Assassinaram Kate

Capítulo 2

- Para onde vamos? - Ellie perguntou trancando a lanchonete e indo em direção ao carro

- Casa.

- Mas que especifica! Jamais tive uma descrição de destino tão exata. – Ellie disse distraída refazendo seus cachos perfeitos – e... A ligação que ia fazer?

- Isso mesmo, meu celular está no porta-luvas. - as duas entraram no carro, que era vermelho brilhante.

Então Sarah contou aos pais de Kate o que havia acontecido, a mãe dela escutou em silêncio, mas dava pra se ouvir seus soluços e Sarah falou de quem imaginava ser a pessoa em posse da moto que havia saído às pressas dali, essa informação só deixou todos mais confusos e irritados, mas foi só depois que Sarah acabou seu relato os gritos começaram. A mãe de Kate rugia de dor e seu pai soluçava descontrolado.

Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.

Quando ela desligou o celular o silêncio recaiu sobre o carro, um capricho que Sarah conseguiu porque seu pai era fiscal de trânsito e provou que ela era totalmente capaz de dirigir com 15 anos.

Ellie Lucho, aquela garota peculiar, com cachos dourados, pele morena e olhos mais brilhantes que as estrelas, estava conquistando, aos poucos, total confiança de Sarah. Ela tentou quebrar o silêncio constrangedor:

- Então... Fale-me sobre você, eu gostaria de saber se a garota com quem estou dentro de um carro é uma psicopata, e se eu vou ter que abrir a porta e pular para a estrada para me manter viva – isso arrancou uma risada um pouco sem graça de Sarah e fez seus olhos mudarem de um azul gelado para a cor do oceano.

Com isso Sarah começou a falar, contou que sua mãe morreu quando tinha dez anos, que seu pai nunca encontrou alguém depois disso, que cantava, mas gostava mais da luta, que conhecera Kate na escola, aos 12 anos, e desde então estavam criando uma relação. Ouvi-la falar deixou Ellie cada vez mais interessada por Sarah, mesmo ela tendo um namorado, uma casa, amigos, mas no momento nada mais parecia existir além dela, Sarah e esta aventura, sua desconfiança se torna algo tão distante e improvável, como se tivesse sido uma alucinação. Sarah falava sobre Kate com tanta paixão, sobre como ela era uma ginasta incrível, como era linda com os olhos cor de mel e cabelos castanho claro, que Ellie quase conseguia imaginar Kate sentada dentro do carro conversando com elas.

Ellie escutava com tanta atenção que deixou Sarah impressionada e em tal agitação que seria capaz de falar por horas e horas mas deu a palavra a Ellie, para que pudesse conhecê-la melhor e saber se ela realmente não tinha visto também a moto ou quem estava nela para ajudar na investigação improvisada que estava se iniciando naquele momento.

***

- Casa.

Um lugar simples, organizado, em uma cidade pequena, seu lar. Sarah e seu pai se mudaram para lá após a morte de sua mãe, um lugar bem diferente da capital, onde viviam antes. Estava decorado com algumas luzes de natal, o que deixava o ambiente mais quente ainda, que já estava fervendo em plena madrugada. Ensaiou o que falaria, mas quando o viu correndo desesperado em sua direção só conseguira explicar vagamente quem era Ellie antes de se jogar nos braços de seu pai procurando aconchego, e só depois de suas lágrimas secarem pela segunda vez na mesma noite, conseguiu falar com a voz embargada:

- Eu a amava, pai, amava - os dois estavam com o rosto inchado, Ellie não sabia se o pai dela chorou por ver o sofrimento da filha ou com a notícia sobre Kate – acho que sei quem fez isso, mas não faz sentido.

Ele as levou para dentro de casa e pediu que Sarah se explicasse, ela falou o acontecido novamente, mas dessa vez de forma mais seca, como se contasse porque chegou mais tarde em casa. Isso assustou muito Ellie, que percebeu que os olhos de Sarah estavam de um tom cinza, cruel e gelado. Estaria o coração dela assim também? Mas tentou focar no mais sensato a se fazer, ligar para sua mãe e também avisar seu namorado a loucura que acabara de fazer. Enquanto tentava se explicar, omitiu quase toda a historia, dizendo que fora ajudar uma amiga que precisava de seu apoio para fazer uma busca.