Capítulo 1

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-Kate!- Sarah chamou.

Mas era tarde demais.

Os dedos de Kate escorregaram da precária raiz que utilizava de apoio para não morrer. Ela caiu. fitava o céu onde as primeiras estrelas apareciam para anunciar a noite, o momento parecia ser eterno e isso trouxe a sua mente a lembrança de quando Sarah a tinha ensinado sobre as constelações, mas Kate só conseguia enxergar pontos luminosos antes e agora. Enquanto sentia o fim chegando mais perto, olhou para Sarah e sentiu seus próprios lábios formando o nome dela mas nenhum som saiu de sua boca e então suas costas finalmente encontraram a terra, tirando o ar de seus pulmões e o brilho de seus olhos.

A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho
.

.

Elas fizeram uma pausa e apreciavam a paisagem das montanhas ao pôr do sol que ficava no meio do caminho da praia para casa. Estavam aproveitando o primeiro final de semana juntas e sozinhas de muitos, no caminho discutiam se Kate tinha mesmo trancado a casa e riram brincando que que no máximo levariam o sofá, já que era a unica coisa que valia a pena na casa caindo aos pedaços.

Sarah havia ido a um banheiro que encontrou em uma lanchonete minúscula ao pé da estrada e Kate ficara junto a cerca de madeira que dividia a rua do precipício, para olhar mais um pouco o show de cores que o céu apresentava junto com as montanhas antes de a pausa terminar. Kate Mizermann era ginasta, uma das melhores de sua cidade e não discutiam isso. Amava o que fazia mais do que se é possível imaginar, tinha um longo futuro pela frente. A pessoa mais viva que Sarah já havia conhecido, e esse foi um dos motivos para ela se encantar pela garota.

Ela jamais faria isso por conta própria pensou Sarah então, quem foi?

.

- Sarah!- não era mais que um sussurro, um movimento da boca, mas arrancou a garota de seu devaneio e ela se obrigou a olhar Kate, que focou em seu rosto no seu último instante de vida. Foi o que ela conseguiu fazer antes de colidir com uma pequena parte plana na montanha que ficava 15 metros abaixo do cerco precário de madeira, agora com seus restos caídos junto com a menina. Os olhos cor de mel dela ficaram vidrados voltados para o céu, mas sem vê-lo. Um fino fio de sangue saia do canto esquerdo de seus lábios. Ela se fora. E nesse instante a visão de Sarah escureceu, demorou um ou dois instantes para perceber que era poeira da estrada que uma moto familiar havia levantado ao sair às pressas. Não conseguia pensar em nada, mas reconhecia aquela moto. E muito bem.

Ela olhou fixamente para o corpo sem vida de Kate e deixou suas lágrimas saírem sem nenhuma resistência. As lágrimas que segurou na morte de sua mãe, mas dessa vez não conseguira aguentar. Estava insuportável. Então ela se deixou levar e pôs para fora em forma de gotas salgadas tudo que a atormentava. Veículos passavam pela rua, agitavam seu cabelo e suas roupas mas elas permaneciam imoveis.

Depois de ficar praticamente desidratada Sarah levantou-se do precipício e focou na lua que brilhava como se estivesse confortando-a. Não conseguia mais ver Kate, e nem queria. Quando quase se deixava levar em pensamentos novamente a grama alta ao seu lado farfalhou, e de lá saiu um corvo negro como petróleo, suas penas brilhavam com o luar e sua asa direita estava manchada com sangue de tom escarlate, ele era pequeno, e passava um ar de superioridade admirável. Mas antes que Sarah pudesse se aproximar para ajudar o pobre pássaro ele se afastou e voltou a se esconder no mato.

Desculpe-me por te assustar, eu só queria te ajudar a voar para você poder se alimentar do cadáver da minha namorada lá embaixo. Esse pensamento macabro quase a fez rir, mas o sentimento estranho logo se esvaiu ao pensar novamente no título que deu a Kate. Namorada.

Assassinaram KateWhere stories live. Discover now