Capítulo 2

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       Esse dom terrível fez todos tremerem, e não houve quem não chorasse. A jovem fada saiu de seu esconderijo , atrás da tapeçaria, e disse estas palavras , bem alto:

-Fiquem tranquilos, senhor rei e senhora rainha . Sua filha não vai morrer por causa disso. É verdade que eu não tenho poder suficiente para desmanchar completamente a ameaça de uma fada mais velha do que eu. A princesa vai mesmo furar a mão no fuso de uma roca. Mas em ez de morrer , ela simplesmente cairá num sono profundo, que vai durar cem anos. Só que, no fim desse tempo, o filho de um rei vira salvá-lá.

          Tentando evitar que se cumprisse a desgraça anunciada pela velha, o rei imediatamente mandou publicar um decreto, proibindo toda e qualquer pessoa de fiar com rocas e fusos, ou de ter em casa qualquer roca ou fuso, sob pena de ser condenada à morte.

         Passaram-se quinze ou dezesseis anos.  Um dia, o rei e a rainha foram a uma de suas casas de campo, onde eles costumavam apenas passar temporadas. Animada com o novo ambiente, a jovem princesa saiu correndo pelo castelo, indo de quarto em quarto. Acabou chegando a uma saleta, no alto de uma torre, onde encontrou uma velha, sozinha, fiando diante de uma roca. A pobre mulher não ouvira falar de todas as proibições que o rei tinha feito, para evitar que se fiasse ou usasse fusos.

-O que é que a senhora está fazendo? - perguntou a princesa

-Estou fiando , minha filha - respondeu a velha , que não a conhecia

-Puxa, que beleza! - disse a princesa -Como é que se fia? Deixe eu ver se consigo...

         Num instante já estava segurando o fuso. E como era um pouco sem jeito - e, além de tudo, um desejo de fada mandava isso acontecer-furou a mão com o fuso e caiu desmaiada.

           A boa velha, sem saber o que fazer, gritou por socorro. Veio gente de tudo quanto foi lado. Jogaram água no rosto da princesa,  afrouxaram os cordões do corpete dela, deram tapinhas em suas mãos, friccionaram suas têmporas com água perfumada da Rainha da Hungria, mas não adiantou, nada fazia a moça voltar a si. Então o rei, que subira correndo ao ouvir todo aquele alvoroço, lembrou-se das previsões das fadas. Compreendeu que acontecera o que tinha de acontecer, já que as fadas haviam predito assim. Mandou então que a princesa fosse levada para o mais belo aposento do palácio, e que a deitassem numa cama forrada de tecidos bordados a ouro e prata.

          A moça era tão bonita que parecia um anjo. O desmaio não lhe tirara as cores vivas do rosto . Continuava com as faces rosadas e seus lábios pareciam de coral. Simplismente tinha os olhos fechados, mas era possível ouvir que ressonava suavemente , o que provava que não estava morta. O rei então mandou que a deixassem dormir sossegada, até que chegasse a hora de seu despertar .

          A boa fada que lhe salvara a vida, condenando-a dormir cem anos, estava no Reino de Mataquin, a doze mil léguas de distância , quando ocorreu o acidente com a princesa. Mas imediatamente foi avisada por um anãozinho que tinha botas de sete léguas (eram botas com as quais cada passada fazia com que a pessoa percorresse sete léguas ). Assim que soube do acontecido, a fada partiu e daí a uma hora já estava chegando, numa carruagem de fogo, puxada por dragões. O rei lhe deu a mão para ajudá-lá a descer da carruagem. Ela aprovou tudo o que tinha sido feito por ele, mas, como era muito previdente, pensou que a princesa, quando chegasse a hora de acordar, ia se sentir mal , sozinha num castelo velho. Então teve uma idéia...

A Bela Adormecida no bosque Where stories live. Discover now