ele ficou muito maior do que eu.
- Eu não preciso da sua ajuda, e agora tenho que ir. - disse ele, limpando as lágrimas e saindo.
Porém dava pra perceber que ele ainda estava ansioso, eu me levantei e fui atrás dele. E segurei o seu braço e puxei ele pra perto de mim.
- Você precisa de ajudar, para de ser orgulhoso e me deixa ajudar. Só me conta oque aconteceu. - e eu nem precisei dizer mais nada, ele começou a chorar sem parar.
Fiquei na ponta dos pés, e o abracei com força. E quanto mais força eu o abraçava ele chorava, e durante 7 minutos eu fiquei ali abraçada com ele.
E quando ele se acalmou e ele sussurrou no meu ouvido.
- Vamos matar aula? Quero te levar a um lugar.
Mesmo não fazendo a mínima ideia de onde ele iria me levar, apenas aceitei. Fomos andando até uma casa de repouso, fica pertinho da escola. Porém no caminho Oliver comprou chá gelado e donuts, e não falamos nenhuma palavra o caminho todo.
Ao chegarmos na casa de repouso, percebi Oliver cumprimentar várias pessoas que trabalhavam no local. E quando chegamos na sala, ele cumprimentou vários idosos que ficavam ali naquela casa de repouso.
Porém não entendia o porque dele ter comprar tantas caixas de donuts, era muito donuts. Foi aí que ele abriu uma das caixa de donuts e começou a distribuir, para os idosos, para os funcionários.
- Sra. Wilson, seus donuts de morango com cobertura de caramelo. - ele destruiu para uma idosa super simpática.
E ele deixou uma caixa com 6 donuts comigo, e terminou de distribuir. E quando ele terminou, ele se aproximou e me puxou até uma senhora loira e bastante nova, que estava pintando em sua tela no canto da sala.
Oliver abriu a última caixa de donuts da minha mão, e foi até a senhora.
- Sra. Blake, como eu sei que ama os donuts de mirtilo. Eu trouxe os mais gostosos da sua loja preferida. - disse ele com os olhos cheios de águas.
- Oliver, meu filho só são donuts de mirtilos não precisa chorar. - respondeu ela, rindo de Oliver. - E você quem é? - perguntou ela assim que percebeu a minha presença.
- Eu sei que só são donuts de mirtilo. - ele olhou para mim, e depois voltou com os olhos para a mulher. - Mamãe essa é a Lúcia minha amiga! Lúcia essa é a minha mãe Amy Blake Bianchi.
A mãe de Oliver era uma mulher muito linda, e jovem. Seus cabelos eram muito loiro, e os olhos azuis como o céu, e era só olhar para ela que você via Olívia e Oliver. Porém não fazia a mínima ideia do porque de alguém tão jovem estar em uma casa de repouso.
- Sua irmã está brava comigo, ela não vem aqui a dias. - disse Amy chateada.
- Mãe a Olívia vem aqui todos os dias depois da aula, como que ela nem aqui. - respondeu Oliver.
Amy colocou a mão no rosto e gritou com Oliver:
- EU SEI! A Olívia vem sempre, porém é a Alanna? Faz 5 dias que ela não vem aqui. - disse Amy entrando em desespero.
Oliver pegou na mão de sua mãe, e sentou com ela no sofá e começou a conversar:
- Mãe a Alanna foi embora a 5 anos, fazer intercâmbio em Londres. Você esqueceu? - perguntou Oliver confuso.
E do nada a mãe de Oliver começou a abraçá-lo forte, e dizer que estava com saudades.
- Filho! faz tanto tempo que não vem me ver.
E Amy começou a surtar e a enfermeira, explicou ao Oliver que Amy estava piorando e que sempre esquecia de alguma coisa aleatória. E que o Alzheimer de Amy só estava piorando a cada dia, e a qualquer momento ela poderia se esquecer até mesmo de Oliver.
Com a ajuda de outros enfermeiros, eles deram um calmante para Amy. Dava pra ver nos olhos de Oliver, o quanto aquilo estava o machucando. Me sentei ao seu lado, e ele permaneceu com sua cabeça baixa.
- Vai embora, por favor! - disse Oliver, sem olhar na minha cara.
Eu não disse nada, e nem insisti em ficar. Porque sabia que ele precisava de um tempo sozinho, me levantei e o deixei ali sentado sozinho.



Três dias havia se passado, desde a minha ida até a casa de repouso com Oliver. Tentei falar com ele várias e várias vezes, para ver como ele estava se sentindo e ele apenas ignorava minhas mensagens.
Na escola ele nem olhava na minha cara, e apenas ignorava a minha existência. Porém não insistia em mandar mensagens, ou tentar falar com ele. Oliver precisava de seu tempo, e eu daria o tempo que fosse. As vezes eu queria voar no pescoço dele, porque ele fazia coisas no qual eu não gosto.
Ele era igual a maioria dos garotos, uns babacas. Nesses 3 dias, ele apareceu com umas 6 meninas diferentes, duas pra cada um dos dias. E como eu sabia disso? Simples, ele deixava a janela do seu quarto aberta e eu sempre conseguia ver do meu quarto.
