Capítulo XXVIII - O tempo de Deus.

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"O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece

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"O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta."

(1 Coríntios 13.4-7)

São Paulo, 13 de outubro de 2012,

O mesmo teto, as mesmas lembranças. Foi inevitável não lembrar de Eduardo quando Teresa olhou para aquele teto branco do hospital. Pensou em como tinha mudado desde aquele dia até aquele momento. Ela olhou para os lados e respirou fundo. O médico havia dito que ela poderia voltar para casa dali a dois dias e mesmo que ela dissesse que já estava tudo bem, eles não a deixavam sair da cama.

-Teresa? -A enfermeira Marcela que a moça já conhecia apareceu pela porta.

-Sim?

-Você tem visitas.

Teresa franziu as sobrancelhas. Apenas sua mãe e Amara iam ali, e elas não precisavam ser anunciadas antes de entrarem.

-Mande entrar...

Marcela concordou e saiu, após dois minutos, Rafael surgiu pela porta. Vestia roupa social, então era certo que veio direto da reunião até ali. Teresa sentiu um frio na barriga ao ver o rapaz. A moça deveria estar somente o pó, após o acidente nem sequer tinha chegado perto de um espelho ainda.

-É, oi. -Ele parou no pé da cama.

-Oi.

-Está melhor? -Ela concordou com a cabeça.

-Você não teve machucados muito graves, sabia? Para o nível de acidente que você teve até os médicos ficaram impressionados.

-Vaso ruim não quebra. -Ela riu.

-Estou falando sério, acharam que poderia ser algo mais grave, você chegou aqui desacordada, com sangue escorrendo pelos lábios... -Ele olhou para o lado e sussurrou tornando difícil para que Teresa escutasse. -Acharam até que você iria morrer...

-Acho que ele já está meio acostumado. -Ela brincou.

-Tem que parar de colocar a vida dos outros à frente da sua, Tess. -Já os olhos de Rafael não tinham nenhum vestígio de brincadeira, eles eram duros.

-Como assim?

-Foi heroico e tudo mais, mas e se você tivesse morrido de verdade?

-Eu não tenho medo de morrer, Rafael.

-Mas eu tenho... -Ele falou baixinho como se quisesse chorar.

-Você tem medo de morrer? -Teresa perguntou confusa.

-Não, tenho medo de que você morra e me deixe.

Ela o olhou surpresa.

-Hum, bem e o Patrick? Ele foi à igreja? -Ela tentou desconversar.

-É, ele apareceu hoje de manhã, mas não ficou para a reunião, tudo o deixou muito abalado e pensativo, quem sabe agora ele veja que todas as atitudes que ele tem tomado, infelizmente, agora tem suas consequências.

Ela concordou. Patrick ainda tinha uma longa jornada pela frente.

-Bem, mas não foi para isso que eu vim aqui. -Rafael falou e passou os dedos pelo cabelo. -Eu vim para te devolver isso. -Ele tirou uma folha de caderno amassada de seu bolso e a estendeu para Teresa.

A garota pegou sem entender muito bem, mas logo reconheceu a folha que era de seu caderno e quando a abriu se lembrou da carta que havia escrito para Deus em relação aos seus sentimentos para com Rafael. Seu peito se apertou e ela juntou toda a coragem que tinha ainda e olhou para o rapaz.

-Você...?

-Sim, eu li. -Agora ele sabia o que de fato ela sentia por ele. -E te peço perdão por isso, sei que foi falta de educação minha, mas não pude evitar.

Ela concordou.

-Mas isso não tem que mudar nada... -Teresa começou a dizer.

-É claro que tem. -Ele chegou mais perto.

-Você está noivo da Tânia, Rafael!

-Estava. -Ele estralou um dos dedos.

-O que?

-Tânia desfez tudo ontem, sei que é muito recente, mas para mim, parece que já passaram se dias. Ela disse que o Altar não era o lugar dela, disse que tinha sonhos e projetos, que largar tudo aquilo era pedir demais. Eu sempre achei que ela estava disposta a tudo, mas estava incrivelmente enganado. E ela fez algo que poucas fariam, resolveu agir pela razão do que pela emoção no auge do nosso noivado.

-Então?

-Estou perguntando a última vez, Teresa. Mas dessa vez, a pergunta não é somente em relação a mim, mas você quer o Altar?

-O Altar?

-Sim! Todas às vezes que te perguntei se queria orar, era comigo. Era para mim. Nunca pensei que fosse não somente uma escolha minha, mas também era de quem estava ao meu lado também. Ela não seria somente minha esposa, mas ela é esposa de Deus. Esposa não do pastor, mas do Altar. Fui tão imaturo, Tessa!

-Eu nem sou obreira ainda, Rafael. -Ela olhou para suas próprias mãos.

-Eu não me importo de te esperar dessa vez, se você não se importar de esperar também...

Teresa olhou para os olhos castanhos de Rafael e viu o quanto os dois haviam amadurecido.

Não era o tempo deles que importava, era o tempo de Deus.

-Eu vou pensar. -Ela finalmente respondeu e Rafael não contestou. Ele se levantou e saiu andando do quarto fechando a porta atrás de si.

Mesmo cheia de fios, Teresa se colocou de joelhos no chão. Dessa vez, não erraria novamente. Conversaria com Deus, pediria sua direção, o colocaria na frente de tudo. E mal sabia que enquanto orava, Rafael andava pelos corredores do hospital também orando e a certeza de que o tempo de Deus para os dois havia chegado sobreveio sobre eles.

FIM!

FIM!

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Feita de SentimentosWhere stories live. Discover now