04 de Janeiro, 2018

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    Eu nunca havia visto, em toda a minha vida, um inverno como este.

    A comida acabou, minha irmã ainda não voltou. Acho que morrerei congelado. Meu queixo bate tanto quanto pode. Esta merda de carro fede pra caralho. Acho que o dono deste carro era um infectado, porque fede como a carne podre deles.

    Ah, como eu queria que essas coisas não existissem.

    Tem um deles com a cara encostada no carro agora. Ele ou ela, não sei dizer, é feio. Muito feio, mais feio que minha irmã.

     Finalmente minha irmã está voltando, e ela tem um coelho na mão. Vai dar pra uns quatro dias, se regrarmos muito. Eu estou com tanta fome agora que poderia comer um boi inteiro sozinho. Se eu conseguisse andar, eu mesmo caçaria um boi. Se bem que os bois já devem estar todos mortos.

     Faz bastante tempo que levamos essa vida miserável, mas de setembro até hoje está mais do que miserável.

     Eu queria esquecer, mas lembro que em novembro a gente teve que comer o Jorge.

     Eu trocaria de lugar com o Jorge. Um cachorro vale mais que um aleijado.

     Desde janeiro do ano passado que eu acho que só existe eu e minha irmã da espécie humana no mundo agora. Os outros tipos de animais também parecem estar em falta. Tudo que resta são os infectados. 








O Último InvernoWhere stories live. Discover now