Ao me levantar da cama, apenas fechei a janela e ignorei a existência do Oliver. Era meu aniversário e eu queria comemorar, mesmo odiando essa data. Olívia já estava no andar de baixo decorando para festa de aniversário, ao descer as escadas eu vi a decoração e não parecia só uma festa pra família e sim uma super festa.
- Lúcia me perdoa, chamei umas pessoas pra festa. E agora é uma festa de verdade. - disse Olívia toda empolgada, enchendo os balões.
- Está tudo bem, não dever ser tão ruim assim. E só uma festa! - respondi, enquanto ajudava ela encher os balões.
Pela primeira vez na minha vida, aquilo não me assustava. Aliás estava muito animada para tudo isso, uma nova etapa se iniciava hoje e eu estava super ansiosa pelo oque viria.
Enquanto estava distraída com a Olívia enchendo os balões, meu pai e minha mãe chegaram com um lindo buquê de flores e um bolo pequeno. Cantando parabéns pra mim, e meu pai chorando como se fosse um bebê.
- Pai! Não precisa chorar, eu estou aqui com vocês. - falei com meu pai, enquanto me aproximava dele.
- Eu sei minha filha, e que eu não imagino a minha vida se você não nela. - respondeu ele, chorando ainda mais.
Abracei ele com muita força, e ao abrir os olhos vi minha mãe chorando também. E ela nunca chorava, ou expressava algum sentimento, minha mãe era sempre fria e grossa e ver ela chorando, lembrei que todas as vezes que ela chorava era pra me dizer que me amava mesmo não expressando.
- Eu também te amo mãe, e sou grata por ter você como minha mãe. - disse a ela, enquanto abraçava ela.
Olívia pegou o bolo e foi até a ilha da cozinha cortar, e nos três fomos atrás dela logo em seguida. E não demoramos pra terminar a decoração, Olívia decorou toda a festa em vermelho porque era minha cor favorita.
A decoração estava maravilhosa, muito melhor do que havia imaginado. E a festa estava prevista para começar as nove, e eram duas da tarde ainda.
- Oque vamos fazer, nas próximas 7 horas? - perguntou Olívia.
- Quer assistir série?
Olívia pegou uma fatia de bolo, e apenas abriu um sorriso pra mim. E fomos até a sala assistir série, sentamos no sofá e eu coloquei minha série favorita na Star+.
- The Walking Dead, e a sua série favorita? - perguntou Olívia, fazendo uma cara de nojo.
- Sim, é porque essa cara de nojo. - perguntei ela, rindo da cara que ele a estava fazendo pra mim.
- Tem muito sangue, e tripas saindo para fora.
- Vai por mim, você vai adorar. - disse toda empolgada.
Coloquei The Walking Dead no primeiro episódio, e começamos a assistir. E nos primeiros minutos ela ficava super animada, e como o primeiro episódio era 1 hora. Apenas deixei rolar a série, e ela ficava agoniada ver o Rick( o principal) indo atrás da família, mesmo não fazendo ideia se eles estavam vivos.
E quando ele pega o cavalo e vai pra Atlanta, e lá quase morreu por conta da quantidade de zumbis que tinha na cidade. Olívia começou a subir pelo sofá, quando Rick cai do cavalo, e o animal é devorado pelos zumbis e Rick se esconde debaixo do tanque.
Porém os zumbis começam a abaixar para pegar o Rick, até ele perceber que não tinha outra saída além de atirar sua própria vida. Então o personagem principal coloca a arma na cabeça, e ao olhar pra cima ver uma portinha para dentro do tanque.
- Puta merda! Que doideira. - disse Olívia completamente chocada.
E os próximos minutos do episódio, ela fica surpresa. E na minha cena preferida, eu olho pra ela e repito:
- Hey você! Otário. Você aí no tanque, Está confortável aí?
E o episódio acabou, Olívia ficou completamente em choque e ficou repetindo várias e várias vezes. "Como não assisti isso antes?". E ela quis ver mais uns 4 episódios, e eu assisti com ela e claro.
Assistimos até dar a hora de irmos nos arrumar pra festa, meus pais já estavam prontos quando sumimos pro meu quarto para nos arrumar. Eles estavam muito mais ansiosos, do que eu mesma.
Quando Olívia e eu entramos no quarto, a janela do meu quarto estava aberta. Ela se aproximou da janela e mostrou o dedo do meio, para o Oliver que estava da janela do quarto, em seguida ela fechou a cortina e cruzou os braços.
- Meu irmão é um babaca, tenho dó das garotas que ele se envolve com ele.
- Eu não sei de nada, amiga eu te amo mais o seu irmão eu odeio ele. - respondi Olívia que começou a rir de mim.
- E ele também te odeia, ele falou isso pra todos os amigos dele. - disse ela, com a maior sinceridade. - Agora vamos voltar pra oque interessa.
E fomos nos maquiar, e enquanto nos maquiávamos gravamos TikTok's com participação do meu pai.

Minha felicidade tem olhos castanhosWhere stories live. Discover now