CAPÍTULO 3

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(Jéssica)

Com seus lábios encharcados, Jéssica percebeu como uma novidade torna possível descobrir algo sobre si mesmo. Era que isso que a garota pensava quando Beca, apenas com um tubo transparente, a fez testar todos os movimentos dos seus lábios, que segundo a amiga, eram bem chamativos. Sua pele ficava ainda mais alva em contraste com sua boca, que brilhava num tom avermelhado. Enquanto os músculos da face espalhavam o brilho nos lábios, o contorno de suas pálpebras era pintado por Beca, que soltava muitas palmas para cada nova etapa da produção feita na amiga. Tudo isso no meio da rua, debaixo do sol das duas da tarde.

Nas proximidades do Santuário do Arauto dos milagres havia ruelas onde rolavam mais bolas de futebol do que pneus de carros, principalmente aquela rua onde ficava a entrada que o Senhor Fraque usava para receber as mercadorias de sua loja. O tamanho da entrada não exigia muita habilidade dos caminhoneiros que ali passavam, quase todo dia. Em companhia do grande portão, tinha uma porta de tiras de metal, com chapas também de metal soldadas, que era usada para a entrada e saída dos funcionários, e que também era o destino de Jéssica e Beca:

— Amiga você está de parar o trânsito!

— Ficou legal? Será que ele vai gostar?

— O Richardson? Meu irmão está louquinho por você, não me deu sossego hora nenhuma até você dizer sim.

— Mas sei lá! E se o dono chegar? Não é perigoso?

— Fica tranquila menina! O Richardson me disse que sempre tem um dia que Senhor Fraque sai e demora bastante, e qualquer coisa os outros meninos ajudam vocês. Vai na fé que vai dar tudo certo.

— Vou confiar em vocês. – concordou Jéssica sem olhar para Beca. – Não posso demorar muito porque ainda vou fazer o trabalho na casa do Cobi.

— Fica tranquila, e se faltar assunto beija logo. — Beca se cora com sua própria ideia — Ou então fala com ele sobre a guerreira forjada no calor da batalha, ele adora esse seriado.

— Então ele gosta de mulheres que lutam? — Jéssica franze a testa e coloca a mão no queixo com um ar de sorriso — Então ele vai gostar do que vou fazer.

— Como menina? Olha ele ali! — Beca deu um salto para chamar a atenção do irmão — Vai lá Jéssica, beija muito, está bem?

Alguns dos funcionários correram para abrir o grande portão, e de lá saiu a prova de que o Senhor Fraque era bom nos negócios. Sua caminhonete deslizava em cima de rodas douradas e tinha algumas peças ainda embaladas em plástico. Pendurados no portão, os funcionários esperaram o automóvel sumir no horizonte para voltar à loja. Ele tem muito mais do que isso, mas se mantem muito discreto. Assim pensou Jéssica sem demonstrar emoções.

A falta de lubrificante obrigava quem fosse abrir o portão menor a usar mais força do que realmente precisava, e o barulho do atrito do ferrolho interrompeu a conversa das amigas para revelar a presença do irmão de Beca. Somente com a cabeça para fora, Richardson fez um gesto e a loira ouviu da amiga para que fosse ao encontro dele. A garota passou pelo portão sem olhar no rosto dele, mas enquanto ele fechava o portão, o viu da cabeça aos pés. Fraquinho esse aí.

A morenice de Beca se repetia em seu irmão, três anos mais velho. Outra coisa em comum com a irmã era a boa aparência, não seria difícil outra garota aceitar aquele tipo de encontro. O garoto também chamava a atenção pela altura, Jéssica alcançava apenas seus ombros. Sem contar que os meses no reabastecimento do estoque da loja lhe deram alguns músculos, que estavam totalmente à mostra porque sua camisa descansava em seus ombros. O quê que ele está pensando? Perguntava-se a garota maquiada com as alças de sua mochila amassadas pela força das mãos, agora sob os olhares do garoto.

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⏰ Last updated: Feb 19, 2019 ⏰

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