Capítulo 1

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Todos os dias eu acordava cedo pra ir para a escola, mas nunca cedo o suficiente quando Joey passava aqui em casa pra tomar café com a gente, e é propositalmente. O motivo? Eu gosto do cara que todo mundo vê como se fosse um tio pra mim. 

Há dois anos, depois de ter fugido e me refugiado em sua casa, as coisas ficaram estranhas pra ele, porque uma semana depois daquele dia fatídico, ele se separou da Giorgiana. Ninguém nunca entendeu, mas ela jurava que ele a havia traído várias vezes enquanto ela viajava a trabalho. Desde então, eu venho alimentando por ele uma paixão secreta, totalmente platônica por enquanto. Atualmente eu tenho 16 (faço 17 em breve) e ele 34 anos, e o fato dele ser melhor amigo do meu pai ainda é um empecilho, Mas eu sei que num futuro bem próximo, seremos um do outro. E para isso, eu faço o que tem de ser feito. 
— Bom dia! — Cheguei na cozinha e meu pai lia jornal, enquanto minha mãe e Joey comiam. 
— Bom dia, querida do papai. — Meu pai me puxou para um abraço. Abracei minha mãe e dei um abraço e um beijo demorado no rosto de Joey.
— Bom dia, pequena. — Joseph disse concentrado no pão que comia. 
— Minha querida, não se esqueça que hoje tem que levar aquele trabalho de geografia. Você precisa melhorar suas notas. — Minha mãe disse me olhando com visível preocupação. 
— Tem perdido nota, Alice? — Joey me olhou atento. 
— Só tenho dificuldade em geografia, nada demais. — Olhei pra minha mãe com um olhar quase assassino por fazer parecer que sou uma burra. — Minha mãe exagera um pouquinho às vezes. — Olhei para o relógio pendurado na parede da cozinha e dei um salto da cadeira, fingindo espanto pelo horário. — Tenho que ir, ou vou me atrasar pra aula. 
— Quer que eu te leve? — Meu pai dobrou o jornal e eu ia assentir, no fundo torcia pra que Joseph me levasse, o que havia se tornado algo comum nos últimos tempos. 
— Você precisa passar na casa do meu pai. — Minha mãe falou, lembrando meu pai do compromisso que ele havia feito de ir visitar a casa do meu avô. 
— Como fui me esquecer disso? — Ele de um tapa na testa e se virou para Joey. — Pode levá-la de novo? 
— Claro, sem problema. — Ele disse terminando de comer. 
— Então vamos logo! — Fui até o sofá e peguei a mochila. — Tchau pai! Tchau mãe! — Gritei da sala. — Vem, Joey!
Assim que entrei no carro, cruzei a perna e a saia que usava subiu um pouco, ele sempre finge que não repara, mas já o vi olhando algumas vezes. Acredito que qualquer hora dessas, ele não resiste e acaba revelando que no fundo ele me deseja da mesma maneira que eu o desejo. 
— Então, Joey. — Eu disse colocando o cinto. — Como está o caso daquele cara que matou a garota deixando-a morta em um beco? 
— Como você sabe disso? — Ele disse espantado enquanto ligava o carro. 
— Não sou idiota, escuto tudo que você conversa com meu pai, ou esqueceu que tratam desses assuntos na sala da minha casa? 
— Mas isso não quer dizer que deva saber dessas coisas. — Ele passou uma mão no cabelo rapidamente ajeitando-o. — Deve fingir que não ouviu. Esqueça isso. 
— Não irei me esquecer. — Eu levantei uma sobrancelha e virei meu corpo pro lado dele e minhas pernas ficaram um pouco abertas, Joey parou no sinal e quando se virou seus olhos pousaram nelas por um instante. — Me desculpe. 
Uma buzina soou logo depois que me calei e ele deu um pulo no assento, se virando pra frente. 
— Certo. — Ele sacudiu a cabeça e fez uma careta. — Digamos que o caso estava andando, mas agora está estagnado. 
— Só isso que vai me falar? 
— Se dê por satisfeita, não posso revelar mais do que isso, detetive. — Ele sorriu, e eu derreti por dentro. Aquele homem me mataria do coração a qualquer instante. 
— Por enquanto. — Eu disse enquanto ele estacionava o carro em frente à escola. — Tchau, Joey.
Eu desabotoei o cinto e me inclinei como sempre faço, e o abracei ao mesmo tempo em que beijava o rosto dele, mas, desta vez, enquanto o abraçava, peguei a arma dele. Eu sabia que ele nem notaria porque toda vez que o abraço e o beijo, ele fica tenso, todo estranho. 
Desci do carro e ele acenou antes de dar partida no carro, eu fiquei parada na calçada, só esperando e então o carro veio de ré, em uma velocidade que com certeza não era permitida, ele estacionou perfeitamente, como um bom detetive treinado deve fazer, estilo 007. 
