Capítulo 5

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         O príncipe contou a ele que,  enquanto caçava,  tinha se perdido na floresta e que havida dormido em casa de um carvoeiro que lhe dera pão presunto e queijo para comer. O rei, seu pai, que era um homem bondoso, acreditou. Mas a mãe não ficou muito convencida. E quando viu que quase todos os dias ele saía para caçar, e que sempre tinha uma boa desculpa para explicar por que tinha dormido duas ou três noites fora de casa, não duvidou mais de que ele tinha arranjado alguma namoradinha.

           Ele viveu mais de dois anos dessa forma com a princesa, e os dois tiveram dois filhos. A primeira, se chamou Aurora. O segundo foi um menino e deram o nome dele de Dia, porque era ainda mais bonito do que a irmã.

            Várias vezes a rainha disse ao filho que na vida a gente deve procurar ser feliz - para ver se ele se abria e fazia confidências. Mas ele nunca ousou confiar a ela seu segredo. É que, embora a amasse, o príncipe a temia, pois ela era uma ogresa - da raça dos poros - e o rei só havia casado com ela por causa de seus bens. Chegavam a murmurar na corte, bem em segredo, que a rainha tinha tendências  de ogro e que, quando crianças pequenas passavam à sua frente,  ela precisava fazer muito esforço para se conter e não se lançar sobre elas. Por isso o príncipe  jamais quis dizer coisa alguma a ela.

           Mas quando o rei morreu - o que aconteceu  depois de dois anos- o príncipe  subiu ao trono. Então anunciou  publicamente seu casamento e foi numa cerimônia solene buscar a nova rainha , lá em seu castelo no bosque. E prepararam para ela uma acolhida magnífica na capital, onde ela fez uma entrada triunfal, na companhia das duas crianças.

             Algum tempo depois, o rei entrou em guerra contra  o imperador Cantonalvo, seu vizinho. Entregou a regência do reino à sua mãe, e lhe recomendou muito que cuidasse de sua mulher e seus filhos. Deveria ficar o verão todo na guerra.  

           Mal ele partiu do palácio, a rainha-mãe enviou a nora e os netos a uma casa de campo na floresta, para lá poder satisfazer seu horrível desejo com mais facilidade. Daí a alguns dias, também foi para lá. Uma noite , disse ao chefe dos mordomos :

-Amanhã no jantar eu quero comer a pequena Aurora.

-Ah, senhora... - suspirou o chefe dos mordomos.
        
-Eu quero! - disse a rainha, no tom de uma voz ogresa que quer comer carne fresca. - E quero com um molho bem gostoso.

          O pobre homem logo viu que não podia enfrentar uma ogresa. Então pegou o facão e subiu até o quarto da pequena Aurora. A menina estava com quatro anos e veio correndo e saltitando, toda risonha , se pendurar no pescoço dele e perguntar se tinha alguma bala para ela. O homem começou a chorar e deixou cair o facão. Depois, recolheu-o e desceu até o quintal, onde matou um cordeirinho e o preparou com um molho tão delicioso que a senhora disse jamais ter comido algo tão gostoso em sua vida.

            Enquanto isso, o chefe dos mordomos tinha tratado de tirar a pequena Aurora do castelo e entregar à sua mulher,  para que a menina ficasse guardada na casinha deles, no fundo do quintal.

            Daí a oito dias, a rainha malvada disse ao chefe dos mordomos:

        -Hoje no jantar eu quero comer o pequeno Dia.
          

A Bela Adormecida no bosque Where stories live. Discover now