Drabble 5 - Sadness

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2011

Sejong, Coréia do Sul

23 horas e 52 minutos

Mais uma vez o celular voltou a vibrar por sobre o criado mudo. E vendo o namorado se remexer na cama, Na Young se levantou, vestiu a camisa de Dae Joon que estava sobre o abajur, e pegando seu aparelho celular, saiu do quarto.

Ao tomar o celular nas mãos e ver o número, ficou em silêncio. Não tinha nome, nem estava salvo em seus contatos, mas ela sabia quem era. A chamada caiu na caixa postal outra vez e ela viu através dos registros as mais de 10 ligações.

-Aish, por que ele ainda insiste...

E jogando o celular sobre uma mesinha, afundou-se no sofá velho e de couro rasgado, sentando-se de forma desleixada e desavergonhada. Ela mirou o maço de cigarros por sobre a mesa em conjunto com um isqueiro do namorado. Não era a primeira vez que fumava, mas aos poucos aquilo vinha se tornando um habito fatal. Enfim, catou um, acendeu e pôs na boca sem cerimônias. Procurou o controle da televisão por entre as almofadas do sofá, quando ouviu o barulho da porta anfitriã abrir, e ela olhou para trás.

-Céus, o que aconteceu aqui? – Viu a jovem de capuz e moletom adentrar enquanto tampava o rosto.

Na Young sorriu e tirando o cigarro da boca, perguntou:

-O que faz aqui?

-Vim fazer uma visitinha. – Ela exclamou erguendo as sacolas enquanto fechava a porta. – Fui dispensada mais cedo, então resolvi passar aqui pra te ver. Você está fumando?

A pergunta soou como um berro em meio à faceta torcida de sua amiga. Mas Na Young não respondeu. Apenas olhou para o tubinho branco preso entre os dedos e deu de ombros. Ela não queria conversar sobre o mau jeito que vinha levando a vida logo de cara. Sabia muito bem as tipologias e sermões de Tamo decorado e salteado.

-Trouxe o quê? – Perguntou, mudando de assunto, com um sorriso de canto.

-Hambúrguer. – Tamo respondeu ao balançar o bolo de sacolas no ar, enquanto se juntava a ela no sofá.

Pouco depois as duas brindaram suas latas de refrigerante, o que fez Na Young rememorar os tempos de infância, das duas juntas cabulando as aulas de educação física, comendo todo tipo de delivery no terraço do colégio.

-Hey, você não está de dieta? – Perguntou cutucando Tamo com pé. – Até onde eu sei, trainees tem um regime alimentar, um certo peso pra manter...

Tamo, porém, continuou a desfrutar do refrigerante, mas com um sorriso contido atrás da lata.

-Posso ser uma trainee, mas eu ainda sou humana. – A ruiva retrucou. – Tenho meus desejos.

-Ah, sei... – Murmurou sarcástica. Até onde sabia, tinha medo até de enfrentar uma mosca. Se perguntara de onde vinha essa amena rebeldia.

-O que?

-Nada.

-Hey! – Tamo a empurrou em busca de uma explicação plausível, mas tudo o que recebeu foram uma série de gargalhadas contidas e Na Young empurrando-a e pedindo sinal de silencio.

-Dae Joon está aí. – Murmurou ainda sorrindo, mas ao ver a expressão de desapontamento de sua amiga, também ficou séria. E mesmo sabendo do porquê da cara feia de Tamo, ainda assim perguntou. – O que foi?

-Nada. – Ela respondeu em seco sem nem mesmo olhá-la.

-Tamo...

-Você sabe que eu não vou com a cara dele, Na Young. Aliás, por quê ainda namora ele? – A mais velha retrucou, sentando-se de frente para ela. – Dae Joon te trai o tempo todo, arranca seu dinheiro, até te bateu! Até quando você vai ficar nessa, satisfazendo os gostos dele como se fosse uma escrava? Hum?! Ele te faz de gato e sapato!

-Pelo amor deus, fala baixo. – Rosnou, tentando tampar sua boca. – Se ele acordar eu-

-Agora você vai me ouvir. – Tamo brandeou, segurando seu pulso. – Teu pai me liga todos os dias perguntando de você, como está, o que anda fazendo da vida e eu tenho que te acobertar. Mas olha a sua real situação. Você está morando num buraco, com um bandido de bairro procurado pela policia que te faz de gato e sapato. –Enquanto ouvia, Na Young revirava os olhos. – Você não se cuida mais. Sempre vestia as melhores roupas. Com certeza não está comendo direito também porque você está mais magra do que eu. Dá pra ver seus ossos nitidamente. Pelos deuses, eu tenho até medo de saber se você já está usando drogas.

-Eu não estou usando drogas! Tá?! – Exclamou levantando-se do sofá. – Merda! Até parece meu...

A frase morreu, mas Tamo não perdeu a oportunidade.

-Pai? – Retrucou retoricamente, e se levantou. – Ele sim está preocupado com você. Tudo bem que seu pai traiu sua mãe e ela abandonou vocês depois, mas ele ainda é seu pai. Vocês têm o mesmo DNA, o sangue dele corre nas suas veias. Até o talento dele você tem, menina! Dê uma chance pra ele? – Na Young sentiu o peso das mãos da mais velha em seus ombros e mesmo não querendo, acabou encarando-a. – Você não precisa passar por isso, Nay. Sai dessa vida, volta pra casa e se acerte com seu pai.

Na Young não disse nada e desviou o olhar. Até porque, se dissesse, desmoronaria. Seu cérebro parecia ter dado um nó e seus sentimentos estavam uma bagunça por causa das lembranças do passado. Ela se esforçava, rangia os dentes para não se permitir chorar e manter a aparência indiferente, mas estava sendo difícil cumprir essa missão diante de sua melhor amiga.

-O que está acontecendo aqui?

As duas olharam para o corredor e viram o rapaz todo tatuado sair das sombras com uma cara desgostosa, parecendo repreender as duas.

-Nada. – Tamo retrucou. E soltando os ombros de Na Young, pegou seu casaco moletom e deu as costas em direção a saída. Porém, antes de ir, ela a encarou mais uma vez e falou. – Pense no que eu te falei, ta legal?

A porta bateu, e o silêncio reinou. Na Young voltou a se sentar, cobriu o rosto com as mãos e chorou.  

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