— Alice? — Ele me chamou ao abaixar o vidro. E eu me inclinei na janela, colocando a cabeça pra dentro do carro. 
— O que foi? Já sentiu saudades? — Sorri pra ele que simplesmente estendeu a mão pra mim. Eu estendi e entreguei a arma pra ele que sacudiu a cabeça como sinal de reprovação. — Você às vezes é meio sem-graça, Joey. Precisa se divertir mais, levar a vida com mais diversão. Se quiser, só me avisar. — Pisquei pra ele, que apenas colocou os óculos escuros de volta. 
Eu me afastei do carro e ele acelerou, cantando pneus. Ouvi o meu celular tocar insistentemente, abri minha mochila e ao olhar o visor do celular, dei um suspiro. 
— Oi, Hilary. — Minha irmã havia decidido por me ligar justo na hora que ia estudar, bem típico dela fazer as coisas sem pensar. — Não posso demorar, tô atrasada pra aula. 
— Não vou te importunar, Alice. Só quero perguntar se nossos pais vão estar em casa hoje durante a tarde. 
— Acho que nossa mãe vai estar na lanchonete e o pai vai estar onde sempre fica durante a tarde, no trabalho. 
Minha mãe parou de trabalhar depois que nasci, e vivia reclamando que estava cansada de ficar parada e então meu pai comprou uma lanchonete, que era um dos lugares mais frequentados da cidade, todo mundo adorava o local, pois minha mãe sempre levava bandas para se apresentarem, e o cardápio era um dos melhores da cidade. 
— Ótimo! Depois daquela briga de semana passada, não quero encará-los e preciso buscar minha carteira de motorista que esqueci em cima da mesinha da sala. — Ela havia tido mais uma das várias discussões na semana anterior porque havia decidido se casar com um cantor pop famoso chamado Robin, e na mente do meu pai, ele era um vagabundo, rico, porém vagabundo. Mas aquela era só mais uma das brigas deles, pois na verdade as brigas deles eram semanais, todas as vezes que Hill nos visitava era uma briga diferente. Minha irmã era a ovelha negra da família, havia saído de casa assim que teve a maioridade e meu pai não podia mais prendê-la em casa, e desde então viveu sozinha. Então ela engravidou de um policial subordinado que trabalhava pro meu pai, aos 20 anos, e foi nessa mesma época que Joseph se casou com Giorgina. Depois disso ela definitivamente se afastou da família, e atualmente aos 24 anos, ainda causa muitos problemas e mete todo mundo nas suas confusões. 
— Tá bom, me deixe ir ou irei me atrasar de novo. 
— Se você não fizesse isso de propósito pra pegar carona com o Joey, não teria que preocupar com atrasos. — Não entendo o que você quer dizer, Hill. — Respondi fingindo não entender aonde ela queria chegar. 
— Sister, a gente não vai ter esse papo de novo. Eu sei de tudo, e você também sabe que eu sei. 
— Ai, que papo confuso. — Eu disse enquanto caminhava pelos corredores da escola. — Vou desligar. Tchau. 
Eu desliguei antes que ela continuasse me jogando contra parede e me fizesse falar mais do que devia, ela sabia dos meus sentimentos por Joey e eu não queria nem mesmo correr risco de confirmar sobre a teoria de que eu sou apaixonada pelo meu suposto “tio”. 
— Oi, Alice. — Sorri ao ver minha melhor amiga ao lado de Edward que sorria pra mim como se me ver fosse a coisa mais interessante no mundo. 
— Oi, Lili. — A abracei e depois fui até Edward que também me abraçou. 
— E aí, linda? — Ele era o cara mais gato do colégio, e provavelmente nos teríamos algo sério se não fosse o fato de que sempre o dispensava depois que ficávamos, não que eu seja prepotente, nem nada disso. Eu simplesmente não conseguia pensar em me relacionar seriamente com ninguém que não fosse o Joseph.
— Achei que tivesse sido expulso depois de pichar a parede da diretoria, Ed. — Disse rindo e me sentando perto deles. 
— Também tinha achado. — Cecília apoiou os braços na mesa atenta ao olhar de Ed. 
— Não fui e nem vou ser, pelo menos enquanto meu pai for um bilionário dono de uma rede de hotéis e puder fazer “doações” para o acervo cultural do colégio. — Eu ri dele que colocava os óculos escuros. 
— Isso que dá estudar em uma escola onde todos os meus amigos são ricos e eu não, fico chocada quando algum de vocês simplesmente joga o dinheiro e a riqueza de vocês na minha cara. — Eu disse fazendo uma falsa cara de desapontamento. Desde criança fui muito estudiosa, e por isso consegui uma bolsa integral naquela escola onde só os melhores e mais ricos estudavam, eu não curtia e nem tinha paciência com a escola, só estudava muito porque sabia que era importante pros meus pais e principalmente pro meu futuro. Nem era tão imatura quanto parecia. 
