Capítulo 3 - Estranho Numa Terra Estranha

28 1 1
                                    

- Acorde Winkle. Hora da sua sopa.

- Quem? Onde estou?

- Você está de volta ao lar.

- Eu estou? Eu voltei?

- É claro que sim.

- Onde está a Josefa?

- Está na poltrona dela, como sempre.

- Eu tenho que ir falar com ela.

- Primeiro a sua sopa. Depois os remédios. E depois o banho e daí, no final do dia, se você se comportar, eu deixo você ir ver a Josefina da ala 32. Beleza? Combinado seu Winkle? Vou deixar aqui, beleza? Dai o senhor vai tomando devagar aí. Não vai derramar igual da última vez. E nada de tentar fugir outra vez. Está tudo reforçado. E o seu truque foi muito esperto mas foi descoberto. Usar uma lente de contato com outra codificação por cima da sua retina e fazer o leitor identifica-lo como outra pessoa foi de gênio. Só que depois vão querer ter uma conversinha contigo beleza? Já volto.

- Puta... Merda. Estou num hospício? Não é real. Não pode ser. Eu deveria estar em casa.

- A sua casa agora é aqui. - Fala um homem com o mesmo pijama de João, sentado numa poltrona ao seu lado tomando uma sopa.

- Quem é você?

- O único capaz de acreditar em você.

- Como assim? Que palhaçada é essa?

- Sei que você não é você e, ainda assim, não deixa de ser você.

- O que está falando?

- Você é uma versão alternativa de você na verdade. Só que eles jamais vão admitir isso. Aliás, por insistir em ideias assim foi que vim parar aqui. Mas é óbvio que esses entraves interdimensionais não são só coisa da minha cabeça. Sua experiência é prova disso.

- Mas do que está falando? Fale a minha língua, cacete.

- É óbvio que você está confuso. É compreensível. Eu também ficaria se da noite para o dia acordasse numa realidade paralela. E, mais do que isso, anos no futuro de uma realidade paralela. Mas é a vida. Nem sempre se tem tudo o que se quer.

- Realidade paralela? Como isso é possível? Eu consigo voltar?

- Tenho estudado há anos e até hoje posso afirmar que não há como voltar. Não é como um buraco de minhoca, não é como viagem no tempo, não da para brincar de Will Smith naquele filme, Efeito Borboleta porque isso é bem diferente.

- Will Smith? Não quis dizer Ashton...

- Na sua realidade talvez tenha sido outro ator. Na sua versão de mundo certas coisas são bem diferentes da nossa. Lógico. O universo precisa dessa ordem.

- Por Deus, não acredito que estou dando atenção para um louco. Desde quando está aqui? Toma muitos remédios? Eu preciso falar com alguém normal e achar um jeito de voltar para casa porque até agora as únicas pessoas com quem falei só disseram coisas sem sentido para mim.

- Claro, até porque tudo o que você disser para qualquer um aqui fará muito sentido. Vá em frente. Boa sorte. Ainda vou estar aqui quando você voltar, afinal, somos colegas de quarto há mais de cinco anos.

- Não sou seu colega de quarto e não estou aqui há mais de cinco anos. Ninguém vai me convencer do contrário. Eu vou voltar...

- Voltar para onde? - Fala o enfermeiro abrindo a porta.

- Eu...

- Já estava planejando outra fuga? Bom, já que nem tocou na sopa venha comigo que o pessoal quer bater um papo contigo.

Brasília SitiadaWhere stories live. Discover now