Prólogo

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Tenho tantas recordações da nossa vida juntos, que nem sei por onde começar, mas vou começar das primeiras lembranças. Quando era pequena, minhas lembranças dessa fase são vagas, mas minhas festas de aniversário estão vivas em minha mente, em cada uma delas, ele estava lá. 
Até então era só uma garotinha tímida, e ele era o policial, filho de um falecido amigo do meu pai e pra mim uma espécie de primo mais velho, aos sete anos eu o amava como se fosse da minha própria família, eu o chamava de tio nessa fase. Poucos anos depois, ele se casou com Giorgiana, a melhor amiga da minha irmã, e nessa eu passei da garotinha tímida para aadolescente rebelde
O auge foi aos quinze anos, quando eu fugi pela primeira vez da minha casa, e na mesma época o casamento de Joey que estava com 31, começava a desmoronar. Mas isso nem passava pela minha cabeça quando apareci na porta dele pedindo por ajuda. 


2 anos antes

Eu apertava a campainha insistentemente, e cada vez que ela soava em meus ouvidos, sentia um aperto no peito, só conseguia pensar que estaria muito ferrada se Joey não estivesse em casa. 
— Já vai! — A voz dele fez com que eu soltasse o ar que estava prendendo de nervoso, ele abriu a porta e eu me joguei nos braços dele. 
— Que bom que você tá aqui! 
— Por onde você andou, Ally? Você sumiu por três dias seguidos e não deu nenhuma notícia. Você tá bem? — Ele me olhou por completo, preocupado com meu estado físico. 
— Eu tô bem. — O abracei novamente. 
— Preciso ligar para seus pais e avisar que você tá bem. — Me afastei bruscamente dele. 
— Não, por favor! Não liga pra eles. 
— Olha pra mim, minha baixinha. — Ele segurou meu rosto com as mãos. — Seus pais estão muito preocupados com você. 
— Eles então que aprendam a confiar mais em mim, e que parem de me sufocar tanto. — O choro crescente explodiu junto com minha raiva infantil. 
— Foi por isso que fugiu com aquele safado? — Ele alterou um pouco a voz, mas logo depois respirou fundo, senti que ele tentava se acalmar. — Falando nisso, onde ele está? Quero falar com ele. 
— Assim que ele descobriu que meu pai era o delegado, ele fugiu. Ele é um grande idiota! — Enxuguei as lágrimas, tentando parar de chorar. — A Gio tá aqui?
— Não, ela saiu. 
— Posso ficar aqui essa noite? — Supliquei, não queria enfrentar meus pais tão cedo, eu já sabia o tamanho da bronca que levaria. Senti que ele pensou um pouco e sua resposta parecia ser negativa e insisti. — Só essa noite, amanhã volto pra casa. Eu juro! 
Ele me abraçou e apenas assentiu, me fazendo prometer que na manhã seguinte voltaria para casa. Logo depois de tomar um banho e me vestir com uma blusa dele que caberia duas de mim, me deitei e ele se deitou num colchão perto da cama. 
— Tio Joseph? — Eu o chamei com um sussurro. Ele soltou um resmungo em resposta. — Se meu pai souber que estou no mesmo quarto que você, te mata. 
— Acho que a Giorgiana não ficará muito feliz com isso também, mas não tem porque se preocuparem, você é só uma adolescente. 
— Tem certeza que ela não vai se importar? Não quero incomodar. Quando ela volta? 
— Não vai, você é como uma sobrinha de consideração. Ela chega amanhã na hora do almoço. — Ele se ajeitou no colchão. 
— Promete que não vai contar isso pra ninguém? — Perguntei com um pouco de medo que ele falasse tudo pro meu pai e minha mãe, a briga seria pior ainda. 
— Prometo. 
— Tem que ser sério, me dá seu dedo mindinho e diga que promete não contar. — Ele não se moveu. — Tô falando sério, tio! 
Ele se sentou e estendeu o dedinho pra mim, entrelacei meu dedinho no dele. 
— Eu prometo não contar nada pra Gio também. — Disse sorridente. 
— E eu prometo que nem sua mãe e nem seu pai saberão que você tá passando a noite aqui hoje. — Ele entrelaçou sua mão na minha. — Minha pequena, saiba que vou estar sempre aqui pra você, viu? Sempre. — Eu assenti sem entender a profundidade daquela promessa, ele sorriu antes de desejarmos boa noite um para o outro e irmos dormir. 

O mais importante foi que a partir daquela mesma época, eu comecei a gradualmente perceber que ele não era o meu tito ou tio, ele era um homem e eu uma adolescente percebendo que o amor que tinha por ele, era mais do que eu supunha. Só que isso eu só pude descobrir mais tarde, entre brincadeirinhas inocentes e algumas nem tão inocentes assim, percebi que de uma paixão platônica adolescente pode surgir um grande amor. 


Perigo Iminente (Livro 1 - Duologia "Perigo") DEGUSTAÇÃO! Onde as histórias ganham vida. Descobre agora