— Ei, não me inclui nisso. — Lili disse levantando um pouco a voz. 
— Claro que te incluo, as pessoas daqui nem imaginam que você seja simplesmente uma das pessoas na fila de sucessão ao trono de Mônaco, mas eu sei disso, Vossa Alteza. 
— Te mato se repetir isso de novo! — Ela disse sussurrando. — Fujo das minhas raízes com todas as forças e por isso vim pra outro país morar com minha tia. 
— Certo, certo. — Eu disse levantando as mãos como se me rendesse. 
— Vocês aí no fundo da classe, poderiam fazer silêncio? Pretendo iniciar as aulas. — A professora sorriu irônica e nós três nos calamos, mas assim que ela virou as costas caímos na gargalhada o que quase resultou a nossa expulsão da sala. 


Na hora de ir embora, me surpreendi ao ver Hill me esperando na porta do colégio. — O que faz aqui, Hill? — Ela tirou os óculos escuros do rosto. 
— Vim te buscar, fiz as pazes com a nossa mãe e ela me pediu pra fazer esse pequeno favor. 
— Posso ir embora com o Ed. Ele se ofereceu pra me dar carona. 
— Eu se você você vinha comigo. Precisamos conversar... Aliás, já passou da hora. — Entrei no carro e ela me lançou um sorriso antes de colocar os óculos novamente e arrancar com o carro. Chegamos na lanchonete sem trocar uma palavra e entramos juntas no local. 
— Oi, mãe. — Fui até ela e dei um beijo no rosto dela que estava contabilizando alguma coisa no balcão. Ela tirou os óculos de grau e me deu um “oi” antes de se virar para Hill.
— Obrigada, filha! — Ela colocou os óculos novamente. — Querem comer alguma coisa? 
— Batata frita, é claro. — Eu disse colocando minha mochila atrás do balcão. 
— Você precisa almoçar direito. — Minha mãe disse e eu bufei. 
— Porque pergunta se queremos comer se não vai me deixar realmente comer o que quero? — Perguntei rolando os olhos. 
— Tudo bem, vou pedir ao Hernandez pra preparar uma porção generosa de batatas fritas pra vocês! 
Enquanto isso, Hill me chamou para se sentar com ela em uma mesa bem distante do balcão, provavelmente pra que nossa mãe não nos ouvisse. 
— Então, o que quer? — Disse enquanto me sentava. 
— Sei sobre sua paixonite pelo Joey. — Tentei não esboçar uma reação. 
— De onde surgiu essa novidade? — Cruzei os braços, uma clássica tática de defensiva corporal. 
— Eu ouvi você conversando com a Lili há algum tempo.
— E daí, onde você quer chegar com esse papo? 
— Eu quero te ajudar. — Ela sorriu e eu fiquei totalmente surpresa. Não porque ela fosse contra mim ou qualquer coisa assim, mas porque nós nem conversávamos direito desde que ela saiu de casa. 
— Acho suspeito. O que você ganha com isso? — Perguntei sendo completamente sincera. 
— Acho que não devia ficar enchendo o saco com essas perguntas, porque se o nosso pai querido desconfiar disso, sua vida está acabada. Pegue minha situação como exemplo. — Trouxeram refrigerante para nós e ela serviu. — Eu me envolvi com um policial, e você sabe que pelo fato dele trabalhar com tantos policiais e ver como a maioria é corrupta, ele acha que todos são assim também. 
— Eu queria ser policial um dia, acho que ele não vai gostar muito da ideia. — Disse fazendo um bico. 
— Não acho que isso vá incomodá-lo, o que vai incomodá-lo é se namorar um policial e o fato desse policial ser o melhor amigo dele, será o fim da picada. Irá doer pra caramba, e você sabe disso. 
— Nem me fala. Já tá difícil fazer com que Joey assuma que sente algum tipo de atração por mim. 
— Eu estou falando exatamente disso. — Ela bebeu um gole do refrigerante. — Tenho uma ideia perfeita, mas você vai ter que da sua ousadia. 
— Se soubesse as coisas que já tenho feito. — Rolei os olhos. 
— Brincadeiras de criança se forem comparadas as minhas ideias... Eu sou adulta, não se esqueça. 
— E seu namorado, aliás, agora é noivo, né? Ele tem mais de 30 anos. — Ela assentiu. — Eu topo. 
Estendi a mão e ela entrelaçou os dedos nos meus, era como um pacto secreto, uma aliança que começava a se formar ali e as ideias que ela me deu depois, foram incríveis e me deram a força e a coragem que precisava pra começar a jogar mais pesado do que já vinha jogando.

Perigo Iminente (Livro 1 - Duologia "Perigo") DEGUSTAÇÃO! Where stories live. Discover now