Capítulo 3

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           Foi tocando com sua varinha mágica todos os que estavam no castelo(menos o rei e a rainha):governantas, damas de companhia, camareiras, fidalgos, oficiais, mordomos, cozinheiros, copeiros, mensageiros, ajudantes, guardas, porteiros, criados. Tocou também os cavalos que estavam nas estrebarias, e os cavalariços que cuidavam deles. E mais os grande cãos de caça, os mastins, que estavam no pátio, assim como a pequena Bolota, a cadelinha da princesa, que estava pertinho dela, na cama.

          Assim que a varinha mágica da fada os tocava, iam todos adormecendo, para só acordar com a princesa, a fim de que estivessem prontos para servi-la quando ela precisasse. Os espetos que estavam no fogo cheio de perdizes e de faisões dormiram.O fogo também. E tudo aconteceu num instante . As fadas são assim: não precisam de tempo para fazer seu trabalho. Então o rei e a rainha, depois de beijarem a filha querida sem que ela despertasse, saíram do castelo e mandaram publicar um decreto proibindo qualquer um de se aproximar de lá. Mas essa proibição nem era necessária, porque em quinze minutos cresceu em volta um bosque fechado, com tamanha quantidade de árvores arbustos, e tantas trepadeiras cheias de espinhos entrelaçadas umas nas outras, que ninguém poderia passar - nem homem nem animal. Só muito de longe dava para ver o alto das torres do castelo, apontando no meio daquele bosque cerrado.Ninguém duvidou que isso foi mais um cuidado da fada, para que a princesa ficasse protegida enquanto dormia e não houvesse nada a temer de eventuais curiosos.

         Depois que se passaram cem anos, o rei que reinava por lá já era de outra família , sem parentesco com a princesa adormecida. Um dia, o filho desse rei foi caçar para aquelas bandas e perguntou que torres seriam aquelas, que se avistavam de longe, saindo do meio de um bosque tão espesso.

         Cada um lhe dava uma resposta diferente, de acordo com o que tinha ouvido dizer. Um dizia que era um velho castelo mal-assombrado. Outro, que era um ponto onde se reuniam as feiticeiras da região. A opinião mais comum era a de que se tratava da morada de um gigante , um ogro, que levava para lá todas as crianças que conseguia pegar, para poder devorá-lás a vontade sem que ninguém pudesse segui-lo, porque só ele conseguia abrir uma passagem no meio dos espinhos do bosque.

        O príncipe não sabia em quem acreditar. Mas, então, um velho campones pediu licença e lhe disse:

-Meu príncipe , há mais de cinquenta anos eu ouvi meu pai dizer que neste castelo havia uma princesa. A mais bela do mundo. Ele também disse que ela estava condenada a dormir cem anos, e que seria despertada por um filho de rei, a quem estaria reservada.

        Ouvindo isso, o jovem príncipe sentiu que alguma coisa o aquecia por dentro . Não hesitou em crer que estava destinado a terminar aquela aventura tão bela .Impulsionado pelo amor e pelo desejo de glória, resolveu ir até lá. Mal começou a avançar pelo bosque e todas aquelas árvores imensas, aquelas moitas e aqueles espinhos foram se afastando, por conta própria, para deixá-lo passar . E ele foi caminhando em direção ao castelo, que distinguia ao fim da grande alameda por onde entrava. Uma coisa o surpreendeu um pouco: reparou que nenhuma das pessoas que estavam com ele conseguia segui-lo, porque as árvores se fechavam novamente logo que ele passava. Mas nem por isso ele deixou de prosseguir em seu caminho.Um príncipe apaixonado e jovem é sempre corajoso. Entrou num grande pátio externo, onde tudo o que via era capaz de fazer qualquer um gelar de medo - num silencio assustador ,a imagem da morte se apresentava por toda parte, já que só viam corpos estendidos, de homens e de animais , todos parecendo mortos.No entanto, dava para ver, pela cara vermelha, dos porteiros, que eles só estavam dormindo .As taças, onde ainda havia algumas gotas de vinho , mostravam que muitos deles haviam dormido enquanto bebiam.

         O príncipe seguiu adiante. Passou por um imenso pátio pavimentado de mármore, subiu a escadaria, entrou na sala dos guardas -todos enfileirados, com as carabinas nos ombros, roncando, à vontade. Atravessou várias salas, repletas de nobres e de damas, todos adormecidos-uns de pé, outros sentados.

          Finalmente, entrou num quarto todo dourado onde viu, numa cama, com as cortinas abertas de todos os lados, o mais belo espetáculo que jamais seus olhos tinham contemplado: uma princesa que parecia ter quinze ou dezesseis anos, e cujo brilho fulgurante tinha algo de luminoso e divino.

A Bela Adormecida no bosque Where stories live. Discover now