Capítulo 3

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Ao adormecer, Gaia sentiu como se estivesse sendo puxada e sugada para outro plano, como acontecia toda noite. Agatha estava esperando por ela em uma cama de casal, com chá de limão e biscoitos de chocolate, o favorito das amigas. Após se abraçarem e Gaia dar seus recados, a primeira coisa que ela perguntou foi o motivo de a outra ter se sacrificado.

- Você vai compreender logo, mas sempre fomos melhores amigas naquele lado. Agora já tenho 17, e você está com quase 19 nesse mundo aqui. - A garota pegou um livro – Tome, esse é seu diário, basta tocar nele e você vai lembrar de tudo.

- Porque eu nunca lembro de nada quando acordo? Porque você não está no seu corpo espiritual? Onde estamos? – Haviam tantas perguntas a serem feitas.

- Você é a Rainha desse mundo, salvou a todos um tempão atrás, quando o antigo rei, Hades, transformou isso aqui em um mundo de caos e solidão. Com tal poder, você temia se sentir infeliz do outro lado e colocou em si mesma um feitiço de amnésia, todas as vezes que acordasse você não se lembraria de nada, apenas se tocasse nesse diário.

- E como vou me lembrar do treinamento quando acordar? – perguntou a menina à sua amiga.

- Eu sou o único ser que pode anular esse seu encantamento, você me deu esse poder 5 anos atrás quando cheguei aqui. E sobre o treinamento, não há muito segredo, você é uma guerreira nata, basta tocar no diário e se lembrará, então teremos um tempo para nós.

- Faz sentido, mas eu estou com medo - e faminta - não havia comida onde estávamos, posso comer antes? Ter todas as memórias de volta parece desgastante. – Gaia estava muito confusa.

- Pode, temos um banquete aqui no castelo toda vez que você volta, basta se vestir e descer. Sobre o meu corpo, que você havia perguntado, esse é só um avatar, construí ele para simular o crescimento que o meu corpo teria se ainda estivesse viva.

Realmente, ao que tudo indicava, o tempo havia passado bem para Agatha, que havia deixado seus cabelos loiros crescerem, em contraste com o corte curto que ela sempre usava, observou Gaia. Além disso, a outra menina estava mais alta e com os seios fartos – Gaia enrubesceu ao se pegar pensando nisso, sempre tivera uma queda pela amiga.

- Faz sentido, mas falta saber onde estamos, digo, já sei que é no castelo, mas por que exatamente nesse quarto?

- Ora, esse é o nosso quarto, minha rainha. – Afirmou Agatha, entre risos ao sair pela porta e pedir que a outra a seguisse.

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Após o banquete, ambas as meninas subiram de volta para o quarto e, depois de muitas perguntas sobre o que havia se passado nos últimos 5 anos, Gaia finalmente toca no diário e reencontra suas memórias.

- E então, querida? Qual a sensação de recuperar as memórias? Toda vez você reage diferente.

- É como se um turbilhão estivesse entrando em mim, como se o vento me guiasse pela minha própria mente. – Gaia estava exausta devido ao processo – Espere, lembrei, já sei como derrotar o dragão e chegar ao castelo.

- Você sempre soube, só estava desconectada dessas memórias. – Lembrou Agatha, quase eufórica ao ver que a amada havia lembrado de tudo.

- Verdade, mas isso quer dizer que eu poderia ter evitado a sua morte, sempre tivemos a Glaive de Hades, era ela que estava dentro daquela caixa. – Gaia estava quase chorando – Eu não queria te perder, eu não quero. Você sempre foi a minha melhor amiga, a única que esteve do meu lado, além dos meus avôs.

- Recomponha-se, querida, nós já conversamos sobre isso várias vezes, minha morte não pode ser evitada, ela é o acontecimento chave para a sua vitória, você mesmo já me disse isso várias vezes.

Conforme Agatha ia contando para Gaia, a rainha descobria que havia um plano para devolver a democracia e à liberdade aos quatro roinns, tal plano havia sido arquitetado por Marla e Friedrich, cerca de 30 anos atrás, quando chegaram ao plano dos mortos. Gaia só sabia parcialmente do plano, que envolvia enviar a Glaive de Hades em forma de pulseira para Alex através do tempo para que eles pudessem vencer o Draconiano. A arma mágica do antigo rei fazia com que quem fosse atingida por ela entrasse em sintonia com o universo, se tornando um só com a morte. O corte da arma no ar permitia também abrir um portal para qualquer lugar na mesma dimensão, mas havia um porém, ambas as habilidades possuíam apenas dois usos no mundo mortal, antes que a arma se desfizesse e voltasse para o mundo dos mortos.

Gaia descobriu que, assim como seus avós, ela e Agatha, faziam parte de um movimento maior, que pregava pela liberdade ao redor de todos os 9 reinos da existência, e a libertação dos roinns era apenas o primeiro deles. Mais exausta do que antes, a menina resolve descansar, sabendo que isso a faria acordar no mundo dos mortais.

- Estou cansada, meu amor, vou voltar para o outro mundo, volto assim que puder.

- Espere, Gaia! – Agatha exclamou, um pouco exaltada – Eu preciso desfazer o feitiço da amnésia antes, mas você voltará imediatamente, sem conseguir dormir.

- Não tem problemas, mas como você fará isso?

Então, de súbito, a loira abraça Gaia e, selando uma união mais poderosa que a própria morte, encosta os lábios nos da amiga, pedindo passagem. O beijo durou apenas 5 segundos, mas, para ambas, foi mais importante do que qualquer outra coisa, foi mágico e verdadeiro.

- Assim. – Exclama Agatha, se afastando da amiga – Até logo!

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Gaia acorda e percebe que se encontra na cabana, todos os seus amigos já estão acordados, esperando por ela. Ao ser indagada, ela sabe que não pode contar tudo que aconteceu no mundo dos mortos, então fala apenas:

- Vamos vencer os tiranos, vamos derrotar o draconiano e vamos passar. Por Agatha! – e solta uma risada doce.

A Dor da TerraWhere stories live. Discover now