Prólogo.

722 73 8
                                    

O tempo estava nublado; o céu praticamente cinza e com nuvens carregadas d'água, encontravam-se prontas para desabarem sobre aquele sítio já cheio de barro e poças grandes feitas por chuvas anteriores. O clima parecia que duraria pelo ano todo, já que naquela parte da Coréia do Sul quase nunca fazia sol, muito menos parava de chover; às vezes o estado da temperatura era totalmente catatônico, com menos de dez graus, tendo direito a neblina, neve e tempestades.

Naquele instante, nada parecia diferente. Havia uma neblina fraca atrapalhando o motorista do carro de aplicativo a dirigir e as estradas cheias d'água dificultavam nas curvas, fazendo o veículo ultrapassado derrapar sobre o chão. Sorte que pelo menos naquela lata-velha tinha cinto de segurança para os passageiros no banco de trás.

Com a cabeça apoiada no vidro da janela do carro, Hoseok tinha um fone ralé nos ouvidos e um celular mais velho ainda descansando sobre a mochila rasgada em seu colo. Suspirando fundo, o Jung encolheu-se no banco de pano e fechou brevemente os olhos, coçando o queixo pelo desconforto insaciável que sentia em meio àquele silêncio estranho.

Espirrando pelo ar mesmo gélido parecer estar seco, o de madeixas avermelhadas tirou uma máscara de dentro de sua mochila surrada e colocou no rosto, protegendo o motorista grisalho de um possível resfriado. Bocejando fraco, Hoseok desligou a música que escutava e ajeitou a postura, arranhando a garganta e ganhando a atenção do senhor que dirigia o automóvel.

— Pode me dizer se estamos chegando, por favor?

— Faltam apenas uns quinze minutos, mocinho. — Ele respondeu, concentrado na pista.

Concordando com a cabeça, Hoseok olhou janela afora e não conseguiu observar quase nada bonito, já que a maioria era somente árvores úmidas e casas caindo aos pedaços.

Depois que seu pai veio a falecer em um acidente no trânsito, o Jung não teve alternativas a não ser se mudar para a casa de sua mãe em uma cidade no interior, esta que o garoto de dezenove anos nunca nem ao menos tinha ouvido falar em toda sua vida. Ainda mais sobre sua mãe, que quando se separou de seu pai deu as costas para todos e fugiu.

Notando o carro parar aos poucos em frente a um rancho aparentemente grande, Hoseok gemeu baixo em frustração; não queria ter que entrar naquela casa, não queria ter que conviver com sua mãe e com ninguém que se ligasse a ela.

Agradecendo o motorista pela corrida de duas horas em silêncio, o Jung pagou o que devia e apanhou as malas, que, no entanto, eram apenas sua mochila e uma maleta de maquiagens. Oras, o menino tinha acabado de sair da puberdade, ainda usava aparelho e seu rosto era totalmente oleoso e espinhoso.

Caminhando com seu All Star preto já antigo nos pés, Hoseok nem ligou por estar sujando-os de lama mole. Parando em frente a uma casa pequena feita de madeira, o Jung deu duas batidinhas na porta e esperou que alguém lhe atendesse. Percebendo que algumas gotas geladas caiam do céu, indicando que iria chover, o Jung bateu mais algumas vezes na porta e assustou-se quando viu uma mulher talvez um pouco mais alta que si, de cabelos ruivos e um sorriso pequeno no rosto puxar-lhe para um abraço.

Meio desnorteado, Hoseok afastou-se da mulher e curvou-se noventa graus, em seguida arrumando os óculos de armação redonda que havia escorregado sobre seu nariz. Falando que desejava falar com dona Jung Ah-ri, Hoseok viu a moça rir e comunicar:

— Oh, querido, sou eu, a sua mãe. — Sorriu dócil, mas recebeu em troca apenas um sorriso forçado.

— Olá. Eu vim... morar com a senhora, espero que não se importe. Qualquer coisa eu posso arranjar um espaço para mim e conseguir um emprego para me sustentar.

— O quê? Não, não pense isso, por favor. Minha casa é a sua casa. Você está na idade de estudar e se formar em uma boa profissão. A cidade pode ser pequena, mas tem faculdades muito boas. — Antes mesmo que Hoseok pudesse respondê-la, ela continuou a tagarelar. — Vamos, vamos, entre, está muito frio. Fique à vontade, moro sozinha e pela manhã os funcionários chegam. Sente-se, eu preparei um jantar especial para você.

Unucitated pleasure.Where stories live. Discover now