Quando minha irmã enfiou a faca no crânio daquele infectado na janela, me tirou do carro e me carregou no colo até a cabana, eu me senti um merda. Eu não sirvo pra nada, exceto pra comer. Minha irmã ainda vai morrer por minha causa.
Uma vez ela teve que correr comigo pendurado nas costas dela e um infectado nos alcançou. Nós caímos no chão e ele quase comeu a cara dela, mas eu peguei a minha pistola e acertei na cabeça dele, e quase na cabeça da minha irmã também. Eu a salvei quase a matando. Mas não é isso que eu quero dizer. O que eu quero dizer é que, se eu não estivesse nas costas dela, ela não teria corrido risco de morrer.
Quando digo que sou um peso morto, ela me xinga. Diz que não, que eu sou o único motivo dela continuar caminhando. Antes tinha o namorado dela também, o John. Também tinha o Jorge, mas tanto o Jorge quanto o John se foram.
Minha irmã não gosta de falar do John. Ele morreu tem cinco meses. Eu me sinto culpado porque ele morreu por minha causa.
Depois de me levar até a cabana e acender uma lareira que tinha lá, minha irmã começou a tirar a pele do coelho. Eu não fiquei com nojo, comeria aquele coelho até cru, como pele e tudo.
— Será que meus pais eram loiros como nós? — Eu perguntei para ela.
— Eu não sei, Joaquin — ela me respondeu. Parecia ter um pouco de dó na voz dela. — Porque você fica imaginando como eles eram?
Nem eu sei dizer o porquê. Acho que porque eu nunca os vi, mas sempre quis vê-los. Ao mesmo tempo que os odiava, eu amava eles. Fico pensando se me deixaram no orfanato só porque eu era aleijado.
— Você não é minha irmã de verdade, mas é como se fosse. Você é mais que isso, Jane. Você é tipo uma mãe, só que muito nova pra isso. Então eu digo que você é minha irmã. — Eu não faço ideia do porque disse isso, mas disse.
Ela ficou meio sem reação por mais ou menos meio segundo, mas depois largou o coelho e velho me abraçar, toda suja de sangue e com os olhos cheios de água. Até esqueci que ela não era minha mãe ou minha irmã de verdade.
