Capitulo V

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Abro os olhos, encarando um teto cinzento que paira acima de mim. Com esforço, eu me sento, sentindo agudas dores na nuca que se espalham por todo o meu corpo. Minha cabeça parece girar e eu preciso de alguns segundos até que a tontura desapareça e tudo volte ao seu devido lugar. Respire fundo, Juliet. Quando finalmente consigo focar, levanto o rosto e noto alguém em cima de uma cama, enquanto eu estou acorrentada na porra do chão.

Um garoto de cabelos escuros e olhos azuis me encara perplexo como se eu fosse um fantasma. Seu rosto, um pouco amassado de sono, tem traços nobres e finos, emoldurado em uma pele exageradamente clara.

— Isso tem que ser brincadeira —.Ele diz, ainda imóvel.

— Será que você poderia me soltar daqui? — Eu peço alguns segundos depois, quando percebo que ele não pretende sair da cama.

— Eu pareço ter as chaves?

Faço uma  pequena anotação mental de socá-lo assim que tiver a chance. Xingo um palavrão ao verificar as correntes em meus pulsos, presas a um pequeno gancho na parede. Forço o metal, o puxando com o máximo de força que tenho no momento, odiando como a coisa permanece fixa. Tento alcançar a pequena lâmina presa ao meu cinto, apenas para constatar que ela foi retirada de mim.

Merda. Suspiro, derrotada.

—  Pode pelo menos me dizer onde eu estou?

— Dentro das dependências do palácio imperial — O garoto responde, olhando para mim como se a minha mera presença o incomodasse. — Sou Peter, a propósito.

Não é como se eu tivesse perguntado o nome dele, mas engulo a má resposta. Esse tal de Peter é a minha única fonte de informação disponível e parece não me tratar como prisioneira, apesar de também não parecer morrer de amores por mim.

— Sou Juliet. Estamos no Império do Fogo, certo? — Continuo o interrogatório. Sei que Anabele planejava me enviar para lá, então é a opção mais lógica.

Ele assente positivamente.

Penso por um segundo em minhas opções. Sair daqui é só uma questão de tempo, mas talvez não seja exatamente uma boa ideia. Não sei o que estou fazendo neste lugar ou se ficar é mais seguro do que voltar para casa. Meu último encontro com Anabele é uma névoa confusa em minha mente e eu não consigo me lembrar exatamente do que aconteceu, apesar de ter certeza que ela não espera que eu retorne, a não ser que isso a beneficie de alguma maneira. Meu rosto ainda dói onde eu fui marcada com as suas garras como um pequeno lembrete: Comporte-se.

O som metálico da porta se abrindo me tira de meus pensamentos, e meus olhos se ajustam lentamente à figura que entra. Ele é alto e forte como uma muralha. Uma barba densa e bem cuidada contorna seu rosto, acentuando a mandíbula robusta. Seu cabelo é escuro, cortado de maneira prática, e ele veste preto da cabeça aos pés. Seu olhar cruza o meu, e cada instinto de sobrevivência dentro de mim entra em estado de alerta.

Se eu não estivesse ferrada, diria que ele é atraente.

Peter finalmente sai da cama mas não reparo exatamente no que ele está fazendo porque não consigo deixar de encarar a ameaça diante de mim.

— Jake, acho que nós devíamos...

— Levante-se — Ele ordena com uma voz fria, como se estivesse acostumado a comandar. Tudo em sua expressão e postura diz que eu deveria fazer o que ele diz se sei o que é melhor para mim. 

Eu o ignoro deliberadamente, relaxando contra a parede. Espero que a expressão em meu rosto esteja entregando a mensagem: Vai se foder.

— Jake, você prometeu que não faria... — Peter tenta novamente, colocando-se entre ele e mim mas é interrompido por algo que poderia ser descrito por um sorriso, mas parece mais com uma ameaça.

Lionheart - Livro IWhere stories live. Discover now