cap.2- A mais bela mulher que conhecera

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- Tudo começou quando eu tinha 17 anos ! Eu tinha fugido de Portugal porque em 1950 o Estado Novo estava no seu auge e bem... - acabei por hesitar um pouco isto não era fácil de recordar, pois tinham sido tempos difíceis.- ... eu não era propriamente um apoiante do Estado Novo, na verdade eu tinha sido preso pela  PIDE mais que uma vez, mas conseguia safar-me porque o meu pai era uma pessoa bastante influente no meio político.  Sofri muito na mãos daqueles "porcos", foi então que decidi fugir. 

- Para onde, Vô?- pergunta Aurora , a minha neta mais velha. 

 Por mais que ela ouça a minha história de amor com Julie, Aurora faz sempre a mesma questão.  - Penso

- Bem ... eu despedi-me da minha família, meti aquilo que mais precisava dentro de uma mala e comprei  um bilhete de ida, apenas de ida para o  primeiro navio que ia partir  para Salvador, naquela manha de 30 de Março de 1950. O meu pai mantinha ainda a nossa antiga casa no centro de Salvador por isso era um lugar óbvio para eu ir.

   Os meus olhos brilham um pouco ao recordar tudo isto, por momentos volto a ter os meus 17 anos e estou novamente no porto de Lisboa à espera do meu barco, olho uma vez mais para a minha menina e moça, a minha bela cidade, sei que tenho de partir, mas também sei que vou sentir falta das longas caminhadas que dava junto ao Tejo. Pego na minha mala e sem olhar para trás, embarco. Parto em paz para outro país porque sei se ficasse a minha vida seria um autêntico inferno. 

 A viagem dura sensivelmente três dias e  três noites , foram os dias e as noites mais longos da minha vida. A distância era como um escudo protector, que me protegia do Estado novo. Fiquei instalado numa bela suite, disso não me podia queixar.  A vida no navio não foi fácil, não havia muito que se pudesse fazer além de poder dar longas caminhadas pelo navio. 

 Ao fim desses  três dias, finalmente desembarquei em Salvador, e uma vez com os pés bem assentes na terra , ali em terras canarinhas senti-me novamente em paz e em segurança, longe de toda aquela repressão que se fazia sentir em Portugal. 

 Livre como um pássaro, decidi passear um pouco pela cidade. Ainda bem que tomei essa decisão, porque foi essa decisão que me levou a conhecer aquela que um dia seria o grande amor da minha vida . 

Amar em tempos de ditaduraWhere stories live. Discover now