Capítulo 04

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*Ooooi galerinha! O que será que vai acontecer? Hoje é um dia importante para Therissa, mas será que a alegria vai durar? hehehe a música do capítulo, e da maioria das vezes que postei, são de uma artista francesa chamada Cecile Corbel, são ótimas para escritores, especialmente de fantasia, por terem aquela aura mágica sabe? Espero que gostem da escolha! <3 *

Era um dia importante para o Reino. A Festa das Oferendas. Todo ano cada família que fora agraciada com um filho ou filha levava presentes para a Grande Flor, que eram colocados na margem do lago onde ficava a planta. O evento tinha a duração de praticamente um dia inteiro, a partir do momento em que o velho vigia anunciava o despertar da gigantesca entidade.

Por conta da sua importância, os soberanos eram sempre os primeiros a iniciar as festividades. Como o marido falecera havia alguns anos, Alexandra II conduzia a cerimônia sozinha, acompanhada do ancião. Trajando suas mais ricas vestes – um manto longo roxo escuro ornamentado de fios de ouro desenhando flores – a Rainha seguia na liderança da procissão que iria até a borda da floresta onde descansava a entidade e de onde apenas seguiria Alexandra e o ancião. Após as formalidades que eram exclusivas da soberana, o homem abriria a passagem para que os aldeões pudessem adentrar livremente e deixar suas oferendas para a planta, fechando a entrada ao final do dia.

A procissão seguia pela rua principal, onde janelas foram decoradas com tecidos coloridos e flores de papel de diversas cores na forma da Grande Flor. Ravenna e alguns guardas da infantaria seguiam logo atrás da carruagem da mãe, que era aberta e permitia que o povo visse e acenasse para sua soberana.

Titania não aparecera alegando um súbito mal-estar, o que deixara a Rainha furiosa. "Era manha!", dissera Alexandra. "Se ela acha que faltando com suas responsabilidades não vai cumprir com aquilo que eu ordenei ela não perde por esperar!" e saiu dos aposentos aos berros.

Aura seguia um pouco mais atrás da Infantaria, um sorriso no rosto e uma grinalda de flores cor-de-rosa nos seus cabelos brancos como da irmã do meio, mas Ravenna via o que ninguém mais podia: apesar do sorriso, as mãos da irmã tremiam conforme ela tirava flores de papel da cesta que carregava e entregava para as pessoas da rua e sua expressão era fixa demais para ser natural. O que quer que Aura tenha sonhado deixara-a apavorada e por isso Ravenna reforçara a guarda durante o festival.

A procissão parou na orla da floresta, onde ninguém a não ser a Rainha e o ancião entrariam. Esse era o momento que mais preocupava a jovem guerreira: ali dentro não haveria guardas para proteger a soberana e ela também não podia entrar até que o vigia abrisse o portal. Ravenna sugerira a mãe que deixasse um guarda acompanhá-la, mas esta negou veementemente. A dupla desceu da carruagem e adentraram a floresta sem olhar para trás.

A Rainha saiu na frente seguida do homem. Ravenna olhou para as altas árvores e seus olhos se voltaram para Aura. A menina tinha sumido.

— Aura! – a guerreira gritou antes de ver o vislumbre dos cabelos trançados da princesa adentrarem a floresta.

Alexandra e o ancião andavam a uma distância de três metros um do outro sem uma palavra ser proferida. Ambos sabiam que não podiam se comunicar até que a cerimônia principal estivesse finda. Apesar do silêncio externo, a mente de Alexandra era um turbilhão de pensamentos.

Ela nunca quisera ser tão tirânica com a filha primogênita, mas Titania se mostrava tão irresponsável e negligente desde pequena, que a Rainha nunca tivera muita paciência nem muito carinho ou afeição maternos para com a menina. O fato de não se ter nenhum registro de três filhas regentes também não servia de ajuda alguma.

Ravenna, pelo contrário, era sua obra prima, mas além do fato de não ter sido a primeira a abrir os olhos, também parecia que a menina queria um abismo de distância da mãe – abismo este que só aumentou com a morte do pai.

Por fim, Aura. A rainha não sabia o que fazer com ela: pouco importava o fato de que as três filhas tivessem a mesma idade, a caçula era doce demais para aguentar as durezas que o trono traria. Mas ao mesmo tempo ela não queria que a menina mudasse jamais. Era uma brisa fresca naquele castelo.

