Capítulo VII

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O quarto de Peter, onde ele realmente dorme, é três vezes maior do que o meu. Encaro boquiaberta o luxo, enquanto me afundo no colchão macio da sua cama ridiculamente espaçosa. Os lençóis sedosos parecem abraçar a minha pele, me convidando para a melhor soneca da minha vida. Lustres cintilantes pendem do teto alto, espalhando uma luz suave e dourada pelo ambiente. O chão é revestido por um tapete espesso e felpudo e à minha frente, uma enorme janela em arco permite a entrada de uma brisa fresca e a vista de jardins bem cuidados que se estendem até onde a vista alcança.

— Posso passar a dormir aqui com você? Para te proteger durante a noite, quero dizer.

— Claro que não — Ele se deita ao meu lado da cama, encarando o teto — Esse quarto é muito longe da área dos cadetes, de todo jeito. É mais prático dormir em um dos quartos dos dormitórios.

Até parece. Se eu tivesse uma cama assim, pagaria para não sair dela.

Nós ficamos em silêncio por alguns minutos até eu decidir perguntar o óbvio.

— Você é filho do Imperador, certo?

Peter confirma com um aceno de cabeça, ainda encarando o teto. Ele parece estranhamente mal humorado, como se o assunto o incomodasse.

— E o que o filho do Imperador está fazendo brincando de soldado? Você devia estar dando ordens descabidas em cima de uma pilha de ouro ou algo assim, e não aceitando provocações de imbecis como Grant — Insisto.

— É pessoal — Peter dá de ombros — Onde você aprendeu a brigar daquele jeito?

Eu não deixo de notar que ele está claramente mudando de assunto, mas deixo para lá. Irritar Peter não é uma ideia inteligente, não quando ele é minha melhor fonte de informações sobre Jake e o Império, além de filho do homem que é o responsável por eu ainda não estar morta.

— A cabeça dele é dura e oca, não foi tão difícil assim.

— Impressionante — Ele finalmente sorri — Pode me ensinar alguns golpes depois?

— Claro — Respondo. Honestamente, se ele me pedisse para degolar Grant na frente de todo mundo, eu faria sem pensar duas vezes. Peter é um príncipe e a chave para eu me livrar de Jake, caso tudo dê certo. Eu só preciso fazer com que ele confie mais em mim no que naquele babaca arrogante.

Nós passamos o resto do dia deitados na cama, jogando jogos de tabuleiro e comendo refeições trazidas por empregados sorridentes e prestativos. Eu nunca havia comido as sobremesas de nomes complicados tão deliciosas antes, e Peter parece se divertir ao me ver experimentando cada uma delas, incapaz de decidir qual é a minha favorita. À medida que a tarde avança para a noite, nós ficamos mais relaxados e sonolentos.

Quando a escuridão do lado de fora começa a envolver o quarto, eu me lembro que preciso ir embora. Eu preciso encontrar Jake e rezar para que ele me dê o meu soro sem muitos problemas. Levanto-me da cama, esticando os músculos após tantas horas de conforto, e me viro para Peter, que está quase dormindo ao meu lado.

— Acho que preciso ir. Obrigada por hoje, Peter. Foi divertido — Eu sorrio, embora uma dor já familiar comece a se formar em meu peito. Merda.

— Espera, deixa eu ir com você. Quero te mostrar onde fica a biblioteca.

— Eu prefiro que você me mostre onde eu posso tomar um banho.

Enquanto caminhamos, Peter gesticula para as dependências que eu sou autorizada a frequentar, com uma breve descrição sobre elas (tecnicamente o quarto dele é uma zona proibida). Quando finalmente chegamos ao meu destino, eu me despeço rapidamente, aliviada por finalmente estar sozinha. Desmaiar ou vomitar na frente de outras pessoas é algo que eu prefiro evitar, caso tenha escolha, e as chances de ambas acontecerem parecem enormes no momento.

Lionheart - Livro IWhere stories live. Discover now