Cap. 10 - Abelha Rainha

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Gatilho: Uso excessivo de medicamentos

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"Quero beber o mel de sua boca, como se fosse uma abelha rainha..."

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O som abafado do festival Coachella ainda reverberava no fundo, misturado ao som distante de motores e vozes abafadas.

Kelvin estava exausto.

O show fora um sucesso estrondoso, mas o peso da exaustão finalmente começava a se instalar em seus ombros. Ele se aninhava no banco do carro, encostado ao namorado, Ramiro, que havia se tornado seu porto seguro em meio ao turbilhão.

O carro, envolto em um esquema rigoroso de segurança, avançava lentamente pela estrada deserta. O esquema de proteção, com seguranças em veículos e motos, criava um cordão invisível ao redor do veículo, garantindo que a saída do festival passasse despercebida. Para Kelvin isso significava um alívio momentâneo das luzes e dos olhares curiosos que geralmente o acompanhava, enquanto pra Ramiro era apavorante constatar na pele a loucura que seu pequetito vivia rotineiramente.

Kelvin não dizia uma palavra.

O silêncio entre eles era profundo, quase palpável.

Ramiro o observava discretamente. Sentia a tensão emanando de Kelvin como uma aura, mas respeitava o espaço do namorado. Sabia que, quando a calma retornasse, as palavras fluiriam com mais facilidade. Até lá, ele se permitia a sensação reconfortante de estar perto dele, de proporcionar um abrigo em meio à tempestade interna que Kelvin enfrentava ele também verdade seja dita.

Ramiro nunca se sentiu tão fora de seu ambiente na vida, estava apavorado e com razão, um homem simples que apesar de ter ampliado horizontes e evoluído em sua educação, ainda era em essência um homem do interior, mas no momento ele evitava seus pensamentos para prestar atenção nas reações do menor, sabia que ele estava profundamente aflito com a situação com Frank, percebia que ele temia o produtor e ele precisava que ele se abrisse e lhe contasse o motivo de temer tanto aquele babaca.

A mão de Kelvin estava firme e agarrada ao corpo de Ramiro, como alguém que havia encontrado um bocado de terra firme após nadar em um mar revolto.

Ele puxava a força de Ramiro.

O agricultor podia sentir o corpo do parceiro tremer ligeiramente, não apenas pela fadiga física, mas também pela tensão acumulada. Ele ajustou o braço ao redor dos ombros de Kelvin, puxando-o um pouco mais para perto, repousando o queixo no topo de sua cabeça, enquanto ele respirava fundo e soltava o ar audivelmente.

As luzes do carro iluminavam esporadicamente os rostos dos dois, criando sombras dançantes que pareciam refletir a confusão interna de Kelvin. Cada vez que o carro fazia uma curva ou passava por uma área iluminada, o brilho refletido fazia parecer que os olhos de Kelvin estavam mais pesados, brilhantes de lágrimas e distantes.

Finalmente, depois de longos minutos de silêncio, Kelvin quebrou a quietude com uma voz suave, quase um sussurro, ele ergueu a cabeça lentamente, seus olhos encontrando os de Ramiro. Por um momento, parecia que ele lutava para encontrar as palavras.

— Eu estou realmente preocupado, Rams, me desculpe ter me tornado uma péssiam companhia, eu tô tão feliz por você ter vindo, mas neste momento é impossível não me preocupar com o que aquele merda vai fazer.... — ele murmurou. — Parece que eu tô condenado a nunca ter paz, desde que entrei nesse meio é como se eu tivesse feito um pacto maligno, eu sempre pago um preço muito alto por ter fama e dinheiro, ninguém ideia do quanto eu me sacrifico todos os dias.

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