Os passos do ancião haviam se calado. Alexandra olhou para trás, mas não encontrou o homem em lugar nenhum. A Rainha se viu tomada por uma breve onda de medo: sozinha e sem poder chamar por ninguém até o fim da cerimônia, a soberana considerou voltar, mas no segundo seguinte o pensamento foi descartado. Ela era a Rainha e não poderia voltar por medo de ficar sozinha na floresta. Se estou aqui, irei até o fim, pensou de cabeça erguida. E continuou andando, passando árvore por árvore.

Onde está você, Aura? essa frase retumbava nos ouvidos de Ravenna como um mantra. A jovem perdera a irmã de vista alguns minutos após adentrar a floresta e agora olhava na terra por pegadas e nos galhos de arbustos por um pedaço de tecido do vestido azul-escuro da caçula.

De repente, uma coisa colorida chamou a atenção da guerreira: num arbusto mirrado havia um pedaço disforme de tecido vermelho escuro. Da mãe não era, nem da irmã ou do ancião. Havia outra pessoa ali e esse pensamento fez o sangue de Ravenna gelar por uns instantes conforme a lembrança da premonição da irmã surgia em sua mente.

Ela precisava achá-la. E rápido.

Alexandra parou para recuperar fôlego. Estava perdida aparentemente, já que era a terceira vez que passava por aquela árvore. Ela fizera aquele caminho todos esses anos desde que se tornara soberana, mas hoje parecia que a floresta virara um labirinto. O fato de ela estar sozinha também só aumentava essa sensação de perdida.

Eu preciso continuar, pensou ela, mas assim que se afastou da árvore onde recostara um vulto brilhante veio na sua direção e a lâmina penetrou-a. Ela soltou um grito de dor fazendo uma revoada de pássaros levantar voo. Seus olhos foram para a faca enfiada em sua barriga e depois para o agressor.

"Quando três sementes nascerem da Grande Flor, a Dinastia Firenze chegará ao fim através do fogo...". Fogo. Um riso estridente saiu dos lábios de seu ceifador e Alexandra II viu seus cabelos vermelhos como chamas. A Rainha começou a cair lentamente no chão e um segundo grito foi ouvido: Aura. A princesa olhava de olhos arregalados, da mãe para o assassino.

Assim que o primeiro grito foi ouvido, Ravenna disparou pelas árvores como uma flecha. Se essa fosse a mãe, algo gravíssimo havia acontecido. Se fosse a irmã... ela preferia não considerar aquela hipótese. Quando avistou a Rainha, diminuiu o passo e se escondeu atrás de um arbusto, mas uma árvore bloqueava sua visão de quem quer que estivesse ali. Um riso foi ouvido que gelou o sangue de Ravenna e ela pode ver uma capa vermelha que cobria o rosto do assassino, mas que permitia ver que era uma mulher pelos contornos do corpo debaixo do tecido.

Ela viu o corpo da mãe lentamente cair no chão e o cabo do punhal brilhou de onde estava cravado. O sangue fazia a terra grudar em suas vestes cerimoniais, quando outro grito se espalhou pelo ambiente e Ravenna finalmente viu a irmã.

— Por quê? Por que você fez isso com a nos... – antes de Aura terminar a frase a mulher bateu com um pedaço de tronco na cabeça da caçula e esta desmaiou. Com o movimento o capuz da capa deslizou, revelando longos cabelos vermelhos como fogo trançados de forma semelhante aos da caçula, uma tradição das moças da região.

— Maldita! – Ravenna tirou a espada da bainha e correu na direção da agressora da irmã e assassina da mãe. Como ela ousava?!

A mulher nem mesmo se virou completamente para encará-la. Ela apenas olhou por cima dos ombros e fez labaredas surgirem do chão e impedir o avanço da guerreira que urrava descontroladamente. Somente quando as chamas a cercaram num perfeito círculo, sem queimar nenhuma árvore, foi que ela percebeu o nível de sua impotência. A intenção era apenas de prendê-la ali. Ravenna viu a mulher erguer com um feitiço o corpo de Aura e sair pela floresta sem nem olhar para trás.

As Três Irmãs #ContestLettersWhere stories live. Discover now